A construção de barragens, reservatórios e adutoras e o incentivo do uso racional da água, com mecanismos económicos de prémios e penalizações, são formas de enfrentar a seca, defende o presidente do Conselho Mundial da Água. Benedito Braga, em Portugal para participar num Encontro Nacional de Entidades Gestoras de Água e Saneamento (ENEG 2017), a decorrer até sexta-feira em Évora, disse em entrevista à Lusa que são essas as duas maneiras de tratar o problema, quando questionado sobre a forma de minimizar o problema da seca em Portugal.
O brasileiro, que teve de enfrentar há dois anos um problema idêntico de seca na região metropolitana de São Paulo, sugere que Portugal aumente a disponibilidade de armazenamento de água mas que leve também o cidadão e as empresas a fazerem um consumo mais “parcimonioso”.
Na crise do sudeste do Brasil as autoridades criaram um sistema de pagamentos em que as pessoas que economizavam até 20% da água recebiam um bónus na fatura de 10% e, se a poupança fosse acima de 30%, o desconto na fatura era também de 30%. “Mais de 85% da população aderiu a esse programa e houve uma economia significativa do consumo de água. Isso, associado a tarifas mais elevadas para os que usaram mais água do que costumavam, fez com que houvesse uma economia importante”, disse.
Benedito Braga admite que a construção de barragens, de todos os tamanhos, tem custos e demora tempo, mas esse trabalho aliado ao uso racional, à reciclagem na indústria, a uma melhor tecnologia na irrigação, são “instrumentos que devem ser pensados numa situação de crise severa”. “Na região de São Paulo, através dos instrumentos económicos, as pessoas passaram a economizar água. Depois que voltou a chover esses instrumentos foram retirados, já não recebem bónus por economia, mas apesar disso as pessoas continuam a economizar a água. Hoje temos na região metropolitana de São Paulo um consumo 15% menor do que antes da crise”, disse Benedito Braga.
No entender do especialista o mundo tem de mudar a forma de usar a água, “sem dúvida nenhuma de forma mais eficiente”, e a dessalinização, em Portugal, pode ser também uma alternativa, aliada a à reutilização, para situações de seca severa.
“A Austrália teve uma seca de 10 anos e construiu várias estações de dessalinização, que hoje estão sem operar porque voltou a chover. Mas é como comprar um seguro, você faz um seguro para não o utilizar”, disse.
Ainda assim, para a solução que Benedito Braga mais se inclina é a das barragens, “pequenas, médias, grandes, todos os tamanhos, adutoras, transposição de água entre bacias hidrográficas”. E lembrou que o Banco Mundial e bancos regionais financiam esse tipo de construção.
Mas e quando as bacias hidrográficas são partilhadas por dois países as situações de seca não potenciam conflitos? “O que temos observado em mais de 260 bacias hidrográficas transfronteiriças no mundo é que a cooperação tem sido mais a tónica do que o conflito”, respondeu o presidente do Conselho Mundial da Água.
Portugal partilha com Espanha recursos hídricos importantes, mas mesmo em situação de grandes secas Benedito disse que a tendência é a cooperação ser maior, até porque a água é um recurso vital sem o qual não se pode viver.
“Acho que há uma oportunidade em situações de crise de encontrar soluções partilhadas, reduzindo a questão de conflitos. Sou um otimista, não vejo possibilidade de conflito na questão da água, vejo muito mais uma possibilidade de cooperação”, afirmou.
O Conselho Mundial da Água é uma organização internacional que tem como objetivo mobilizar ações para resolver todos os tipos de questões criticas no mundo relacionadas com a água.
O ENEG 2017 junta centenas de especialistas na temática da água e é organizado pela Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas.