“Quatro pessoas consomem, em média, um litro de óleo alimentar por semana, o suficiente para poluir cerca de um milhão de litros de água”. Os dados da Agência Portuguesa do Ambiente, citados pela Associação de Bioenergia Avançada (ABA), pretendem alertar – no Dia Mundial da Água – para a importância da recolha de óleos alimentares usados na preservação da qualidade dos recursos hídricos, cada vez mais escassos.
“Quando falamos em água e na sua preservação, por vezes não consideramos aquela que é uma das principais ameaças à sua qualidade: a gordura. Todos na escola aprendemos que as gorduras e a água não se misturam, mas nem sempre nos explicam o que fazer ao óleo de uma lata de conserva que abrimos, ao azeite que fica no fundo da taça depois de comermos uma salada, entre outros exemplos. Por isso, há ainda um longo caminho a percorrer no sentido de introduzir estes hábitos de reciclagem dos óleos alimentares usados desde cedo, visto que, apesar de serem gestos pequenos, têm um enorme impacto na preservação da qualidade dos recursos hídricos”, declara Ana Calhôa, secretária-geral da ABA.
Das centenas de milhares de toneladas de óleo alimentar que circulam no mercado todos os anos, estima-se, de acordo com a ABA, que apenas “alguns milhares sejam recolhidos e corretamente encaminhados para a produção de novos produtos, como biocombustíveis de resíduos e outros avançados”, que podem depois ser utilizados para substituir, em parte, os produtos petrolíferos nos combustíveis.
“Ao recolher o óleo alimentar usado e ao depositá-lo nos oleões disponíveis um pouco por todo o país, temos um triplo impacto positivo. Não só estamos a prevenir que este contamine os cursos de água, mas também a possibilitar a produção de uma energia renovável amiga do ambiente e a evitar a emissão de cerca de 14 toneladas de gases de efeito de estufa para a atmosfera”, explica a responsável.
São considerados óleos alimentares usados todos os que utilizamos na cozinha, quer seja azeite, óleo de girassol, de soja, de palma ou de colza, desde que depois de utilizados em frituras ou consumo de conservas, por exemplo. De Norte a Sul do país já é possível encontrar mais de dois mil oleões disponibilizados pelos recolhedores de resíduos, tais como EcoMovimento, EGI e Reciclimpa, e nos postos de abastecimento PRIO.
Para Ana Calhôa, “este hábito deve ser tão natural para as próximas gerações como, atualmente, o é o de fazer a separação e reciclagem do papel, do vidro e do plástico. É fundamental consciencializar a sociedade para o facto de que pequenas ações diárias, como recolher o óleo alimentar para uma garrafa e depositá-la num oleão, têm a capacidade de ajudar a preservar a qualidade da água e contribuir para a produção de energias renováveis. A escassez de água é já um problema de hoje e, por isso, é impossível não compreendermos a urgência de agir de imediato”.
Segundo as Nações Unidas, um ser humano precisa de 110 litros de água por dia para satisfazer as suas necessidades básicas. De acordo com a ABA, ao evitar a contaminação de um milhão de litros de água, possibilitar-se-ia a satisfação das necessidades básicas de uma pessoa durante cerca de 24 anos.