No Fórum de Sustentabilidade da Navigator Company discutiram-se soluções empresariais para uma sociedade de baixo carbono, através do testemunho de alguns dos maiores exemplos nacionais de “sustentabilidade económica”: Sonae, Delta Cafés, Vitacress e Navigator.
Sonae, sustentabilidade e desperdício alimentar
O tema da sustentabilidade na Sonae não é um “tema de modas, está nos nossos valores”, adianta Isabel Barros, CHRO & administradora executiva da Sonae MC. Há cerca de 25 anos a Sonae, em conjunto com outras entidades, fundou o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD) e realiza um Fórum de Ambiente.
Mais tarde, surgiu a necessidade de desenvolver um Grupo Consultivo da Sustentabilidade, presidido também por Isabel, que reúne as várias empresas dos diversos setores do Grupo, que devem cumprir princípios comuns em cinco eixos de atuação: CO2 e Alterações Climáticas, Natureza e Biodiversidade, Plásticos, Responsabilidade Social e Desenvolvimento Inclusivo.
O Continente é uma das grandes marcas da Sonae MC e, como tal, o desperdício alimentar é um tema importante para o Grupo. Isabel Barros recorda de 1/3 da produção alimentar é desperdiçada pelo que a Sonae criou o projeto “Transformar.te” para dar uma “segunda oportunidade ao desperdício”, através do modo como embala, transporta e armazena os seus produtos, aumentando o seu ciclo de vida.
Outros mecanismos de combate ao desperdício é uma nova campanha do a “favor das bananas” que se retira de um cacho e que ficam ao “abandono”. Nas lojas do Continente vamos encontrar mensagens do género “levem-me, estou sozinha”. Um fornecedor pegou em 800 mil bananas maduras e utilizou-as para criar um novo produto, o Panana, bolo feito de banana; há também o breadbeer, cerveja feita a partir de restos de pão, e o novo Veggie Burguer, um hambúrguer há base de vegetais.
A responsável de sustentabilidade observa que no setor do retalho existe todo um conjunto de questões de saúde, higiene e segurança alimentar a ter em atenção e que critica-se o plástico mas que “ainda não conhecemos outro material, em alguns casos, melhor para securizar o embalamento e o transporte dos alimentos”. Nestes casos, o que se pode fazer é reduzir gramagens de plástico de determinadas embalagens e a Sonae espera até 2025 ter todas as embalagens recicláveis e compostáveis.
Delta Cafés, biocápsula e cogumelos a partir da borra
A Delta Cafés, pertencente ao Grupo Nabeiro, apresentou recentemente a sua biocápsula, a ser lançada até ao final do ano, e o objetivo é que até 2025 a marca de cafés consiga ter 100% do seu produto em cápsula biológica. Rui Miguel Nabeiro, CEO da Delta Cafés, conta que foi “à procura daquele seria realmente o nosso bioplástico” e chegou-se a a um composto apenas por ingredientes naturais: cana de açúcar, mandioca e milho.
No entanto, apesar de amiga do ambiente a biocápsula apresenta uma validade reduzida (entre três a quatro meses) e Rui Nabeiro comenta que “quando queremos trabalhar com materiais que não são como o plástico, que nos dá garantias de validade e segurança alimentar, há um sacrifício que vamos ter que fazer mas penso que estamos disponíveis para isso”.
A Delta associou-se ainda à startup NÃM, num projeto de economia circular, que procura produzir cogumelos a partir das borras de café. A empresa irá recolher a borra junto dos seus clientes, retirar-lhe os nutrientes e transformá-la num resíduo para dar origem a cogumelos. O CEO da Delta Cafés conclui que “todos estes projetos de sustentabilidade não são um sacrifício” na medida em que têm “valor económico”.
Vitacress, agricultura biológica e microalgas
Em relação à Vitacress, o CEO Luís Mesquita Dias reflete que não é difícil ter preocupação ambiental quando “a maior parte da área em que operamos é um Parque Natural [do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina]”, em Odemira, com a “dificuldade que é co-paginar uma produção agrícola intensiva com as limitações naturais”. Por outro lado, o desafio torna-se uma oportunidade pois “é um local perfeito para fazermos alguma coisa significativa nesta área”, da qual 10% é reservada à biodiversidade e outros 10% – que em breve somarão 20% – dizem respeito à agricultura biológica.
Luís Mesquita Dias explica que os consumidores procuram cada vez mais o biológico no entanto as terras demoram, entre dois a três anos, a estar prontas para esse tipo de produção, razão pela qual a Vitacress teve de “importar algum produto biológico para satisfazer as necessidades” dos consumidores. A empresa procura agora ser capaz de produzir a totalidade do biológico.
A Vitacress está envolvida num projeto de produção de biomassa a partir de microalgas, cujo alimento preferido (responde a 50% das suas necessidades) é o CO2. O CEO acredita que as microalgas “vão constituir no futuro, cada vez mais, uma fonte de absorção de dióxido de carbono muito significativa”. A biomassa resultante do projeto é utilizada na alimentação, na cosmética, e no caso da empresa como fertilizante biológico.
O desperdício alimentar também acontece na agricultura e motivos para que aconteça são o facto de ser uma atividade que está dependente do clima, ou seja “basta que determinada semana tenha uma temperatura diferente para que todos os cálculos que fizemos, das quantidades a semear, saírem furados”, argumenta o responsável, adicionando o curto período de vida útil dos produtos hortícolas e a questão de “durante anos produzirmos sem ter as encomendas finais”, o que se resolve com a antecipação cada vez maior das encomendas.
Navigator, preocupação com a floresta
“A sustentabilidade traz vantagem competitiva”, faz notar Nuno Santos, administrador executivo da Navigator, pelo que “queremos que esta questão da redução de CO2 esteja associada a reduções de custos e de eficiência e ganhos para todos”. Desta forma, a Navigator mantém um “compromisso significativo com a energia renovável”, que hoje representa 68% mas que a marca pretende que chegue aos 100%, o que pode provar pelo recente investimento de 50 milhões de euros na instalação de uma central de biomassa na Figueira da Foz.
Quanto à floresta, o principal ativo da Navigator, Nuno Santos esclarece que “quanto mais consumo de papel existir mais floresta existe” uma vez que “a floresta que a indústria do papel utiliza, cultiva, promove e desenvolve, é a floresta necessária – e gerida de forma sustentável – para alimentar as necessidades de papel”. A Navigator quer, então, “mais floresta, mais área e plantar mais” sendo que o aumento da produtividade traduzir-se-á em “mais árvores, mais madeira e maior fixação de carbono”.
A preocupação com a floresta, a fonte de rendimento do seu negócio, levou a Navigator a reunir um conjunto de sapadores, na designada Afocelca, cuja intervenção é cerca de 85% das vezes concretizada em incêndios fora das florestas plantadas da empresa.
Isabel Barros, premiada pelo WBCSD
Isabel Barros, presidente do Grupo Consultivo de Sustentabilidade da Sonae, foi a única portuguesa eleita e a vencedora da categoria Excelência nos “Leading Women Awards” do World Business Council for Sustainable Develpment (WBCSD), que visam reconhecer as lideranças femininas que mais contribuem para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) entre as 200 empresas suas associadas.