No rumo a uma transição energética que se pretende “rápida e eficaz”, tornam-se evidentes os entraves e as barreiras que impossibilitam que os avanços e os investimentos necessários para uma série de infraestruturas novas. Esta é uma das conclusões que se pode tirar das intervenções de vários especialistas que falavam, recentemente, na “Conferência Smart Growth: O papel da Economia Circular”, promovida pela Associação Smart Waste Portugal, em parceria com a Fundação de Serralves. “Novos Modelos de Negócio Rumo à Circularidade” foi o tema do primeiro debate que juntou Teresa Abecasis, membro do Conselho Executivo da Galp, Catarina Dias, gerente de sustentabilidade da TMG Automotive, Sandra Santos, CEO da BA Glass, Hernâni Magalhães, administrador da Silvex, Rui Correia, CEO da Sonae Arauco e Anselmo Vilardebó, administrador da Seda, International Packaging Group. Ana Isabel Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, foi a moderadora.
A simplificação de processos de licenciamento que implicam novas tecnologias ou já estabelecidas é algo que os especialistas têm vindo a apelar constantemente: “Estamos muito ativos no investimento em energias renováveis, mas temos dificuldades em fazer os projetos verem a luz do dia à velocidade que deveriam ver e, isto tem um impacto imediato nos objetivos de descarbonização”, reclama Teresa Abecasis. A outra proposta recai na importância de se agilizar processos: “Há muita coisa que nos vai permitir descarbonizar e que ainda não foi inventado”, declara a responsável.
Corroborando a importância da “simplificação de licenciamentos”, Catarina Dias chama também a atenção para uma “maior transparência” dos operadores de resíduos: “Entregamos os nossos resíduos para serem tratados por operadores certificados e nem sempre temos garantias do que acontece de facto aos resíduos”, alerta.
Já Sandra Santos parece não ter dúvidas de que a “redução em aterro” só vai acontecer quando o cidadão pagar pelos resíduos que gera: “Pagamos as taxas do consumo doméstico de água, mas não é o real pagamento dos resíduos que são gerados para aterro”. E, enquanto não houver uma “separação clara” entre os que geram resíduos para reciclagem (fazem a separação efetiva) e aqueles que geram para aterro ou com menos possibilidade de reciclagem vai ser difícil ter uma economia verdadeiramente circular. Dando o exemplo de países que já taxam os cidadãos por não reciclar os produtos possíveis de separar, a CEO da BA Glass é perentória: “É preciso deixar de cobrar de uma forma, mas passar a cobrar de uma forma mais efetiva e, assim, alterar os comportamentos dos cidadãos”.
A falta de métricas é algo que Hernâni Magalhães lamenta: “Se não conseguimos medir e se não soubermos onde estamos, não vamos ter dados que nos permitam avançar”. Este é um dos “maiores problemas” a nível nacional: “não conseguimos ter dados que nos permitam depois saber onde estamos e permitir comparar” e para onde temos de ir”. Aliás: “Não acredito nos dados que temos e acho que temos uma taxa de circularidade maior do que aquilo que que é registado
Para além da proposta de “estimular a circularidade da madeira” de uma forma significativa, Rui Correia deixou bem presente a sua posição sobre a antecipação da proibição em aterro, tal como já existe em vários países: “Tal, removeria o aparecimento de operadores de recolha seletiva e, ao mesmo tempo, encontrar um fim para aquele material dando-lhe um uso”. No fundo, é a criação de um “instrumento fiscal” que permita regular o acesso à matéria-prima”, sustenta.
A proposta de Anselmo Vilardebó passa por: “Pensar em tudo o que são resíduos colocados no contentor azul e garantir que esse material acabe por ser reciclado internamente”. Esta proposta, assegura o responsável, faria com que Portugal reduzisse as emissões de CO2: “O mais incrível é que, no país, existe tecnologia que consegue reciclar todo o tipo de material de papel colocado no ecoponto azul – 100% papel ou papel com polímeros – e, além de reciclar, consegue ter níveis de recuperação de fibra extremamente elevados, a rondar os 85%”.