“Da próxima vez que ouvir o canto de uma cigarra, faça um registo áudio ou vídeo e partilhe-o connosco, juntamente com a localização GPS, na plataforma Biodiversity4All. Esse registo, vai ajudar-nos a criar um mapa atualizado da distribuição geográfica destas espécies, entre elas a cigarra mais ameaçada do país”. Este apelo é feito, em comunicado, pela equipa do projeto “Cigarras de Portugal” do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c), na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Foi no verão de 2019 que esta equipa lançou o primeiro desafio aos portugueses: gravar o canto das cigarras que ouvissem no seu dia-a-dia ou em férias e partilhar com estes cientistas. De acordo com a equipa, é nesta estação quente que as cigarras emergem do solo, onde passam anos em desenvolvimento. “Os machos cantam incessantemente durante as curtas semanas de vida adulta que lhes restam para atrair as fêmeas para o acasalamento. E é através deste canto que é possível mapear onde vivem, pois o canto é específico de cada espécie”, precisa a nota.
Paula Simões, investigadora e responsável pelo projeto, refere que “em 2019, recebemos centenas de observações, mas poucas das espécies menos conhecidas”.
Em 2021, o projeto “Cigarras de Portugal” quer descobrir em particular onde se encontram algumas das espécies mais raras e que se encontram ativas sobretudo em junho e julho – entre elas a cigarra-verde-do-Alentejo (Euryphara contentei), a cigarra mais ameaçada do país. “É a cigarra mais pequena conhecida em Portugal – em média, tem apenas 17 milímetros de comprimento – e canta em vegetação baixa, nalguns casos limitada a estreitas faixas de vegetação ao longo da estrada”, refere o mesmo comunicado, dando nota que, “as poucas populações conhecidas desta espécie encontram-se na região do Alentejo, em particular perto de Beja e Estremoz”.
Segundo a investigadora Vera Nunes, que também faz parte do projeto, “quando em 2019 visitámos os poucos locais onde existe esta cigarra, percebemos que os números eram extremamente reduzidos. Em 2020não houve registos desta espécie por conta da pandemia, mas em junho de 2021 regressámos aos locais e registámos uma melhoria importante. Agora queremos perceber se estas flutuações são cíclicas e se estão ou não associadas a variações climáticas ou mudanças no habitat”.
Outro exemplo é o cegarregão-abelhudo (Hilaphura varipes): também uma espécie rara em Portugal, da qual existem alguns registos não só no Alentejo, mas também em Lisboa e no Algarve, e que os cientistas procuram localizar através desta campanha.
De acordo com a equipa, monitorizar as cigarras não é uma tarefa fácil: “Para além da escassez de recursos humanos, acresce a dificuldade de o trabalho de campo se concentrar nos poucos meses em que as cigarras emitem o seu canto, entre junho e agosto – mas junho é um mês que pode ainda apresentar dias chuvosos e frescos, em que as cigarras permanecem silenciosas”. Este ano, as dificuldades são acrescidas pelas restrições de circulação necessárias devido ao evoluir da pandemia, que coincidem agora com a época de atividade das cigarras: “O contributo de todos é assim essencial para ultrapassar estas dificuldades”, atentam as investigadoras.
“Estamos também a procurar estabelecer parcerias com associações locais para promover o conhecimento sobre as cigarras e a estabelecer redes de cidadãos conhecedores que possam garantir a monitorização anual das populações de cigarra”, refere Paula Simões, acrescentando que “será também lançado um concurso de fotografia para promover as espécies e premiar os melhores registos, sobre o qual será em breve disponibilizada mais informação”.
Os seus registos áudio ou fotográficos de cigarras podem ser submetidos na plataforma Biodiversity4All: uma comunidade para naturalistas que pretende unir o maior número de pessoas no conhecimento da biodiversidade e em que, após criar uma conta, pode registar as suas observações. Os dados recolhidos ajudam cientistas e gestores ambientais a saber onde e quando as espécies ocorrem.
Em caso de dúvidas, podem ser consultadas as redes sociais do projeto Cigarras de Portugal – no Instagram, no Facebook ou no Twitter –, onde vai sendo partilhada informação detalhada sobre as espécies e como recolher os registos, ou através do e-mail cigarrasdeportugal@gmail.com.