Aquando da adesão ao Pacto Português para os Plásticos (PPP), iniciativa liderada pela Associação Smart Waste Portugal, os seus membros comprometem-se a desenvolver esforços, individuais e coletivos, no sentido de atingir as cinco metas ambiciosas, até 2025, sendo elas: Eliminar os plásticos de uso único problemáticos e/ou desnecessários; 100% das embalagens de plástico são reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis; 70% taxa de reciclagem de embalagens de plásticos; 30% de incorporação de plástico reciclado, em média, nas novas embalagens de plásticos; e Educar e sensibilizar o consumidor para o uso sustentável e circular dos plásticos. A concretização de tais metas permitirá aproximar a iniciativa da sua visão: “a criação de uma verdadeira economia circular para os plásticos, onde estes nunca se convertem em resíduos ou poluição”. Foi precisamente com base nestes desígnios que o Pacto Português para os Plásticos apresentou recentemente o Primeiro Relatório de Progresso da iniciativa.
Em entrevista à Ambiente Magazine, Pedro São Simão, coordenador do PPP, acredita que este tipo de relatórios são parte essencial da iniciativa: “Uma vez estabelecidas as cinco Metas 2025, é essencial avaliar, de forma constante e transparente, a evolução dos resultados dos membros da iniciativa, no sentido de perceber se as ações, individuais e coletivas, estão a ir ao encontro dos objetivos desejados, e alinhar estratégias por forma a acelerar a transição para uma economia circular para os plásticos”. E este Primeiro Relatório de Progresso é especialmente importante por “estabelecer os resultados do ano base” – o ano de 2019 – e por “dar a conhecer a todos os portugueses o ponto de partida desta iniciativa”, acrescenta.
Em relação às principais conclusões, Pedro São Simão dá conta que, este Primeiro Relatório de Progresso demonstra já uma evolução positiva a vários níveis. Um bom exemplo disso é que “dos 19 itens de plástico de uso único inicialmente considerados problemáticos ou desnecessários, quatro já foram eliminados do portfólio dos nossos membros”, e “outros três estão em vias de ser eliminados”, tendo apresentado “reduções de 70%, ou mais”, entre 2019 e 2020: “O conjunto de itens representa menos de 4% do portfólio de embalagens de plástico dos nossos membros”. Cabe nesta meta que para “mais de dois terços dos itens identificados, em volume, não existe qualquer regulamentação que exija a sua eliminação”, demonstrando a “ambição e liderança” dos membros do PPP, sublinha. Ao nível da reciclabilidade, o coordenador da iniciativa refere que se manteve constante, reconhecendo que podia ter sido muito mais elevada – “mais de 10 pontos percentuais” – “se os fluxos de triagem “Tabuleiros PET” e “Polipropileno (PP)” já estivessem estabelecidos no âmbito nacional”. Na reutilização, o valor destaca-se pela positiva, “com 7% de embalagens de plástico reutilizáveis em 2020”, aumentando face ao ano anterior. No caso da reciclagem, apesar de ser ainda um número aquém da meta para 2025, o valor oficial da taxa de reciclagem de embalagens de plástico é muito relevante, pois representa um “crescimento (entre 2018 e 2019), quebrando uma tendência negativa que vinha desde 2015”. Quanto à incorporação de plástico reciclado, também se verificou um “ligeiro avanço” no período analisado, afirma.
As “mais de 200 boas práticas dos membros da PPP” apresentadas no relatório e divulgadas no site são a prova clara dos esforços de todos nesta iniciativa: “Estas são as boas práticas já implementadas e sabemos que muitas outras irão ser, a muito curto prazo”. A destacar ainda que, mesmo num “ano tão exigente como 2020”, os membros do PPP introduziram “inúmeras inovações” ao nível de embalagem, que permitiram a evolução positiva em todas as metas: “Como qualquer viagem, o primeiro passo é sempre o mais difícil, e esse já foi dado com toda a convicção pelos nossos membros. Este primeiro relatório é prova disso mesmo”, afinca.
