O Grupo AdP – Águas de Portugal apresentou, ontem, o seu Programa de Neutralidade Energética ZERO que visa tornar o Grupo “energeticamente autossustentável com energia 100% renovável” nos próximos 10 anos, num investimento total de cerca de 370 milhões de euros.
O presidente da AdP, José Furtado, começou por recordar que, ao longo de século e meio e com “assinalável contributo nos últimos 25 anos”, o Grupo é responsável pelo abastecimento de água e tratamento de águas residuais “a cerca de 80% da população portuguesa” tendo um “impacto determinante na saúde pública, na qualidade do ambiente, na coesão do território e no desenvolvimento económico e social”.
Atualmente, o Grupo aposta na “capacitação” para “responder aos desafios emergentes, cientes da nossa responsabilidade maior enquanto grupo de referência na área do Ambiente e parceiro consistente na persecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 20/30”. Segundo José Furtado, “o nosso comprometimento é estarmos na linha da frente para alcançar as metas estabelecidas de sustentabilidade ambiental e de redução das emissões de gases com efeito de estufa”.
Nesse sentido “a gestão de energia representa uma das prioridades estratégicas”, na medida em que a AdP é “o maior consumidor público de energia elétrica em Portugal” face à “intensidade da energia consumida nas operações de produção de água e no tratamento de águas residuais”. Contudo, “dispõe de recursos endógenos nas infraestruturas e instalações das empresas do Grupo que permitem produzir energia de fonte renovável”, defende o presidente do Grupo.
José Sardinha, vice-presidente da AdP, acrescenta que o Grupo concentra 1,4% do consumo total de energia do país e que tal representa um “custo económico e ambiental muito significativo”. Com o Programa ZERO, o Grupo AdP tornar-se-á no “primeiro grande grupo económico do setor do ambiente” a atingir a neutralidade energética.
Programa ZERO
Foi assim que a AdP assumiu, ontem, o “compromisso público” de “alcançar até ao final desta década a neutralidade energética em toda a nossa atividade”, a nível nacional e internacional, através do Programa ZERO assente em dois vetores:
– Adoção de medidas internas de eficiência energética e de reengenharia de sistemas, para redução de consumos e controlo das perdas de água e influências indevidas nas redes em baixa;
– Reforço da capacidade de produção própria de energia a partir de fontes renováveis, através da instalação de sistemas que permitam um “mix” de energia, e a participação em projetos de hidrogénio verde promovendo a reutilização e a reindustrialização. Neste âmbito, o Grupo AdP recebeu o parecer favorável à candidatura para a produção de hidrogénio a partir de águas residuais tratadas.
O Grupo AdP registou consumos da rede superiores a 725,1 GWh/ano em 2019 sendo expectável que este Programa neutralize o equivalente a 746 GWh – o correspondente ao consumo energético estimado para 2030 – representando uma neutralidade energética de 105,3% e uma neutralidade carbónica equivalente. O Programa envolve ainda a neutralidade resultante do consumo de combustíveis – 765 GWh -, sendo a neutralidade energética obtida de 102,4%.
A nível ambiental salienta-se que, em 2030, o Programa de Neutralidade permitirá eliminar cerca de 205 ton/ano de emissões de CO2, representando uma poupança, para Portugal, de cerca de 5,3 milhões de euros por ano (a preços atuais).
Energia 100% renovável
O Programa ZERO prevê uma produção de cerca de 708 GWh/ano com recurso aos recursos endógenos disponíveis nas instalações das empresas do Grupo, designadamente com origem no biogás, eólica, hídrica e solar fotovoltaico, incluindo solar flutuante, a saber:
– No que respeita ao biogás, está previsto um crescimento de 48,3 GWh/ano (+ 163,2% face a 2019);
– Irá iniciar-se a produção de energia de fonte eólica, com a instalação de 48 torres eólicas, estimando-se uma produção de 115,9 GWh/ano;
– O aumento da produção de energia hídrica será obtido através da instalação de 38 hídricas com uma potência total de 6,9 MW, estimando uma produção de 45,0 GWh/ano (face aos 90,5 MWh produzidos em 2018);
– No solar fotovoltaico, é previsto um crescimento exponencial na produção (de 4,1 GWh para cerca de 478 GWh) com a instalação de centrais que produzirão um valor médio de 353 GWh/ano no primeiro ano de exploração, e a instalação de painéis solares flutuantes em 25 albufeiras, produzindo um valor médio de 125 GWh/ano. A produção de energia a partir do solar representará 70% do aumento da produção total de energia prevista no Programa ZERO.
Medidas de eficiência energética
Como medidas de eficiência energética, é objetivo do Grupo reduzir 35,6 GWh/ano nas atividades de abastecimento de água (tratamento e bombagem de água para consumo humano), correspondendo a uma redução de 8,5% dos consumos atuais. No saneamento de águas residuais a poupança estimada é superior a 13%, num valor próximo dos 37,8 GWh/ano. O investimento estimado para as ações de eficiência energética ronda os 39,6 milhões de euros, devendo estar concluído até ao final de 2024.
A atividade de abastecimento de água consome cerca de 60% do consumo total de energia do Grupo AdP – 410,3 GWh/ano no ano de 2018 -, enquanto o saneamento de águas residuais, com uma fatia de 40%, consumiu, no ano de 2018, cerca de 284,0 GWh/ano. O Programa ZERO contempla ainda ações no domínio das perdas de água e das afluências indevidas, que deverão ser desenvolvidas pelas entidades gestoras dos sistemas municipais, isolada ou conjuntamente com as empresas do Grupo AdP.
Contemplando as ações da responsabilidade das entidades gestoras dos sistemas municipais, o investimento total do Programa ZERO ascenderá a 480 milhões de euros, com uma neutralidade equivalente – redução de consumos de energia, compensação do consumo combustíveis e produção própria de energia 100% renovável – de 117,1%.
Este Programa surge na sequência do projeto EPAL 0% que permitirá atingir a neutralidade energética e de emissões em 2025, através de construção de centrais de produção de energia hidroelétrica nas suas condutas de água, eólica e fotovoltaica, tendo-se já adjudicado a construção da primeira central hidroelétrica para aproveitar a energia gerada pela água tratada na ETA da Asseiceira, tornando a maior ETA
do país 100% autossustentável em energia.