Um projeto de adaptação às alterações climáticas da Câmara Municipal de Almada espera angariar financiamento junto de fundos mundiais na Cimeira do Clima (COP21) e ser replicado noutros locais, explicou à agência Lusa, em Paris, uma das responsáveis do projeto. O MultiAdapt foi apresentado como um projeto inovador de regulação de cheias, amenização microclimática e promoção da segurança alimentar, no Pavilhão das Cidades e Regiões da COP 21, no âmbito do Programa das Ações Transformadoras da organização mundial “Governos Locais pela Sustentabilidade” (ICLEI).
“Este é um projeto que tem um orçamento global de 440 mil euros. Aquilo que nós assumimos é que o esforço do município seria de 50% e a nossa expetativa é que os outros 50% possam ser disponibilizados por estas instituições”, explicou Catarina Freitas, diretora do Departamento de Energia, Clima, Ambiente e Mobilidade da Câmara de Almada.
A responsável sublinhou que além do “prestígio” internacional que constitui a presença do projeto municipal num evento mundial das Nações Unidas, a “perspetiva é angariar esta verba adicional” no chamado “MarketPlace”, esta semana, em que “vão estar o Banco Mundial, o Banco Europeu de Investimento e várias entidades desses fundos mundiais”.
Gino Van Begin, secretário-geral do ICLEI, o organismo que selecionou as 20 cidades com projetos inovadores para estarem presentes na COP 21, refere que Almada foi uma das escolhidas porque “este é um projeto muito inovador em que os cidadãos são convidados a participar e são ativamente implicados”.
O conceito do projeto MultiAdapt contempla a criação de quatro “hortas urbanas” – a primeira devendo ser inaugurada em março de 2016 – que funcionam como baías de retenção, ajudam a restaurar as linhas de água e contribuem para melhorar a segurança alimentar de Almada.
Catarina Freitas apresentou o projeto como sendo de “baixo custo, flexível e que pode ser muito eficaz na adaptação às alterações climáticas”, com “um impacto direto e muito positivo junto da comunidade”, nomeadamente junto dos mais pobres, com a atribuição das hortas “para famílias que tenham rendimento social de inserção e em situação económica mais negativa”.
“As hortas e a agricultura urbana podem promover a atividade física, a atividade de lazer, a socialização e a criação de laços de vizinhança entre os hortelões, mas também são uma fonte de rendimento alternativa. Temos que ter presente que o nosso país tem, neste momento, níveis de pobreza que são gritantes: dois milhões de pobres que estão em todas as cidades”, justificou.
O projeto vai contemplar, numa primeira fase, 100 mil metros quadrados, em que 75 mil serão dedicados à agricultura, com 360 talhões de hortas que podem “beneficiar 360 famílias que se podem tornar novos produtores locais de vegetais e alimentos frescos”, o que “representa uma média de 300 toneladas de vegetais frescos que vão ser produzidas anualmente.”
“Se nós vamos ter maior produção local, nós vamos diminuir a pegada energética e carbónica associada ao transporte desses alimentos. Aqui, estimamos que vamos mitigar cerca de 400 toneladas de CO2 por ano”, continuou, depois de sublinhar que os terrenos escolhidos tinham “problemas de erosão do solo, estrangulamento na estrutura ecológica municipal, linhas de água parcialmente artificializadas, áreas agrícolas abandonadas e problemas de ilha de calor”.