Projeto-piloto vai a casa dos cidadãos para ajudar no combate à pobreza energética
Está em marcha um projeto-piloto que ajuda a combater a pobreza energética através de formação gratuita com equipas no terreno a promover visitas domiciliárias gratuitas (Apoiantes e Mentores) ou a gerir espaços de atendimento público (Mentores) em Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Associação de Moradores e IPSS.
Chama-se POWERPOOR e é um projeto europeu H2020, de três anos, composto por um consórcio de 11 países. Destes, 8 são países-piloto, onde se inclui Portugal, representado pela Coopérnico.
“É piloto porque é a primeira vez que se está a implementar uma abordagem de baixo para cima, em que desenvolvemos os nossos trabalhos desde as visitas domiciliárias com os agregados familiares, envolvimento com as Instituições ou elaboração do Roteiro Nacional de combate à pobreza energética, indo até ao topo, que culmina em recomendações à União Europeia”, explica Catarina Pereira, gestora de projetos da Coopérnico, em declarações à Ambiente Magazine.
De acordo com a investigadora, qualquer pessoa com mais de 20 anos pode receber a formação de Apoiantes e Mentores de Energia (A&M) e, após um momento de avaliação dos conhecimentos receberá a sua certificação e passará, assim, a fazer parte da rede que, à escala europeia, pretende atingir os 1.100 A&M: “A rede deveria ser constituída por técnicos de Instituições sediadas no território, que conhecem as suas comunidades, partem de uma posição privilegiada e, com facilidade, selecionam as famílias mais vulneráveis ou em situação de vulnerabilidade para prestar o apoio previsto no projeto, mas, na realidade, a maior parte dos nossos A&M são pessoas que voluntariamente desempenham a atividade, não havendo requisitos específicos, apenas um bom entendimento do projeto e seus objetivos e vontade de promover a literacia energética”, explica.
Após o processo de certificação, a abordagem procede-se através da promoção de ações junto dos cooperadores, com as “visitas domiciliárias a serem divulgados nos boletins informativos, na Internet e redes sociais”, refere a responsável, destacando o apoio dos membros que constituem o Grupo de Ligação de Partes Interessadas (Stakeholder Liaison Group). Além disso, as visitas são divulgadas em eventos públicos onde a Coopérnico participa: “Abrimos inclusive (na Coopérnico) um Gabinete de Apoio Local Energético POWERPOOR e comunicámo-lo junto das Juntas de Freguesia de Lisboa”, exemplifica. A aposta também é forte em “sessões informativas”, como “Aula Aberta em Universidades Séniores” ou a convite de “Grupos Comunitários de bairros de Lisboa”, como o caso de Marvila: “As pessoas não nos procuram porque não conhecem o fenómeno pelo termo Pobreza Energética, que atualmente não tem uma definição consensual entre os países da UE e, portanto, as pessoas não se identificam”, atenta. Nesta abordagem, refere Catarina Pereira, “não existem mecanismos para identificar as pessoas”, mas sim “aliados”, como “as IPSS, os Departamentos de Ação Social de uma Câmara Municipal ou Junta de Freguesia, uma Cáritas, a Santa Casa ou mesmo a DECO, com quem vamos protocolar uma parceria em breve”.
“… observamos a qualidade das janelas e, nesse momento, relembramos os apoios que estão a decorrer como o Vale Eficiência e Casa+Sustentáveis”
Sobre o trabalho que é feito para melhorar a eficiência energética, a coordenadora do projeto refere que o A&M que desenvolve uma visita começa por solicitar a análise para recolha de dados das faturas de energia: “Nesse momento, há várias questões que podem ser abordadas, tais como se tem consumos que se coadunam com a constituição do agregado familiar, a potência contratada é adequada ou não, explica-se a informação contida na fatura, que tarifas existem (simples, bi-horária e tri-horária), entre outros”. São também “observados os eletrodomésticos que existem em casa, perguntamos como os utilizam e a importância da sua manutenção, que há alguns que não necessitam estar 24h/24h ligados e que, para tal, podem e devem usar um programador automático de ficha, para o caso de terem por exemplo um termoacumulador para aquecimento das águas, falamos sobre a etiqueta energética e o seu significado, verificamos se já utilizam lâmpadas de tecnologia LED, extensões elétricas com botão de ligar/desligar e os benefícios que a sua utilização pode trazer”, exemplifica. Depois, é feita uma abordagem à casa em si: “Perguntamos se sente frio no inverno e/ou calor no verão, que aparelhos utilizam para climatizar, observamos a qualidade das janelas e, nesse momento, relembramos os apoios que estão a decorrer como o Vale Eficiência e Casa+Sustentáveis (podendo haver lugar a apoiar a candidatura), falamos na importância de calafetar portas e janelas, abrir dispositivos de oclusão dos vãos envidraçados no inverno para deixar entrar o sol e proteger no verão para não provocar sobreaquecimento e, ainda, sobre o isolamento térmico da envolvente física da casa”.
De seguida, e na possibilidade de existir um “computador e acesso à internet”, é possível recorrer às ferramentas POWERPOOR, construídas no âmbito do projeto e acessíveis gratuitamente a todos, que indica a vulnerabilidade energética da família (POWER-TARGET) e sugere alterações comportamentais no uso da energia e medidas de melhoria de eficiência energética, de baixo custo (POWERPOOR-ACT): “Se no momento não existirem condições, poderemos levantar esses dados, fazer as ferramentas posteriormente e enviar os resultados à família ou cidadão visitada/o”, indica.
Por último, “deixamos o documento Dicas e Truques elaborado pelo consórcio, traduzido para todas as línguas dos países-piloto, e tentamos ao máximo responder a todas as questões que nos forem sendo colocadas”, sucinta.
“… o objetivo é estabelecer uma Aliança POWERPOOR (…) para assegurar a continuidade do mesmo para além da sua vigência”
O projeto contribui para melhorar a eficiência energética, até porque passa informação às pessoas de como podem tornar a casa mais confortável e que apoios estão disponíveis para as ajudar: “Abordamos as características das janelas eficientes, isolamento térmico nas paredes, o cuidado na ventilação de espaços húmidos como são as casas de banho, procuramos saber se há bolor, qual a causa e possível solução para eliminar. Levamos e falamos sobre várias dicas e truques para poupar energia e consumi-la melhor”, reforça.
Sobre os “efeitos imediatos” do projeto, a coordenadora dá como exemplo a avaliação que pode ser feita a uma arca congeladora antiga, cujas borrachas vedantes já não selam o exterior do interior: “Ensinamos como procurar a comercializadora de energia que está a oferecer melhores preços no mercado com o recurso do simulador da ERSE ou o portal Poupa Energia, aconselhamos a não deixar eletrodomésticos em modo de espera”. Já nos efeitos a “longo-prazo” poderá ser “a substituição das janelas por umas mais eficientes, a colocação de ar condicionado como sistema de climatização eficiente, mas antes deverá acautelar o isolamento térmico das paredes, etc”, remata.
O projeto arrancou em setembro de 2020 e termina no próximo mês de agosto, mas o objetivo da Coopérnico é estabelecer uma Aliança POWERPOOR entre os parceiros do projeto e várias partes interessadas para assegurar a continuidade para além da sua vigência.