Dificilmente conseguimos imaginar 25 milhões de árvores plantadas de um ano para o outro. Porque pensamos localmente, ou mesmo regionalmente. Mas aqui ao lado, em Espanha, um grupo de pessoas lançou uma ideia que germinou rapidamente: recolher bolotas e semeá-las, um pouco por toda a Península Ibérica.
Qualquer pessoa ou entidade pode participar, e o registo na internet já começou, e vai já nas 70 mil bolotas semeadas. Até fevereiro de 2020 a meta é chegar aos 25 milhões. Agir localmente e pensar globalmente. Para além de melhorar os meios rurais, as espécies de árvores do género Quercus vão contribuir para contrariar os efeitos negativos da ação humana ao nível planetário, sobre o clima e sobre os ecossistemas.
Com esta iniciativa ibérica dá-se um passo de gigante naquilo que são várias ideias pré-concebidas, a saber:
– Que a regeneração da floresta passa pela plantação, quando a sementeira pode trazer resultados melhores em zonas de mais difícil acompanhamento após plantação, e é certamente uma atividade muito menos exigente;
– Que é muito difícil unir pessoas de diferentes zonas, afastadas geograficamente e culturalmente, num objetivo comum, ou que é difícil organizar uma atividade descentralizada e de forma desinteressada. Com a internet a informação consegue de facto chegar às pessoas;
– Que uma iniciativa local, individual, não tem peso na enorme luta pelas causas ambientais, de um lado empresas gigantes e poderosas, governos corruptos, do outro as pessoas, quando neste caso basta uma única pessoa aqui ou nos confins da Catalunha, para todos juntos irem somando a sua actividade alternativa e de esperança.
O Núcleo de Aveiro da Quercus apoia sem reservas esta iniciativa e apela aos seus associados, aos voluntários e a todos os que queiram passar a ser voluntários, para a grande Jornada de Voluntariado do Projeto Cabeço Santo, que pretende semear cerca de 40 mil bolotas. A sementeira está marcada para o próximo sábado, 26 de outubro.
Decorre nos terrenos intervencionados pelo Projeto Cabeço Santo, que no concelho de Águeda tem tido um papel pioneiro na recuperação de ecossistemas. Muitos têm sido os voluntários ao longo dos anos, como se pode ver no blogue “Projeto Cabeço Santo”, que regista, ano após ano, jornada após jornada, os trabalhos e atividades que ali se têm verificado. Mas para um passo de gigante, são precisas muitas pernas e mãos a trabalharem em conjunto.
Depois da colheita e preparação das bolotas, nas duas Jornadas de Voluntariado anteriores, vai ser precisa muita, muita gente para semear. E semear é algo carregado de intenção e de esperança. Daí o apelo da Quercus Aveiro, para que individualmente, em grupos informais ou grupos de coletividades ou empresas que se queiram juntar, muitas pessoas possam abraçar esta causa que é de todos e para todos.
Não é uma manifestação de protesto, é uma manifestação de esperança. Quando se agigantam as manifestações de protesto pelo clima, temos que agigantar as manifestações de esperança. A inscrição não tem nenhum custo financeiro, a alimentação é gratuita. Apela-se a todos os cidadãos que transformem esta iniciativa num momento de convívio, alegria e ginásio ao ar livre.
Projeto Cabeço Santo
O Projeto Cabeço Santo iniciou-se em 2006, um ano após o catastrófico incêndio que deixou o Cabeço Santo em cinzas. O seu objetivo principal é a criação de um mosaico de áreas de conservação numa zona intensamente utilizada para o cultivo florestal de uma espécie exótica: o eucalipto. Foi motivado inicialmente pela tentativa de evitar que as áreas de habitat rupícola fossem alvo da expansão de espécies infestantes. No entanto, os horizontes do Projeto foram rapidamente alargados para incluir áreas até aí sujeitas a exploração florestal intensiva. Este é um projeto único em Portugal, com uma área de intervenção de 180 hectares.