Quase dois terços dos portugueses preferem consumir somente alimentos biológicos, mas apenas um quinto diz saber que a agricultura biológica também utiliza produtos fitofarmacêuticos ou pesticidas, concluiu um estudo hoje divulgado.
Os resultados do estudo mostram que “65% dos participantes [num inquérito] prefere comer apenas alimentos biológicos”, mas “só aproximadamente 19% acredita que a agricultura biológica utiliza os produtos fitofarmacênticos, conhecidos por pesticidas”, disse hoje à agência Lusa uma investigadora que participou no trabalho, Isabel Moreira.
O estudo foi realizado pelo Centro de Estudos Aplicados da Católica-Lisbon, School of Business & Economics em parceria com a Associação Nacional para a Indústria da Proteção das Plantas (ANIPLA) com o objetivo de saber mais sobre o conhecimento da população portuguesa relativamente à realidade da produção de alimentos.
Foram focadas áreas como a relação entre os produtos fitofarmacêuticos e a produtividade agrícola, o impacto económico e a acessibilidade aos bens alimentares e a perceção face à produção e aos alimentos de agricultura biológica.
Do total de 961 inquiridos, 61% respondeu que concorda totalmente ou tende a concordar que, para manter os alimentos acessíveis, os agricultores devem ser capazes de combater as infestantes, pragas e doenças com produtos fitofarmacêuticos.
Uma das grandes conclusões do estudo, segundo destaca a investigadora Isabel Moreira, é que “85% dos inquiridos acreditam que os produtos fitofarmacêuticos, vulgarmente conhecidos como pesticidas, são concebidos com o objetivo proteger as plantas de influências prejudiciais”, como insetos nocivos, infestantes, fungos e outros parasitas.
“Além disso, 68% referem que, sem o uso de produtos fitofarmacêuticos, mais de metade das culturas mundiais podem ser perdidas a cada ano, devido a pragas e a doenças das culturas”, referiu Isabel Moreira.
A juntar ao facto de 65% dos inquiridos transmitir a preferência por alimentos biológicos, 66% diz que consumir produtos biológicos regularmente reduz o risco de cancro.
“Pedimos aos participantes para indicarem que fatores poderiam ter impacto no aumento dos custos dos alimentos no mundo e 86% indicou a falta de produção devido às alterações climáticas”, disse a investigadora da Católica-Lisbon, School of Business & Economics, seguindo-se a falta de terra adequada à agricultura, com 60%.
A quase totalidade dos inquiridos (98%) refere que o preço dos alimentos deve ser acessível para garantir que as famílias têm alimentos saudáveis e frescos, realçou ainda Isabel Moreira.
O trabalho realiza uma comparação dos resultados obtidos em Portugal com dados de um estudo envolvendo vários países, como Espanha, Reino Unido, Alemanha e Polónia, efetuado em 2016.
“Há algumas diferenças, sobretudo em relação às respostas ‘não sabe’, os portugueses selecionam menos essa opção” e em relação à questão de os produtos fitofarmacêuticos serem concebidos para proteger as plantas, “na amostra portuguesa temos 85% dos participantes que concordam, enquanto que, no estudo internacional, 17% concorda totalmente e 52% tendem a concordar, ou seja, é uma percentagem ligeiramente inferior” (69%), apontou.
O estudo abrangeu 961 participantes representativos da população portuguesa, através do Painel de Estudos Online da Católica Lisbon School of Business & Economics, que responderam a um questionário ‘online’ em março de 2018, através do Painel de Estudos Online da Católica Lisbon School of Business & Economics.
Na definição de produção biológica disponível no site da Direção Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural, a produção biológica é entendida como um sistema de gestão das explorações agrícolas e de produção de géneros alimentícios que combina as melhores práticas ambientais, um elevado nível de biodiversidade, a preservação dos recursos naturais, a aplicação de normas exigentes em matéria de bem-estar dos animais e a utilização de substâncias e processos naturais.
A Associação Portuguesa de Agricultura Biológica – Agrobio refere que, em agricultura biológica, não se recorre à aplicação de pesticidas nem adubos químicos de síntese, nem ao uso de organismos geneticamente modificados, sendo uma atividade que visa obter produtos saudáveis, com práticas sustentáveis e de impacto positivo no ecossistema agrícola.