Já sobre as lições e aprendizagens a ter em conta, Pedro São Simão destaca que a primeira é o “verdadeiro compromisso” de toda uma cadeia de valor – empresas, Governo, ONGs, universidades, municípios, entre outros – em “mobilizar-se para solucionar um problema sistémico” – a poluição de plástico – numa “lógica positiva e circular”, que permitirá “garantir a utilização do plástico de forma sustentável, possibilitando à sociedade continuar a beneficiar das múltiplas funções dos mesmos sem comprometer o ambiente”. Mais do que um “mero compromisso formal”, uma “assinatura numa folha”, o Primeiro Relatório de Progresso do PPP demonstra a “seriedade”, a “firmeza” e a “transparência” do compromisso: “Sério, porque todos os membros que colocam embalagens de plástico no mercado português providenciaram os seus dados. Firme, porque todos os membros têm vindo a desenvolver esforços concretos, dentro e fora do Pacto Português para os Plásticos, para construir uma verdadeira economia circular para os plásticos, como demonstram os inúmeros exemplos evidenciados no relatório. Transparente, porque todos partilharam os dados de forma voluntária, para que os mesmos sejam do conhecimento de todos os portugueses”. Em suma: “Este verdadeiro compromisso é a lição principal de como a colaboração e o compromisso são os ingredientes essenciais para um planeta mais sustentável”, sucinta.
[blockquote style=”2″]Práticas como “apontar o dedo” ou “diabolizar” o plástico não irá resolver nenhum problema[/blockquote]
Questionados sobre os desafios que ainda persistem quando o assunto é plástico, o coordenador do PPP, considera que se “fechar a torneira” da poluição de plástico, mais do que um “esforço individual de uma empresa, ou de um país isoladamente”, é necessária uma “ação coordenada” dos diferentes agentes e regiões do mundo. É nesta linha que o Pacto Português para os Plásticos faz parte da Rede Global de Pactos para os Plásticos da Fundação Ellen MacArthur, que junta “iniciativas similares implementadas em várias geografias”, contando atualmente com 12 iniciativas: “Estas, representam regiões que produzem mais de 30% do PIB mundial, demonstrando o potencial para a mudança sistémica que irá garantir uma economia circular para os plásticos a nível global”. Por isso, o crescimento do número de organizações que se juntam aos Pactos para os Plásticos, e de regiões que se juntam à rede é essencial: “Garantir esse compromisso de todos os agentes, em todas as regiões, é um dos principais desafios para concretizar uma verdadeira economia circular para os plásticos, porque a problemática da poluição de plástico é um desafio global”. No caso concreto nacional, o Primeiro Relatório de Progresso aponta para a necessidade de “acelerar a reciclagem de plástico”, pois esse é um “fator essencial para a disponibilização da matéria-prima necessária para a circularidade funcionar”. A reutilização, que “atingiu 7% em 2020, apesar de estar acima do valor global, que é inferior a 2%, merece uma aposta firme”, pois uma das “maiores qualidades dos plásticos é a sua durabilidade”, característica essencial para embalagens reutilizáveis, atenta, E depois o desafio de “mobilizar toda a sociedade portuguesa”, para uma “perspetiva pragmática e construtiva” sobre a problemática da poluição dos plástico. Práticas como “apontar o dedo” ou “diabolizar” o plástico não irá resolver nenhum problema: “Simplesmente substituir plástico por qualquer outro material, poderá originar outros problemas ambientais, talvez mais graves, sendo por isso, necessário assumirmos todos, enquanto consumidores e profissionais, a nossa responsabilidade em utilizar os plásticos sustentável, repensando os nossos hábitos de consumo e produção”. Aliás, para Pedro São Simão, “os plásticos têm, e continuarão a ter, um papel fundamental na nossa sociedade e economia”, considerando que tal papel pode ser “dissociado de poluição”, se existir uma “mobilização total” em prol de uma “economia circular para os plásticos”. No que a medidas diz respeito, o coordenador do PPP acredita que “qualquer ação que ajude a eliminar a poluição de plástico é urgente”, devendo ser implementada já: “Desde a complexidade de criar legislação que limite a utilização de plástico problemáticos à opção individual de utilizar uma garrafa reutilizável, todas as medidas são fundamentais”. Mas, se nada for feito: “O volume de plásticos nos oceanos pode quadruplicar até 2040: todos temos uma palavra a dizer para evitar este cenário”, alerta.
Traduzindo as metas do PPP para o dia-a-dia enquanto consumidores, Pedro São Simão partilha algumas das medidas que podem ser já aplicadas para garantir um uso sustentável dos plásticos, como por exemplo, “evitar os descartáveis, como copos de café ou palhinhas, sejam de plástico ou de outro qualquer material”, “procurar soluções reutilizáveis, como garrafões com sistema de reenchimento ou produtos com recargas (concentrados)”, “ler os rótulos das embalagens,- e procurar selecionar aquelas que indicam ser 100% recicláveis e, preferencialmente, feitas com plástico reciclado”, ou “separar todas as embalagens de plástico no ecoponto amarelo”. Estas “simples ações, tomadas agora, se tomadas por todos nós”, terão um impacto fundamental para reduzir a poluição de plásticos: “E para elas serem possíveis, é essencial que a cadeia de valor ofereça aos consumidores estas soluções, sendo esse é o compromisso de todos os membros do Pacto Português para os Plásticos”, precisa.
