Projeto que observa algas nas praias portuguesas já começa a obter resultados
Pelo terceiro ano consecutivo, investigadores do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) e da Universidade do Algarve apelam à colaboração dos cidadãos na identificação de grandes acumulações de algas no mar ou nas praias da costa portuguesa, incluindo as ilhas. Embora sejam necessários mais dados para validar as observações, os resultados até agora obtidos já permitiram perceber melhor estes fenómenos e investigar potenciais utilizações e vias de valorização destas algas.
“Desde o seu lançamento, no final de julho de 2021, temos tido uma boa adesão por parte dos cidadãos e dos profissionais das praias com o envio de 167 registos, em 2021, e 161 em 2022”, refere Dina Simes, investigadora do CCMAR. As análises destes registos, feitas pelo biólogo marinho Rui Santos, investigador no CCMAR, permitiram identificar três zonas distintas de acumulações de macroalgas na costa do Algarve.
Na zona mais rochosa do Barlavento registaram-se em 2021, e com maior incidência em 2022, grandes acumulações de Rugulopteryx okamurae, uma espécie de alga castanha originária dos mares do Japão e Coreia. Na zona mais central do Algarve, entre Albufeira e Faro, registaram-se grandes acumulações da alga vermelha Asparagopsis armata que tem origem nas águas da Austrália. Estas acumulações tiveram maior expressão em 2021 do que em 2022. Na zona da costa do Sotavento algarvio foram recebidos vários registos de grandes acumulações de uma espécie que é nativa da nossa costa, a Ulva sp, principalmente em 2021 com diminuição em 2022.
Segundo os investigadores, “apesar de os nutrientes serem geralmente a principal causa do crescimento excessivo das algas, os resultados obtidos até agora não mostram uma correlação significativa entre a concentração de nutrientes na água e a ocorrência destas acumulações. Por outro lado, “observou-se uma relação significativa com outros parâmetros ambientais, nomeadamente a temperatura e o vento”. As acumulações das espécies Asparagopsis armata, nas praias de Quarteira-Faro, e Ulva spp., no Sotavento, estão relacionadas com os ventos de norte e noroeste, enquanto que as acumulações de Rugulopterix okamurae, nas praias do Barlavento, estão mais relacionadas com uma maior temperatura da água.
Em relação ao impacto na biodiversidade e na estrutura das comunidades, o programa de ciência cidadã “Algas na Praia” não permitiu avaliar o impacto dos grandes desenvolvimentos de espécies de algas, mas permitiu identificar que há três espécies que aparecem em grandes quantidades nas praias de todo o Algarve. Duas são espécies exóticas invasoras, Asparagopsis armata e Rugulopteryx okamurae.
Até agora, explicam os investigadores, “os resultados sugerem que o aumento da temperatura do mar pode favorecer o grande desenvolvimento e acumulação da alga castanha exótica Rugulopterix okamurae, enquanto o vento do quadrante Norte pode ser um fator chave para o desenvolvimento de espécies nativas das algas verdes Ulva spp. e da alga vermelha exótica Asparagopsis armata”. Porém, “será preciso investigar com maior detalhe a importância destes e de outros fatores, como as correntes”.
“O estudo de extratos e compostos purificados, obtidos a partir da biomassa destas algas invasoras, permitiu já identificar espécies, contendo um elevado teor de compostos anti-inflamatórios e antioxidantes, incluindo vitaminas como a K, que têm um efeito preventivo no desenvolvimento de doenças crónicas inflamatórias que afetam a população mais envelhecida, como é o caso da doença cardiovascular, a doença pulmonar crónica e a osteoartrite”.
A plataforma “Algas na Praia” irá continuar, tendo como principais objetivos não só a monitorização e identificação de fenómenos de grandes acumulações de algas na água e nas praias, mas também a promoção de estudos de valorização desta biomassa através de produtos de elevado valor para a indústria farmacêutica, nutracêutica ou cosmética, como também para outros tipos de indústria, como a agrícola, pecuária e ambiental.