Questionado se a pandemia da Covid-19 tem efeitos sobre as alterações climáticas, Miguel Bastos Araújo, diretor do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid e cientista especializado no impacto das alterações climáticas e biodiversidade, em entrevista ao Negócios, acredita que “o que faz falta são mudanças estruturais na forma como nos organizamos”. No entanto, o responsável destaca que “a pandemia tem acelerado o uso de tecnologias digitais que podem contribuir para reduzir a pegada ecológica de algumas atividades humanas”, mas “ainda é cedo para extrair conclusões definitivas mas é possível que traga consigo algumas oportunidade de futuro”. Acredita também o responsável que “é possível que a perceção pública sobre a urgência das reformas de sustentabilidade ambiental seja reforçada com esta crise. Mas também é possível que ocorra exatamente o contrário e que a urgência de uma retoma económica leve os agentes económicos a usar velhas receitas”.
Quanto à urgência de recuperar a economia e aos impactos climáticos, o entrevistado indica que “temos dois cenários possíveis. O cenário de Angela Merkel, que não vamos parar com o New Deal, com o caminho para a economia verde, em que a opção é que, se vai haver endividamento, se faça já para reforçar a competitividade europeia para o futuro. E um cenário menos ilustrado, que é temos um problema económico e vamos injetar dinheiro de qualquer maneira, um cenário Trump, se quisermos batizá-lo. E se isso for feito, está a tirar-se fôlego aos planos que existiam para a criação de uma economia verde”.
O responsável considera também que “a taxa de carbono sobre importações é uma forma de trazer racionalidade a algumas decisões de deslocalização industrial e de comercialização de produtos agrícolas”.