Portugal mandou para a reciclagem mais 4% de embalagens, mas continua a arriscar incumprimento em 2025

Nos primeiros nove meses do ano foram enviadas para reciclagem mais 4% de embalagens (360.975 toneladas) em comparação com o mesmo período de 2023. Um ritmo de crescimento que não é suficiente para Portugal conseguir alcançar as novas metas europeias da reciclagem, já que em 2025 o país é obrigado a reciclar, pelo menos, 65% de todas as embalagens que são colocadas no mercado.

Uma das consequências possíveis, caso Portugal não alcance, no próximo ano, as metas de reciclagem estabelecidos pela legislação da União Europeia, nomeadamente na Diretiva-Quadro Resíduos e Diretiva Embalagens e Resíduos de Embalagens, é a instauração de um processo de infração pela Comissão Europeia, que pode culminar na aplicação de sanções ao Estado Português.

O vidro continua a ficar aquém da performance das outras embalagens. Foram recolhidas 164.973 toneladas dos vidrões, o que significa praticamente uma estagnação em comparação com igual período do ano passado. Já nos restantes materiais os dados de janeiro a setembro são mais encorajadores, tendo sido encaminhadas para reciclagem 117.679 toneladas de papel/cartão (+6%), 6.241 toneladas de embalagens de cartão para alimentos líquidos (+3%), 64.322 toneladas de plástico (+6%) e 1.652 toneladas de alumínio (+19%).

Assim, complementar o modelo de recolha por ecopontos com sistemas de incentivo, porta-a-porta ou pay as you throw, permitindo, este, ao cidadão ter noção do valor pago em função do consumo, são soluções já identificadas para permitirem uma melhor capacidade de resposta, com a entrada de mais embalagens no sistema de reciclagem. Nessa medida, evita-se a perda estimada dos atuais 34 milhões de euros em embalagens que vão parar a aterro.

A evolução deste setor passa também por mais investimento em inovação que permita que o país disponha de ecopontos mais modernos, com recurso a IA, assegurando o reconhecimento das embalagens por tipologia (plástico, embalagens de cartão para bebidas, metal ou vidro) e recompense os cidadãos por esta boa prática.

A CEO da Sociedade Ponto Verde, Ana Trigo Morais, considera que “estamos a entrar num momento crítico. Daqui a pouco mais de um ano, há risco de o País entrar em incumprimento. Há que trabalhar para que isso não aconteça. As embalagens sempre foram um exemplo, o único fluxo de resíduos urbanos a alcançar os compromissos europeus. Com a publicação do UNILEX e a entrada em vigor das novas licenças das entidades gestoras, a nossa expectativa é que seja possível promover um ambiente concorrencial mais justo, e se implementem, de forma célere, as ações necessárias que gerem impacto direto nos resultados e a sua avaliação esteja diretamente ligada a uma maior transparência. No entendimento da SPV, mantêm-se como prioridades melhorar o nível de serviço aos cidadãos e tornar as operações de recolha e triagem mais eficientes”.