A transformação da paisagem, o restauro dos ecossistemas e a construção duma floresta e dum mosaico capazes de valorizar as espécies autóctones tem uma dimensão tal que, em Portugal, não existem “plantas” nem “sementes” para o conseguir. Quem o disse foi João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Ação Climática, na cerimónia de apresentação da medida “Resiliência dos territórios face ao risco”, inserida na iniciativa de financiamento REACT-EU, realizada esta terça-feira.
“Os 270 milhões de euros das Áreas Integradas de Gestão integradas da Paisagem ou os muitos outros (valores) ultrapassam a nossa própria capacidade de dar resposta àquilo que é a necessidade de plantas e sementes para cumprir o nosso objetivo de transformação da paisagem”, alertou o ministro do Ambiente, destacando a importância REACT-EU: “É essencial porque permite concretizar um conjunto de projetos que, às vezes, são difíceis de enquadrar naquilo que já tem um espartilho, e que vem de trás, e que são os fundos comunitários”.
Comentando o recente relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (em inglês, IPCC) das Nações Unidas, o ministro do Ambiente aproveitou o momento para partilhar duas novidades sobre o documento: o “ritmo assustador” de, em 20 anos, o planeta atingir 1,5 graus e, a “linguagem escatológica” relativa ao fim da espécie humana. “Temos de saber confrontar que é o fim da espécie humana que tem de vir para cima da mesa. E já não é numa perspetiva de milhares ou centenas de anos”, frisa. Se, em 20 anos, o planeta atingir 1,5 graus, a vida (na terra) vai ser muito mais complicada: “Sabemos que a tecnologia nunca chega a todos e mesmo que acabe por ser preciosa na resolução de problemas vai criar bolhas climáticas: quantas mais bolhas houver mais pessoas vão sofrer”.
Se a Europa já é reconhecida no mundo pelo que tem feito em matérias de mitigação – redução de gases com efeito de estufa – e, ao mesmo tempo, com Portugal a “dar cartas” na Europa e no mundo neste domínio, João Pedro Matos Fernandes não tem dúvidas de que existe uma área em que há ainda muito para fazer: o restauro e a valorização dos ecossistemas. E a pandemia tem sido muito esclarecedora na necessidade de se discutir saúde humana, animal e ambiental em simultâneo: “Temos de saber estar de bem e em paz com a natureza”. E, precisa o ministro, a natureza é perfeita nas suas quantidades: “Os ecossistemas nunca têm nada a mais nem nada a menos” e “a ideia da racionalidade da suficiência que tem de estar por trás do nosso modelo social e económico está mesmo na natureza”.
Por isso, o “esforço da promoção da proteção da biodiversidade e do restauro dos ecossistemas” num país como Portugal, onde a biodiversidade é marcada pela atividade e mão humana, é essencial: “Em dez anos, Portugal tem de ser tão famoso no mundo no domínio da proteção da biodiversidade e conservação da natureza como o é hoje no domínio das energias renováveis e da redução das emissões”.
E 2021 e 2022 têm mesmo de ser os anos da natureza e “de compromisso com as empresas que gerem espaços florestais, com as autarquias em domínios vários e com as pesssoas”. A dimensão da tarefa é enorme: “Não se faz sem esforço, sem compromisso e, no limite, sem sacrifício. Tem mesmo que ser pedido a todos – entidades públicas, empresas e cuidados – porque o que nos espera pode ser mesmo muito negativo”, alertou.
A REACT-EU: Assistência à Recuperação para a Coesão e os Territórios da Europa trata-se de uma iniciativa legislativa de emergência e um instrumento de reforço da Política da Coesão, criado pela Comissão Europeia para acelerar a recuperação da crise provocada pela pandemia de COVID-19 e à preparação de uma recuperação ecológica, digital e resiliente da economia. O Secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território, João Paulo Catarino, também esteve presente no evento.