A Quercus vê com apreensão a demolição das três torres do bairro do Aleixo no Porto, com início previsto para esta semana. Apesar do presidente da Câmara Municipal do Porto ter revelado que estas três torres não serão implodidas como aconteceu em 2011 e 2013, não foi revelado qual o projeto de “desconstrução” que estará associado a esta demolição, adianta a associação. E recorda que a demolição tradicional, recorrendo a meios mecânicos, embora seja ambientalmente menos impactante que a implosão, não trará os benefícios ambientais associados a uma demolição seletiva que tenha como fim último o reaproveitamento dos materiais em bom estado.
As torres agora a desconstruir no bairro do Aleixo no Porto são de 1976, aparentemente e pelas imagens que vão sendo veiculadas, têm grandes quantidades de materiais, que uma vez resíduos de construção e demolição – RCD, poderão entrar no ciclo de economia circular do setor da construção, ou como materiais a serem usados em 2ª mão, ou como matérias primas secundárias, podendo ser valorizadas e reintroduzidas em novos processos produtivos. Os RCD apresentam índices de reciclabilidade que variam entre os 80 a 98%, sendo dos fluxos de resíduos com maior produção em Portugal e igualmente o com maior capacidade de recuperação e valorização, o que levou à criação do Protocolo Europeu para a Gestão dos Resíduos de Construção e Demolição.
Para além de que, qualquer obra desta natureza obriga a um plano de prevenção de resíduos de construção e demolição (PPGRCD) a ser assegurado pelo dono de obra e que permite desde logo que haja uma triagem de todos os resíduos gerados.
Se, partindo deste pressuposto, o edifício for desconstruído tendo em conta as melhores práticas ambientais, sociais e económicas, prevendo à partida: i) a seleção de todos os materiais passíveis de serem reutilizados tal qual estão, e.g. elevadores, sanitários, torneiras, etc. ii) encaminhando os que podem ser reintroduzidos em novos processos produtivos, e.g. madeiras, gesso, etc.; iii) descontaminando o edifício adequadamente; e só encaminhando para aterro aqueles que não são valorizáveis, terá com certeza benefícios a vários níveis, confirmam os ambientalistas, em nota de imprensa.
A Quercus considera esta demolição mais um bom exemplo do que podem vir a ser boas práticas na demolição de edifícios, à semelhança do estudo que tem vindo a realizar em parceria com o Portal da Construção Sustentável sobre o conhecido prédio Coutinho em Viana do Castelo, de onde já pode concluir que o aproveitamento de materiais de construção reutilizáveis/recicláveis, ronda uma percentagem de 90%. E que permite uma poupança direta no mínimo de 20% do valor total associado à gestão de resíduos, percentagem esta que poderá aumentar com a separação dos materiais em obra e a atribuição de valores de contrapartida a estes materiais – como as portas em madeira ou os materiais em metal.
Só implementado estas técnicas Portugal poderá aproximar-se das metas europeias, onde já se incorporam em obra, materiais reutilizados/reciclados, em taxas superiores a 70% e 90% (Alemanha e Dinamarca respetivamente). Em Portugal, apenas é obrigatório incorporar até 5% de materiais reciclados em obras públicas. Por outro lado, convém lembrar que Portugal terá de cumprir até 2020 a preparação em obra de até 70% de RCD, para reutilização e reciclagem.
A Quercus disponibilizou-se, em carta enviada ao presidente da Câmara Municipal do Porto, para auxiliar no trabalho de demolição, na expectativa de que este possa vir a ser um projeto-piloto de boas práticas ambientais, repercutíveis em outros municípios.