#PortugalSmartCities: “Numa década e meia Portugal passou de um país de terceiro mundo para um de primeiro mundo”
Eventos como o Portugal Smart Cities Summit fazem sentido até porque é dos poucos que tenta ligar pontas e quebrar barreiras: “As smart cities vêm habituar-nos a sair da caixa, no sentido de lidarmos com a gestão de resíduos, limpeza urbana ou inovação. E os desafios atuais obrigam-nos a olhar os temas de forma integrada”. Quem o disse foi Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que falou na sessão de abertura da conferência “Inovação Tecnológica e Social na Gestão de Recursos e Resíduos”, promovida no passado dia 13 de outubro, quinta-feira, no Portugal Smart Cities Summit.
No âmbito de políticas integradas, o presidente da APA deu como exemplo o sucesso das políticas de gestão de resíduos em Portugal, considerando “notável e notório” o sucesso das mesmas: “No espaço de uma década e meia, (Portugal) passou de um país de terceiro mundo para um de primeiro mundo: fechou as lixeiras, criou mecanismo de recolha seletiva diferenciada de resíduos, lançou uma primeira geração de gestão de embalagens e instalou a valorização energética”. Contudo, a última década fica marcada pela estagnação: “Não conseguimos inovar e não conseguimos ligar pontas e, portanto, como país (…) estamos a chegar tarde à separação dos biorresíduos”. Nuno Lacasta dá o exemplo da Bulgária e da Roménia, como sendo dois países onde existe uma “primeira geração de separação de resíduos orgânicos: o facto de não termos começado há uns anos, está a causar desafios que só podem ser resolvidos com inovação e integração de políticas e de sistemas de gestão”. Neste âmbito, o responsável lembra que a “separação dos biorresíduos é uma estratégia fundamental na gestão dos resíduos e no fomento da economia circular” de Portugal, encontrando-se, neste momento, documentos em estado de desenvolvimento avançado, como o Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU 2030), depois de uma primeira fase de discussão pública.
Do ponto de vista urbano, Nuno Lacasta alerta para o facto de Portugal viver num contexto de “desordenamento do território”, sendo algo constante na história do país: “Isto significa que, por unidade de PIB (Produto Interno Bruto), Portugal é mais caro do que os outros países, por exemplo, a Grande Barcelona tem cerca de 4 milhões de pessoas para uma área que é cerca de metade da Grande Lisboa. Por isso, temos no país, que para qualquer atividade humana, ter mais área para estender cabos de eletricidade, estradas e infraestruturas viárias com uma riqueza relativa que conhecemos”. No entender do presidente da APA, a forma como a sociedade está organizada no território o deveria “impelir para eficiência”, sendo necessário “mudar o mindset de gestão do território, dos diferentes sistemas e apelar mais à inovação”. Uma vez que “estamos menos concentrados no território, a gestão de resíduos tende a ser menos eficiente”, ao contrário do que acontece, por exemplo, em cidades espanholas, onde “estão concentradas 300 mil pessoas: Só inovação nos pode ajudar a responder a esta questão”, defende o responsável, referindo à Inovação que passa pela “gestão de circuitos de recolha, de transporte e associada à valorização dos materiais”.
Apesar dos desafios estruturais que o setor dos resíduos em Portugal enfrenta, Nuno Lacasta dá nota que na União Europeia já se começa a interiorizar o facto de o resíduos ser uma matéria-prima fora de sítio: “É um chip mental completamente diferente e precisamos de políticas de desclassificação daquilo que é um resíduo para voltar a ser uma matéria-prima muito mais rápidas e ágeis”. Portanto, abre-se, da mesma forma, um “período de oportunidades”, no sentido de se estimular a economia circular no país, destaca o presidente da APA, rematando com uma questão: “Será que conseguiremos, apesar dos desafios estruturais e das oportunidades, voltar a ter uma próxima década de sucesso em termos de gestão de resíduos ou correremos o risco de ficar no mesmo sítio e, em consequência, o incumprimento de metas comunitárias e menos bem-estar para as populações?”.
Entre os dias 11 e 13 de outubro, a FIL – Feira Internacional de Lisboa acolheu a edição 2022 do Portugal Smart Cities Summit. Em três dias de certame, as cidades inteligentes estiveram no centro dos debates.