“Protocolo de Quioto era um acordo de ricos”

“Nenhum Estado resolve sozinho, é por isso, da maior importância chegar ao maior número de pessoas”. É nestes termos que João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente, coloca o acordo de Paris, alcançado em dezembro de 2015, e que tem como objetivo assegurar que o aumento da temperatura média global fique abaixo dos 2ºC, prosseguindo-se o esforço para que se limite até apenas 1,5ºC.

O ministro do Ambiente falava ontem, dia 23 de novembro, na 1ª edição da iniciativa Green Talks, organizada pela Associação de Estudantes do ISCTE, que dinamizou um dia dedicado à problemática das alterações climáticas.

Como abertura para uma mesa de discussão que se seguiu, João Pedro Matos Fernandes considerou que as alterações climáticas têm hoje uma dimensão similar ao terrorismo e à crise dos refugiados na Europa.

Neste sentido, e perante uma plateia maioritariamente estudantil, o governante aproveitou para realçar o facto desta não ser apenas “uma questão ambiental, mas também uma questão transgeracional”.

“O problema é já hoje. Nós estamos a discutir se daqui a 100 anos conseguimos ter liberdade para podermos fazer opções de vida, para podermos decidir onde queremos viver. Senão mudarmos de rumo e alterarmos o paradigma não vamos mesmo ter liberdade para fazer essas opções”, acrescentou.

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Para além disso, e olhando para o fenómeno a que já se assiste atualmente dos “refugiados do clima”, João Pedro Matos Fernandes alertou para a “gravidade social” desse problema que “provavelmente não conhecemos desde a Revolução Industrial”.

Tal como referiu, até ao acordo de Paris falava-se de mitigação, “agora fala-se em adaptação” e que mesmo que não sendo consensual, no seu entender o problema está muito presente e é preciso saber viver a par desta condição.

Por outro lado, o Ministro considerou ontem que “Paris foi um momento fantástico” e que é “um verdadeiro exercício multilateral”, ao contrário do Protocolo de Quioto, que classificou como sendo um “acordo de ricos”. Ainda assim, o governante alerta que o somatório do que já foi alcançado “não resulta”, visto que ficaríamos nos 3ºC de aumento de temperatura.

Ainda assim, e em relação a Portugal, João Pedro Matos Fernandes declarou que está “é uma área onde Portugal se pode orgulhar do caminho que faz” e que os “compromissos setoriais” pretendem uma redução de 30% das emissões até 2020.

Por fim, o Ministro do Ambiente aproveitou ainda para falar da COP 22, que decorreu este mês em Marraquexe, Marrocos, que considerou como um evento “de passagem” e que muitas questões ainda estão em aberto sobretudo com o “sobressalto” da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos (EUA). Sobre a posição do próximo presidente dos EUA, o ministro deixou no entanto um aviso imperativo: “o que aconteceu já não tem regresso. Já não há disponibilidade para voltar atrás”.