São amplamente reconhecidas as limitações dos recursos hídricos no Alentejo, uma das regiões do país com o “mais baixo índice de precipitação” e uma das “mais afetadas por eventos extremos de ondas de calor”, onde os “desafios da gestão da água e de adaptação às alterações climáticas são mais críticos”. Por isso, encontrar respostas a estas limitações e aos desafios da região, relativamente a escassez de matéria orgânica nos solos, é fundamental e cria oportunidades de aposta em abordagens de economia circular.O AQUA VIN pode ser uma dessas respostas. Trata-se de um projeto que surgiu de uma parceria firmada recentemente entre a AdP VALOR, empresa do Grupo AdP (Águas de Portugal) e a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), com vista à promoção de ações concertadas entre os serviços de abastecimento de água e saneamento de águas residuais e a atividade vitivinícola para responder às alterações climáticas no Alentejo, promovendo o combate à desertificação do território e a economia circular.
À Ambiente Magazine, Simone Pio, vice-presidente da AgdA (Águas Públicas do Alentejo), empresa líder no consórcio do projeto, explica que o AQUA VIN visa, essencialmente, a “promoção da produção e utilização de água para reutilização (ApR) na atividade vitivinícola na região do Alentejo”, mais especificamente na “vinha produzida na Herdade da Ravasqueira”, gerida pela Sociedade Agrícola D. Diniz, S.A: “A ApR será produzida na ETAR de Arraiolos Poente, infraestrutura explorada e gerida pela AgdA”.
O projeto tem duração de 11 meses, acompanhando, dessa forma, a campanha de rega a realizar este ano: “Pretende contribuir para o aumento do conhecimento técnico sobre a reutilização de água na atividade de regadio, os efeitos desta aplicação no desenvolvimento das culturas irrigadas e o impacto nos recetores ambientais, solo e recursos hídricos, bem como nos sistemas de rega”, explica. De acordo com a engenheira, este projeto vai permitir também a “avaliação do eventual impacto da ApR na qualidade da água da charca usada para a rega da vinha e da eficácia das barreiras naturais existentes”, bem como a “possibilidade de regar diretamente com ApR uma parcela da vinha”.
Relativamente às mais-valias do projeto no combate à desertificação e economia circular, Simone Pio explica que a resposta está na “solução de tratamento que utiliza biomateriais resultantes da atividade agrícola da região como meios filtrantes para a produção de ApR”, cuja utilização contribui também para a “prossecução dos objetivos de desenvolvimento sustentável”, concorrendo para o “uso eficiente da água e para a gestão integrada dos recursos hídricos” ao usar “origens de água alternativas, e mais sustentáveis, de diferentes qualidades em função das exigências de cada uso não potável”. Desta forma, “preservam-se as reservas naturais estratégicas de água (superficiais e subterrâneas) que são essenciais para a produção de água para consumo humano”, explica.
À questão sobre como é que o AQUA VIN vai conseguir reutilizar a água na atividade de regadio, a vice-presidente da AgdA refere que o “esquema de reutilização inclui a produção de ApR na ETAR de Arraiolos Poente” e o “seu encaminhamento para reforçar o volume de água existente na charca, atualmente assegurado apenas com água pluvial, para responder às necessidades atuais da vinha a regar”. Assim, a metodologia adotada no desenvolvimento do presente projeto permitiu que a “reutilização da água seja realizada de forma segura e adaptada ao uso concreto”, assente numa “avaliação do risco, e garantindo”, por isso, uma “relação custo-eficácia equilibrada e competitiva (abordagem fit-for-purpose”), adianta.
Com um investimento global de 175 mil euros, financiado pelo Fundo Ambiental, o AQUA VIN arrancou em março e foi já definida a solução técnica para a produção e o fornecimento de ApR, estando, atualmente, a ser implementada a solução na ETAR de Arraiolos Poente para que seja possível ter ApR disponível para a campanha de rega ainda este ano.
O consórcio responsável pelo projeto integra a AgdA, a AdP VALOR, a CVRA, o Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio (COTR) e os produtores do Monte da Ravasqueira. O Grupo Águas de Portugal integra o projeto através das empresas AgdA e AdP VALOR. Para além de coordenar o projeto, a AgdA é, simultaneamente, a entidade gestora responsável pela exploração e gestão da ETAR de Arraiolos Poente, onde será produzida a ApR, sendo que a AdP VALOR é responsável pela avaliação do risco e conceção da solução de tratamento de água, pelo acompanhamento operacional do sistema de produção de ApR e pela avaliação do impacto da ApR na charca de água e na cultura regada. Já a CVRA é o membro do consórcio responsável pela promoção e comunicação do projeto junto do setor agrícola.
[blockquote style=”3″]O que desejam para o futuro?[/blockquote]
Desejamos que as sinergias entre setores utilizadores de água com vista a uma gestão integrada dos recursos hídricos e as soluções de economia circular nos permitam mitigar os efeitos das alterações climáticas e construir um futuro mais sustentável, inteligente e eficiente