Várias instituições de investigação portuguesas voltam a recolher água do mar em 20 pontos da costa, juntando-se a um projeto mundial que analisa as amostras para fazer o retrato do estado dos oceanos e dos seus habitantes. Trata-se do “maior esforço de amostragem que, segundo sabemos, alguma vez existiu, de todos os oceanos do planeta, exatamente no mesmo dia, de forma a conseguirmos ter uma fotografia da vida, essencialmente a vida microscópica”, disse à agência Lusa o investigador Bernardo Duarte, membro da equipa do consórcio internacional.
Terça-feira foi o dia escolhido para a recolha das amostras, sensivelmente ao mesmo tempo, em todo o mundo, da Islândia, à Antártida, aos EUA ou África do Sul, chamado o Ocean Sampling Day.
“Portugal é o país mais amostrado do planeta o que foi bastante elogiado” nas reuniões internacionais, realçou Bernardo Duarte, do centro de investigação MARE, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
São cinco os centros de investigação do mar: Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que fazem a recolha das amostras, no estuário do Tejo e no Parque das Nações, na zona de Lisboa, Lagoa de Óbidos, Praia de Santa Cruz, Ria de Aveiro, Algarve, Madeira ou Açores.
As amostras são enviadas para a sede do projeto, em Bremen, na Alemanha, e analisadas através de tecnologias modernas que permitem listar os seus componentes – de bactérias a vírus, microorganismos ou restos de peixes – e fazer a sequenciação dos genes.
Os cientistas ficam a conhecer o estado de conservação dos oceanos e as características dos seus habitantes, o que pode ser útil para a biotecnologia, por exemplo, como explicou o cientista.
Como o projeto europeu já decorre desde 2014, será possível comparar a evolução dos oceanos e a influência das alterações do clima ou de fenómenos como o El Nino.
“Inicialmente era uma amostragem mais europeia, mas conseguiu-se através das ligações” aos EUA e Austrália, por exemplo, “expandir ao planeta inteiro”, descreveu o investigador português.
Bernardo Duarte referiu que nos laboratórios da cidade alemã, a amostragem será “sequenciada através das tecnologias mais modernas de forma a conseguir identificar todos os organismos presentes para ter uma perspetiva geral da biodiversidade”.
O cientista do MARE avançou que está a ser preparado um artigo, com a colaboração de equipas do mundo inteiro, para dar uma primeira imagem da biodiversidade marinha, e que poderá ser publicado até final do ano.
As novas tecnologias permitem ver “que tipo de moléculas é que estes organismos podem dar em termos de aplicações na biotecnologia”, especificou, acrescentando que foram encontrados alguns com “elevada resistência a contaminantes, outros conseguem degradar” esses produtos.
“Isso pode ser interessante, por exemplo, no caso de haver um derrame de petróleo, podemos tentar que esses microorganismos nos ajudem a combate-lo”, apontou.
Os responsáveis pelo projeto internacional estão a tentar que a União Europeia prolongue o financiamento, que entretanto acabou, e em Portugal, os centros de investigação MARE, CIIMAR (Universidade do Porto) e CCMAR (Universidade do Algarve) ponderam a apresentação de um projeto para a costa portuguesa para conseguir financiamento do Ministério da Ciência e Tecnologia.