Acelerar a transição energética e garantir a sustentabilidade e resiliência dos edifícios europeus é o grande objetivo do projeto da União Europeia Matrycs. Em Portugal, coordenado pela Coopérnico (Cooperativa de Energias Renováveis), o projeto de cariz europeu ambiciona estabelecer as melhores práticas para a digitalização do setor energético, criar novos serviços para melhorar a eficiência energética dos edifícios europeus e testar ferramentas inovadoras em 11 projetos pilotos de diferentes países da União Europeia. Além de Portugal, o projeto Matrycs envolve parceiros em Itália, Espanha, Grécia, Alemanha, Eslovénia, Polónia, Letónia, Bélgica e República Checa.
A Coopérnico, enquanto coordenadora, vai lançar um “projeto piloto” no final de 2021: “Vai envolver 850 cidadãos no desenvolvimento de soluções direcionadas em facilitar a instalação de sistemas de produção fotovoltaica, em reduzir os consumos energéticos e encontrar sinergias entre membros de comunidades locais”, adianta Ana Rita Antunes, coordenadora executiva da Coopérnico, em entrevista à Ambiente Magazine.
De acordo com a responsável, a “descentralização do sistema energético”, em conjunto com os “avanços na implementação de equipamentos de medição distribuídos”, cria uma “significativa quantidade de dados” que ainda não é suficientemente analisada. E entre as maiores barreiras, “a falta de interoperabilidade entre as fontes de dados estáticas e dinâmicas, a ausência de automação nos prédios e falta de arquitecturas de dados interoperáveis dificultam a exploração do potencial destes dados”. Por esta razão, o Matrycs ambiciona “padronizar os processos de aquisição e análise desta grande quantidade de dados sobre os consumos energéticos dos edifícios”, a fim de “facilitar a criação de serviços que permitam aumentar a eficiência energética do parque edificado europeu”, precisa.
Relativamente ao projeto-piloto português, Ana Rita Antunes refere que se vai centrar principalmente nos “cidadãos”, nos “pequenos consumidores” e nos “prosumidores”. Numa fase inicial, com o apoio dos parceiros da Coopérnico, serão analisados “os dados das habitações e edifícios dos participantes voluntários”, no sentido de tentar “desenvolver serviços” que possam “facilitar a instalação de novos sistemas de produção fotovoltaica, melhorar a operação e manutenção de instalações já existente e, até, otimizar recursos energéticos articulando melhor a produção e consumo local”. Para além dos “prosumidores”, a Coopérnico vai também tentar explorar “outras soluções” que possam ajudar todos os cidadãos a “identificar medidas” para reduzir os seus consumos e “ferramentas” que possam “ajudar autarquias a identificar potenciais consumidores em situações de pobreza energética”.
[blockquote style=”2″]Os dados e ferramentas digitais são só uma das componentes das medidas de eficiência energética[/blockquote]
Sobre o estado atual do edificado em Portugal, Ana Rita Antunes considera que o maior desafio está ligado ao parque edificado antigo com significativa necessidade de renovação: “Aqui, encontra-se a maior parte da necessidade e dos consumos para aquecimento e arrefecimento”. E a introdução das “novas tecnologias”, como os “contadores inteligentes a nível capilar (até consumidores Baixa Tensão Normal (BTN)”, será o “primeiro passo” para poder “identificar e atuar com vista à eficiência energética onde mais é preciso”, defende.
À questão sobre como é que o edificado em Portugal pode ser eficiente, a coordenadora executiva da Coopérnico destaca como solução a “medição de consumos e outros dados dos edifícios”, permitindo “identificar mais rapidamente as medidas com maior potencial de redução dos consumos”. Uma vez que as soluções são implementadas, as ferramentas digitais permitem “quantificar os impactos” e “otimizar a utilização” dos equipamentos instalados nos edifícios. “Mas, para obter um significativo aumento de eficiência energética, serão necessários significativos investimentos por parte dos cidadãos, empresas e do Estado: os dados e ferramentas digitais são só uma das componentes de desenvolvimento de medidas de eficiência energética”, declara.
Olhando para as oportunidades, Ana Rita Antunes constata a necessidade de serem criadas “boas normas”, no sentido de se “partilhar dados pessoais” que possam ser utilizados para o “desenvolvimento de serviços de eficiência energética”, com vista à “redução dos consumos energéticos e impacto ambiental durante o tempo de vida útil dos edifícios”.
Como é que perspetiva o edificado daqui a 10 anos?
Contamos que, daqui a 10 anos, o edificado seja caracterizado por edifícios “inteligentes”, capazes de diagnosticar como podiam melhorar a própria eficiência energética, tendo em conta os outros recursos energéticos (como a produção renovável local), além dos recursos internos
O Matrycs é financiado pela Comissão Europeia, através do programa Horizonte 2020, em 4,5 milhões de euros e com duração prevista de três anos.