“Se cada pessoa no Planeta vivesse como uma pessoa média portuguesa, a humanidade exigiria cerca de 2,5 planetas para sustentar as suas necessidades de recursos. Tal implicaria que a área produtiva disponível para regenerar recursos e absorver resíduos a nível mundial esgotar-se-ia no dia 7 de maio, seis dias mais cedo do que em 2021, cuja data foi a 13 de maio”. Este dado faz parte de uma pesquisa que a ZERO (Associação Sistema Terrestre Sustentável), em parceria com a Global Footprint Network, relativa à pegada ecológica de Portugal.
A partir do dia 7 de maio, o país necessitaria, portanto, de começar a usar recursos naturais, algo que só deveria ser utilizado a partir de 1 de janeiro de 2023.
Segundo a ZERO, Portugal é, há já muitos anos, deficitário na sua capacidade para fornecer os recursos naturais necessários às atividades desenvolvidas (produção e consumo). O mais preocupante é que “dívida ambiental” portuguesa tem vindo a aumentar, alerta a Associação.
No entender da ZERO, Portugal tem uma oportunidade única de aproveitar o Programa de Recuperação e Resiliência, a par com fundos de apoio europeus, para implementar transformações que possam contribuir para que se possa viver com bem-estar, respeitando os limites do planeta. “Tal é possível com a adoção de novas políticas públicas e novas práticas por parte de cada um de nós, no sentido de reduzir o impacto da forma como produzimos e consumimos”.
Como reduzir a dívida ambiental Portuguesa (e de todos nós)?
De acordo com a análise da ZERO, o consumo de alimentos (32% da pegada global do país) e a mobilidade (18%) encontram-se entre as atividades humanas diárias que mais contribuem para a Pegada Ecológica de Portugal e constituem assim pontos críticos para intervenções de mitigação da Pegada,
Neste contexto, a aposta deve centrar-se numa “agricultura de múltiplos outputs e promotora da soberania alimentar (produção de alimentos de qualidade; preservação dos solos; redução da poluição e do uso de água; valorização de serviços de ecossistema), reduzindo progressivamente até à completa eliminação dos apoios a práticas agrícolas assentes num único output – produção”. Tão importante, segundo a ZERO, é “aproveitar o potencial de redução de deslocações e viagens (em particular as feitas por avião) através do teletrabalho e da realização de eventos habitualmente presenciais, em formato virtual”. O investimento na “criação de infraestrutura que permita uma muito mais significativa utilização de modos suaves de transporte, em particular incentivando o uso da bicicleta e eventualmente combinados com o transporte público, é outra das sugestões da ZERO, assim como uma “regulamentação para que os produtos colocados no mercado sejam sustentáveis”.
Em termos de práticas individuais, a Associação sugere a “redução da presença de proteína animal” na alimentação: “os dados para Portugal indicam que cada português consome cerca de três vezes a proteína animal que é preconizado na roda dos alimentos, metade dos vegetais, um quarto das leguminosas e dois terços das frutas”. Outra prática defendida pela ZERO passa por privilegiar os “transportes coletivos, andar de bicicleta, a pé, e claro, reduzir ou eliminar mesmo as viagens de avião substituindo nomeadamente as reuniões por videoconferência”. Mudar o paradigma de “usar e deitar fora”, muito assente na reciclagem, incineração e deposição em aterro, para um paradigma de “ter menos, mas de melhor qualidade”, com um forte enfoque na “redução, reutilização, troca, compra em segunda mão e reparação” é outra sugestão partilhada pela Associação.