RECAPS: A união faz a força pela recolha e reciclagem de cápsulas de café

Pela primeira vez, seis empresas concorrentes no mercado português do café formam uma sociedade para a recolha e reciclagem de cápsulas de café – a RECAPS, que junta assim a Delta Cafés, José Maria Vieira, Massimo Zanetti, Nestlé Portugal, NewCoffee e UCC. Cláudia Pimentel, porta-voz desta sociedade conta um pouco sobre este projeto à Ambiente Magazine.

Qual o significado de empresas concorrentes no mercado de café se unirem em sociedade para a recolha e reciclagem de cápsulas?

Cláudia Pimentel, RECAPS

O fluxo de cápsulas de café não é obrigatório por lei, daí as entidades gestoras de resíduos não terem um papel ativo neste fluxo. No entanto, os produtores de cápsulas estão conscientes da sua responsabilidade ambiental e reconhecem a necessidade de um sistema dedicado e especializado para dar uma nova vida às suas cápsulas de café. Isto significa que as empresas puseram o consumidor e o ambiente acima dos seus interesses individuais.

Justamente porque reconhecem essa necessidade, o projeto RECAPS surge como uma iniciativa pioneira no setor, um compromisso proativo, das empresas Delta Cafés, José Maria Vieira, Massimo Zanetti, Nestlé Portugal, NewCoffee e UCC, que garante que as cápsulas recebam um tratamento adequado, com a separação e valorização dos seus componentes (materiais plásticos, alumínio e borras de café), resultando numa solução mais eficaz e sustentável.

Como é que funciona esta sociedade?

A RECAPS funciona em cooperação com os municípios. Na prática, a recolha das cápsulas é efetuada individualmente por cada município através da colocação de diversos pontos de recolha junto da população. Posteriormente as cápsulas são armazenadas numa empresa municipal de resíduos ou no próprio município e são depois recolhidas pelo reciclador parceiro da RECAPS que procede à separação dos resíduos (borra, plástico e alumínio).

A localização dos pontos de recolha de cápsulas tem sido definida pelos municípios que aderem ao projeto e tira partido da localização dos ecopontos já existentes (móveis ou fixos), otimizando os circuitos já testados de recolha e transporte. Nalguns casos, como Guimarães, o município promoveu com os retalhistas que operam localmente a criação de novos pontos de recolha adicionais aos anteriormente referidos, para além de colocar pontos de recolha nas juntas de freguesia e outros edifícios municipais.

Neste momento, o sistema está já implementado em 13 municípios – Almada, Aveiro, Braga, Cascais, Cantanhede, Condeixa, Famalicão, Guimarães, Lisboa, Mafra, Moita, Oeiras e Seixal -, e conta com cerca de 200 pontos de recolha, entre ecopontos fixos e móveis e capsulões. Até ao final de 2024 iremos atingir um total de 16 municípios e em 2025 o objetivo é ter “Capsulões” em mais 20 municípios, atingindo um total de 36. Para isso, a RECAPS está a procurar sensibilizar cada vez mais municípios para aderirem a este projeto, com o objetivo de assegurar a circularidade de todas as cápsulas de café vendidas em Portugal.

Como é que este desafio chega aos consumidores?

Os consumidores podem participar ativamente na reciclagem das cápsulas de café através da RECAPS ao recolherem as suas cápsulas usadas e depositando-as nos pontos de recolha, nos ecocentros fixos ou móveis ou nos designados como “Capsulões”, instalados pelas autarquias aderentes. Podem localizar o ponto de recolha mais próximo através do site da RECAPS ou consultando informações municipais locais. Ao realizarem este simples gesto, os consumidores desempenham um papel crucial no processo de reciclagem, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e apoiando o esforço coletivo para reduzir os resíduos.

Por outro lado, a nossa iniciativa prioriza a educação e procuramos contribuir para a mobilização dos consumidores através de campanhas de sensibilização, promovendo hábitos de consumo responsáveis e encorajando a participação ativa nos esforços de reciclagem.

Capsulões

Qual o papel dos municípios nesta iniciativa?

Os municípios desempenham um papel crucial na implementação dos pontos de recolha. São os municípios que promovem o acesso da população aos pontos de recolha. Também são as autarquias locais que são responsáveis pela logística local da recolha e armazenamento das cápsulas, que são posteriormente enviadas para os recicladores parceiros.

Que destino têm as cápsulas? Podem ser transformadas?

Sim, podem e é essa uma das nossas intenções: aproveitar os materiais resultantes do tratamento das cápsulas para fazer novos produtos. As cápsulas recolhidas são enviadas para entidades recicladoras especializadas como a Bio4plás e a Saica. Durante o processo, os três componentes principais — plástico, alumínio e borra de café — são separados. O plástico poderá ser aproveitado para fazer produtos não alimentares como por exemplo mesas, cadeiras de esplanada, porta guardanapos, caixotes de lixo, pentes. O alumínio poderá ser usado para estruturas metálicas diversas, tais como a estrutura metálica da cafeteira de prensa francesa, bacias metálicas, canetas, entre outros utensílios.

Quem são as entidades responsáveis pela recolha?

A recolha é uma responsabilidade partilhada entre os municípios, que organizam a recolha inicial, e os parceiros recicladores da RECAPS, que processam as cápsulas. Atualmente, empresas como Bio4plás e Saica estão encarregues do tratamento dos materiais para garantir que cada componente seja reciclado adequadamente.

Quais as expectativas/objetivos a médio prazo para esta iniciativa?

O objetivo é expandir o número de pontos de recolha para que até 2025 a RECAPS cubra mais 20 novos municípios, atingindo assim um total de 36 municípios, aumentando a acessibilidade à reciclagem de cápsulas em todo o país. Naturalmente que há o objetivo diário de chegar o mais longe possível nas parcerias. Sabemos que temos 308 Municípios e que gostaríamos que a presença de pontos de recolha fosse concreta em todos eles, mas sabemos que temos de implementar o projeto de uma forma estruturada, dando tempo aos diversos municípios para se prepararem, sendo que os mesmos têm, neste momento, no topo da agenda a imposição legal de tratar dos resíduos orgânicos.