Nasceu em 2019 com o objetivo de colmatar os efeitos deixados pelos incêndios em Monchique. O projeto Renature expande-se agora ao pinhal de Leiria com o mesmo objetivo: restaurar a área, apoiar os proprietários e combater as alterações climáticas, após o incêndio de 2017 que devastou grande parte da Mata.
O GEOTA (Grupo de Estudos de de Ordenamento do Território e Ambiente), coordenador do projeto, escolheu o dia 26 de março, data que marca a “Hora do Planeta” para inaugurar oficialmente a iniciativa: “Não podia estar mais alinhado: é uma altura especial e por ter este fator muito forte de sensibilização e de incentivo à ação, no que toca ao aquecimento global e, consequentemente, às alterações climáticas”. Esta data, tal como explica Miguel Jerónimo, coordenador do Renature Monchique e Renature Leiria, marca ainda o “fim da primeira época de plantação”, pois o projeto Renature Leiria teve o seu início em janeiro: “Desde essa altura que o GEOTA já tem equipas no terreno”.
À Ambiente Magazine, o também membro da Direção do GEOTA, refere que a ideia será “plantar 650 mil árvores, ao longo de 700 hectares, até 2025”, tendo sempre em conta objetivos anuais: “Desde o início do ano, já foram plantadas 50 mil árvores. A partir de outubro, retomaremos a ação de reflorestação, que será realizada até março, e plantaremos 200 mil árvores, ou seja, entre o outono e o inverno, que são as alturas ideais para avançar com as ações de reflorestação”. Durante o resto do ano, serão realizadas “ações de gestão”, como por exemplo, “limpeza de matos” e “ações de monitorização das plantações”, que têm também “uma grande importância no alcance dos nossos objetivos”, acrescenta.
Tal como o Renature Monchique, também o de Leiria, nasce para “recuperar o rastro de destruição” deixado pelos incêndios que alastraram na zona: “O objetivo sempre foi criar uma floresta mais bem preparada para futuros incidentes, tanto originados pelas alterações climáticas como pelo Homem, através da reflorestação com espécies autóctones”. Face à quantidade de incêndios que têm assolado as paisagens portuguesas, também os terrenos dos proprietários ficam destruídos, sendo que ambos os projetos têm como objetivo adicional ajudar estes proprietários: “Em Leiria temos um contexto diferente de Monchique visto que a propriedade é do Estado e não privada”. Ainda assim, o GEOTA consegue assegurar que o “Pinhal de Leiria” tem um “lugar especial na vida da comunidade local” sendo usado, por exemplo, para caminhadas, passeios e pic-nics: “Ao estarmos a contribuir para a recuperação desta área estamos também a fazê-lo para que ela possa novamente desempenhar um papel importante na vida da comunidade”. Por isso, “plantar as espécies certas”, tendo sempre em conta “o clima e as condições biogeográficas dos locais” em que atuam, é possível ajudar a “criar uma defesa aos fogos”, bem como “recuperar o bem-estar e a qualidade de vida dos proprietários”, refere Miguel Jerónimo.
[blockquote style=”1″]”… a comunidade local se envolve de forma muito entusiasmada com o projeto, e mostra vontade de ajudar a fazer renascer as regiões”[/blockquote]
O contributo do Renature Leiria no combate às alterações climáticas é dado através da “plantação de espécies autóctones”, ou seja, “ecologicamente” adaptadas aos terrenos: “Estamos principalmente a plantar pinheiro-bravo, com um mix de pinheiro-manso, medronheiro e sobreiro”. Esta decisão tem que ver com a análise feita pelo GEOTA, em parceria com o ICNF, no terreno, estudando quais as “melhores opções” para tornar o Pinhal de Leiria mais resiliente. Por isso, a “plantação de espécies autóctones” é uma aposta que contribui, assertivamente, para o combate às alterações climáticas: “Conseguimos conservar o solo, desenvolver a biodiversidade, apoiar a regulação do ciclo hídrico e a criação de um reservatório de carbono e, por fim, reduzir o risco de futuros fogos”. Toda a estratégia pretende ser “o mais sustentável possível” e, por isso, o “respeito pelos ecossistemas da Mata Nacional de Leiria” é uma prioridade, sucinta.
Para além do impacto ambiental, o Renature Leiria apoia a região ao nível social e económico. Na dimensão social, o GEOTA está e continuará a fazer um trabalho contínuo de aproximação e sensibilização da população: “A experiência que tivemos com o Renature Monchique mostrou-nos que a comunidade local se envolve de forma muito entusiasmada com o projeto, e mostra vontade de ajudar a fazer renascer as regiões”. No caso do Renature Leiria, a estratégia será a mesma, “dinamizando a relação com a população” e, consequentemente, contribuir para a dimensão económica: “Tentamos, em todas as oportunidades possíveis, contratar pessoas locais e adquirir na região os materiais a utilizar, estimulando assim a economia local e regional”.
[blockquote style=”1″]”Achamos que ao nível do Fundo Ambiental estes projetos deveriam ser apoiados porque estão a fazer exatamente o que está previsto nas orientações que surgiram após os incêndios de 2017″[/blockquote]
Agora com o Renature Monchique e Leiria já no terreno, o GEOTA quer continuar a expandir ao máximo o projeto: “Por todo o país, vão acontecendo incêndios e a nossa missão é restaurar as florestas dizimadas pelos efeitos deixados pelos fogos, sempre numa perspetiva muito sustentável”. O trabalho assenta, desta forma, em encontrar “novos parceiros e financiadores” para que se possa expandir esta ação: “Achamos que ao nível do Fundo Ambiental estes projetos deveriam ser apoiados porque estão a fazer exatamente o que está previsto nas orientações que surgiram após os incêndios de 2017”. Miguel Jerónimo lembra que não é só o GEOTA a trabalhar no terreno: “Um pouco por todo o país várias associações trabalham diariamente para que a floresta autóctone possa recuperar em áreas que infelizmente são ciclicamente afetadas por incêndios complementando assim a ação do Estado”.
Em jeito de alerta, o responsável lembra que “sem florestas, não existe vida”, sendo de “extrema importância protegê-las”. É com base nesta premissa que o projeto Renature tem vindo a fazer “renascer as regiões mais afetadas pelos incêndios”, através da reflorestação sustentável: “Apelamos a toda a sociedade que se junte às nossas ações de voluntariado de plantação e que ajude a devolver o verde às paisagens portuguesas”. Dada a importância social, económica e ambiental, as paisagens afirmam-se, hoje, como patrimónios naturais a conservar: “Através deste tipo de iniciativas, é possível restaurar aquilo que outrora ficou perdido, contribuindo para o bem-estar e qualidade de vida”.
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