Projeto FIREPOCTEP da Universidade de Évora quer minimizar o risco e a severidade dos incêndios florestais
A Universidade de Évora (UÉ) vai reforçar os sistemas transfronteiriços de prevenção e extinção de incêndios florestais e identificar as zonas estratégicas de gestão para minimizar o risco e a severidade destes incêndios através da gestão agro-silvo-pastoril. Ao abordar aspetos relacionados com a adaptação às alterações climáticas através da prevenção e gestão da paisagem suscetível a grandes incêndios pretende-se ainda adaptar os recursos para gerar empregos rurais no pós-Covid-19, refere um comunicado.
Que impactes podem resultar das alterações climáticas na Península Ibérica nas próximas décadas? Quais as áreas mais propensas à ocorrência de grandes incêndios rurais? De que forma estes eventos extremos afetam as comunidades locais? Estas são algumas das questões a que os investigadores da Universidade de Évora querem responder no âmbito do projeto FIREPOCTEP recentemente aprovado e financiado pelo programa INTERREG.
Coordenado por Rui Salgado, investigador do Instituto Ciências da Terra da Universidade de Évora, a equipa de investigadores envolvidos neste projeto recorrerem a projeções climáticas obtidas através do Couple Model Inter-Comparison Project (CMIP5), da análise de dados do European Forest Fire Information System (EFFIS), e dos índices de perigosidade de incêndio rural calculados pelo Global ECMWF Fire Forecasting model (GEFF).
Surante o projeto os investigadores pretendem ainda “formalizar conhecimento sobre a diversidade microbiana dos solos afetados pelos fogos ocorridos durante o período de maior severidade meteorológica e pelas queimas prescritas, de modo a constituir-se como bioindicador do efeito do fogo no solo”, refere a UÉ, precisando que “o fogo prescrito é uma das soluções mais eficazes a curto prazo para a redução do combustível existente na paisagem”.
No entanto, existem muitas dificuldades dos operacionais na implementação desta técnica e falta de confiança na sua aplicação. Assim, defende a UÉ, “estudar o impacto do fogo prescrito nos sistemas ecológicos e, particularmente, o impacto sobre a componente microbiológica do solo (diversidade microbiana), assim como comparar estes resultados com os obtidos em incêndios ocorridos em pleno verão, é essencial para a avaliação desta solução e para ajustar as janelas de prescrição”.
Através da seleção de áreas recentemente queimadas e do uso de inovadoras ferramentas moleculares que permitem a caracterização dos perfis filogenéticos de bactérias e fungos nas zonas selecionadas, e através do sequenciamento massivo (Next Generation Sequencing “NGS”), serão determinadas ainda as correlações entre a diversidade microbiana e parâmetros físicos e químicos dos solos estudados. As sequências do NGS serão depositadas nas bases de dados internacionais do National Center for Biotechnology Information.
A par da investigação científica a produzir, o projeto aposta ainda na “formação e sensibilização da população rural” através de “cursos de formação e de cooperação entre todos os agentes envolvidos no sistema de prevenção e supressão de fogos rurais” no sentido de “ampliar a capacitação da população e potenciar as sinergias criadas, assim como na formalização de um espaço de encontro entre universidades, investigadores e outros especialistas possam colaborar e impulsionar projetos comuns”, refere o mesmo comunicado.
Segundo a UÉ, o FIREPOCTEP pretende ainda “capacitar” e “dotar de materiais” os agentes operativos para “facilitar a intervenção em ambos os lados da fronteira e desenvolver um sistema de acreditação para a formação dos dispositivos que normalize procedimentos de segurança pós-covid-19”.
Este é um projeto de colaboração transfronteiriça entre Portugal e Espanha para fortalecer os sistemas comuns de prevenção e extinção de incêndios rurais e para melhorar os recursos para a criação de emprego em espaço rural pós COVID-19 contando a UÉ com um orçamento que ascende a 126.900€ sendo a contribuição do FEDER de 95.175€.
A equipa de investigação Universidade de Évora integra professores e investigadores do Instituto de Ciências da Terra (ICT), Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED), Laboratório HERCULES e Centro de Investigação em Matemática e Aplicações (CIMA).
A aprovação deste projeto vem dar força à aposta que a Universidade de Évora está a fazer nesta importante área de investigação, somando-se a outros projetos em curso, 3 deles financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, ao Centro Ibérico de Investigação e Combate aos Incêndios Florestais (CILIFO) que tem um pólo na Universidade de Évora financiado pelo Interreg POCTEP e à contratação de recursos humanos altamente qualificados.