[blockquote style=”2″]Garantir que os consumidores portugueses cumpram o seu papel na cadeia de valor[/blockquote]
Para falar sobre a forma como os portugueses olham para a circularidade dos plásticos, Pedro São Simão cita o estudo publicado, este ano, pela Sociedade Ponto Verde (SPV), levado a cabo pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade Lisboa, que demonstrou que “83% dos portugueses consideram as embalagens de plástico as mais problemáticas em termos ambientais”. Mas, segundo o mesmo estudo, elas são, ou poderão vir a ser, as mais sustentáveis em termos ambientais, se forem utilizadas numa lógica circular: As embalagens de plástico são leves, limitando as emissões de carbono no seu transporte. São resistentes e possuem capacidade barreira, que permite aumentar a validade dos produtos, nomeadamente alimentos, contribuindo para a diminuição do desperdício alimentar. A sua produção exige um consumo limitado de energia, em comparação com outros materiais de embalagem”. Em suma, são múltiplas as características positivas que os plásticos têm na aplicação em embalagem: “Contudo, todas elas se desvanecem se utilizarmos as embalagens de plástico de uma forma linear”, refere, destacando, para tal, a importância do compromisso do PPP, no sentido de “garantir a circularidade dos plásticos”, permitindo “continuar a usufruir das boas características dos plásticos na sua aplicação de embalagem, sem as atuais consequências negativas”. Por outro lado, o mesmo estudo indica uma “elevada predisposição dos portugueses” em utilizar embalagens com materiais reciclados, com “mais de metade” a estar disposto para tal: “Essa abertura é essencial para um uso circular dos plásticos”. De acordo com o responsável, são cada vez mais as embalagens dos membros do PPP que incorporam plástico reciclado, algumas a 100%: “E sem a adesão e abertura dos consumidores, estes esforços seriam em vão”. Tão importante é, segundo Pedro São Simão, “garantir que os consumidores portugueses cumpram o seu papel na cadeia de valor”, enquanto fornecedores de matéria-prima, seja através da “devolução ou reenchimento de embalagens”, seja através da “reciclagem no ecoponto amarelo”. Para tal, “é determinante o foco constante na sensibilização e educação”, a quinta meta do Pacto Português para os Plásticos: “Em 2022, iremos arrancar com vários projetos de comunicação e educação, orientados a diferentes faixas etárias, no sentido de promover esta sensibilização e garantir o compromisso, e ação diária, dos portugueses em prol das metas do Pacto Português para os Plásticos”.
Já no que à taxa de reciclagem de embalagens de plástico, em Portugal, diz respeito, o coordenador do PPP, refere que o último dado disponível, de 2019, aponta para uma “taxa de reciclagem de embalagens de plástico de 36%”, um valor ainda muito abaixo daquela que é a meta do PPP neste âmbito: 70% em 2025. Contudo, é um “dado positivo”, no sentido em que “inverte uma tendência decrescente da taxa de reciclagem de embalagens de plástico desde 2015”, tendo registado um “crescimento de dois pontos percentuais face ao valor de 2018”, nota. O facto de serem dados anteriores ao lançamento do Pacto Português para os Plásticos, Pedro São Simão acredita que a “mobilização de vários membros da iniciativa”, a “implementação de novos modelos de recolha de resíduos, como o sistema de depósito e retorno, para garrafas, ou a recolha porta-a-porta”, terão um “impacto determinante” no aumento da reciclagem, assim como a nova legislação que entrou recentemente em vigor.
[blockquote style=”1″]Quais são os próximos passos?[/blockquote]
“Os próximos passos passam por dar continuidade ao trabalho colaborativo dentro dos grupos de trabalho, procurando identificar barreiras e oportunidades para acelerar esta transição. Passam também por dar continuidade, e reforçar, a relação com os nossos membros institucionais, nomeadamente os três Ministérios que apoiam institucionalmente a iniciativa, partilhando recomendações que possam ser vertidas em legislação que crie as condições para uma maior circularidade dos plásticos. Passam ainda pela continuidade e reforço na aposta na comunicação e educação, dirigida a diferentes grupos etários. Passam pela promoção de ações de partilha de conhecimento e networking, criando as bases e pontes necessárias para estimular a inovação e os novos modelos de negócio que permitam acelerar a transição para uma economia circular para os plásticos. E, claro, passam pela continuidade, e reforço, do esforço e investimento diário realizado por cada um dos nossos membros em novas soluções que permitam reduzir o consumo do desnecessário ou problemático, reutilizar sempre que possível, garantir a reciclabilidade das embalagens e o uso crescente incorporação plástico reciclado”.