Na última semana, o Fórum BPI: O Futuro da Água arrancou com uma abordagem geral de Inês dos Santos Costa, partner da Deloitte, à atualidade do setor da água em Portugal. Na sua intervenção, começou por explicar que o mais recente relatório do estado da água na Europa, elaborado pela Agência Europeia do Ambiente, revelou que “a pressão sobre o recurso é muito significativa, colocando sérios desafios à segurança no abastecimento, hoje e no futuro”.
Apenas 37% das águas superficiais europeias estão num bom estado ecológico e 29% num bom estado químico, e para esta degradação contribui aquilo que se chama químicos eternos: “nos últimos anos tem-se assistido a uma progressão na presença destes compostos, que são tipicamente ligados a produtos que nós usamos no
nosso dia-a-dia, desde extintores a embalagens, e que, ao acumular-se no nosso organismo, podem gerar problemas de saúde, alguns deles graves”. “A presença generalizada destes PFAs na água é um claro desafio ao Objetivo Ambiental da União Europeia de zero poluição por substâncias tóxicas e ao Objetivo Político de alcançar um bom estado químico das massas de água até 2027”, acrescentou a oradora.
Já no que diz respeito a eventos extremos, como são exemplo as cheias de 2024 em Valência, Espanha, Inês dos Santos Costa frisou que o problema está na pouca preparação e investimento na adaptação do território: “a fatura quando chega é pesada, para o comércio, para as infraestruturas, para as comunidades, para a agricultura. E neste caso, levou a um decréscimo substancial da atividade económica da região, uma queda de entre 10 a 20 pontos percentuais, sem contar os impactos indiretos das externalidades a longo prazo”.
Espanha, Alemanha, Áustria, República Checa, Polónia, Itália e Luxemburgo foram apenas alguns dos países que no último ano viveram o impacto destes eventos extremos. De acordo com o Observatório Mundial da Água, o custo global de todos estes impactos ascende a mais de 500 mil milhões de euros só no ano de 2024.
No caso português, com a chegada da estratégia Água que Une, por parte do Governo, esperam-se soluções. Porém, “a abordagem continua a levantar questões, sobretudo na perspectiva de custo-benefício. Ou seja, estamos a considerar as projeções de evolução das disponibilidades de água? Estamos a considerar as assimetrias regionais entre o Norte e o Sul? As assimetrias regionais em termos da qualidade da água? Ou o aumento da procura? Porque isso tudo pode colocar sob questão os esforços de eficiência e de resiliência a serem tomados”, explicou a partner da Deloitte.
A interveniente concluiu a sua apresentação referindo que “a proteção de recursos, a redução de impactos, a superação do desafio da engenharia, a poupança para o contribuinte, as mais-valias para as empresas” devem ser tidos em conta no futuro próximo.
O Fórum BPI: O Futuro da Água decorreu na última quinta-feira, 27 de fevereiro, no auditório da Fundação Champalimaud, reunindo diferentes especialistas de dentro e fora do setor para discutir em que ponto estamos na preservação e gestão dos recursos hídricos em Portugal.