O Movimento Juntos Pelo Cercal do Alentejo critica o anúncio que a Aquila Clean Energy fez na semana passada ao garantir que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) deu “luz verde” ao processo para construção da central fotovoltaica do Cercal e que as obras estariam assim em condições de avançar.
Segundo o Movimento, esta tal “luz verde” é dada sobre um projeto, que já não é o mesmo que beneficiou de uma apreciação favorável, embora condicionada, por parte da APA: “É sim um projeto reformulado, que ninguém conhece, com exceção do promotor e da própria APA”.
Numa “aparente tentativa de dar resposta” ao que a Aquila considera serem os “problemas do projeto inicial”, o novo projeto, de acordo com este Movimento, é anunciado como “estando distante de qualquer habitação no mínimo de 250 metros em algumas zonas, 500 metros noutras”, que “não será cortada uma única árvore (quando no anterior projeto eram abatidas centenas de árvores)”, que pelo contrário “serão plantadas seis mil árvores”. Acresce ainda o “investimento de 164 milhões que envolve o projeto” faz crer que é “estratégico” para o país, lê-se num comunicado divulgado pelo Movimento.
Sem prejuízo de conhecerem as alterações que terão sido implementadas ao projeto inicial, o Movimento Juntos Pelo Cercal considera que este comunicado não é mais do que “atirar areia para os olhos” a todos aqueles que se deixarem enganar.
“Como se os problemas que este projeto comporta se resumissem ao afastamento das casas e ao abate de árvores. Infelizmente os problemas que este projeto comporta são muito maiores e vão muito para além dos apontados”, alerta o Movimento.
Dos vários “problemas que ficarão por resolver”, o Movimento Juntos Pelo Cercal do Alentejo lembra que “parte substancial do projeto não teve avaliação de impacto ambiental”, designadamente a “avaliação de impacto ambiental sobre a desflorestação que vai ocorrer”, bem como o facto de no “processo não constar o necessário parecer favorável da reserva agrícola nacional”. Outro aspeto é o “uso do solo” que vai ser “completamente alterado” e o “processo de erosão, que já está em curso, irá transformar-se num processo de desertificação que em algumas partes do Alentejo já avança a passos largos”, refere o Movimento, destacando, também, que a “biodiversidade vai ser afetada”, especialmente nas “20 espécies de anfíbios, avifauna e mamíferos presentes na zona com estatuto de vulnerável”.
No entender deste Movimento, a Aquila não acautela nenhum destes aspetos, nem oferece soluções para os inúmeros prejuízos que vai causar às organizações turísticas locais: “É legítimo questionar porque é que a APA não exigiu estas alterações ao projeto antes de conceder ao projeto uma declaração de impacto favorável, ainda que condicionado”.
O Movimento Juntos Pelo Cercal continua a acreditar que “o projeto da Aquila Clean Energy vai prejudicar fortemente a comunidade do Cercal”, porque contribui para a “desertificação da região” e coloca em causa o “futuro desta e das próximas gerações”.