O eurodeputado centrista e caçador Nuno Melo criticou a “rapaziada do PAN” que prefere ver cães apurados durante séculos para a caça “criados dentro de um apartamento, onde sofrem, do que livres num monte a exercer a sua vocação”, avançou recentemente a Lusa.
Nuno Melo foi um dos oradores no 25.º Encontro Nacional de Caçadores, que decorreu no Centro Nacional de Exposições, em Santarém, na presença do ministro da Agricultura, dominado pelas críticas às propostas do PAN (Pessoas – Animais – Natureza) e do Bloco de Esquerda (BE) para alterar o regime jurídico da caça, com discussão agendada para terça-feira no parlamento, consideradas um “ataque” ao mundo rural.
“O BE e o PAN têm um projeto para acabar com a possibilidade de usar cães na caça e para reduzir o número de dias de caça, porque parece que isso é antigo. Se há coisa que me faz feliz é pegar no meu cão e percorrer terras, do Alentejo a Trás-os-Montes, atrás de uma perdiz, que é livre”, afirmou “Para essa esquerda, pelos vistos, manadas ou varas criadas sem ver a luz, que caminham disciplinadamente para um matadouro, é uma afirmação de civilização. Animais que são caçados, estão livres, têm uma hipótese de fuga – depende do engenho do caçador e da capacidade dos cães – são um problema. E eles é que se dizem amigos dos animais”, afirmou.
Para Nuno Melo, o que está em causa neste debate é um “modo de vida” ancestral que tem que ser defendido, pela importância que tem para a preservação das próprias espécies, pelo ordenamento do território, pelas dimensões sociais e económica, advertindo que se a caça for proibida “alguma coisa de muito má irá acontecer”.
Sublinhando que o deputado do PAN cumpre o papel para o qual foi eleito, Nuno Melo reivindicou que, tal como André Silva deve ter direito “a só comer alface de manhã à noite”, também ele deve ter direito a comer “perdiz de escabeche quando possa”, de preferência caçada por si. “Já que tanto se fala de liberdade, liberdade também é isto”, declarou.
A tónica do seu discurso dominou igualmente as intervenções dos dirigentes da Federação Portuguesa de Caça (Fencaça) e dos deputados Nuno Serra (PSD, vice-presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura) e Patrícia Fonseca (CDS), com Joaquim Barreto (PS), presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura, a afirmar que, embora respeite a posição de todos os deputados que integram a comissão, reconhece no setor da caça, que considerou parte da identidade do povo, um contributo para a biodiversidade e o desenvolvimento económico do país.
Nuno Serra questionou “como alguém que vive num andar (…) e tem 75 mil votos – menos do que o número de licenças de caça – ousa atacar um fator elementar do mundo rural”.
Patrícia Fonseca apelidou o PAN (Pessoas-Animais-Natureza) de “mais partido dos Animais e da Natureza – e mesmo assim não percebe muito de natureza -”, pelos “ataques reiterados a tudo o que são atividades do mundo rural”, prometendo, no debate de terça-feira, defender o setor e criticar projetos que classificou de, “além de juridicamente mal feitos”, serem “até politicamente desonestos”.
Também o ex-ministro da Agricultura e do Ambiente e atual vice-presidente da Fencaça, Arlindo Cunha, criticou os “discursos anti-caça”, que classificou de “superficiais”, ao reduzirem a caça apenas ao ato de matar um animal, esquecendo “tudo o que envolve em termos de proteção da natureza, biodiversidade e, sobretudo o cuidar do mundo rural”, numa sociedade cada vez mais urbanizada.
O presidente da Fencaça, Jacinto Amaro, pediu aos deputados para que na terça-feira rejeitem todas as propostas do PAN e do BE para que estas não baixem à especialidade, evitando que os defensores destas medidas “ganhem alguma coisa”. “Tudo o que ganharem será seguramente contra nós”, afirmou.
Jacinto Amaro lamentou que sejam dados ouvidos a caçadores que se representam apenas a si próprios e que parecem desconhecer a realidade, dando como exemplo as referências ao regime ordenado, “que praticamente já não existe”. Apontou ainda a proibição do uso de veneno para matar predadores, referida pelo PAN, que, assegurou, “está mais que proibido”.