Portugal é dependente de mercados externos para utilizar matérias-primas críticas no uso de EEE
Os Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos estiveram no centro do debate do evento que a LIPOR promoveu no passado dia 27 de abril, no âmbito do PROJETO ESTRAEE – Estratégia Sustentável Transfronteiriça para a Gestão dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos.
Num cenário em que as alterações climáticas são uma realidade e onde as temperaturas continuam a subir, as previsões não são as melhores: “Vivemos num sistema económico que não permite dar a volta à situação”, disse Viviana Pinto, do INEGI, na sessão “A Economia Circular e os REEE, abordagem científica!”. De acordo com a responsável, em 2050, a procura por materiais críticos vai aumentar e, em alguns casos, vai duplicar ou até quadruplicar, havendo muitos setores críticos: “Além desta procura aumentar, vão surgir implicações na emissão de CO2”.
Face a isto, Viviana Pinto relembra que a Comissão Europeia criou uma lista de materiais críticos onde foram definidos com base na importância que tinham para a economia e o risco associado para, assim, se cumprirem com as funções diárias: “Sabemos que estas matérias-primas estão classificadas mediante a sua utilização em todas as etapas da cadeia de valor de várias indústrias e, cada vez mais, vamos perceber que, com o avanço tecnológico, vamos necessitar mais destas matérias-primas críticas. Além disso, as tecnologias limpas – de origem de fonte renovável – requerem estas matérias-primas críticas”. Esta lista, em 2011, tinha 14 elementos e, em 2020, já eram 30: “É uma lista que permite perceber que somos dependentes de mercados externos para podermos cumprir a nossa necessidade de utilização de matérias-primas críticas, no que diz respeito ao uso de equipamentos elétricos e eletrónicos e à sua produção”. A Rússia, a China e os EUA são os países que dominam este mercado, demonstrando a forte dependência da Europa: “Em situações que temos vivido – pandemia e contexto geopolítico – percebemos que este cenário não é favorável”, alerta, destacando que o interesse desta lista é, de facto, “conseguirmos diminuir esta dependência não só externa, mas também conseguir controlar e reciclar dentro da Comissão Europeia”.
“A economia circular a melhor solução para se controlar o fabrico dos produtos”
Quanto à reciclagem destas matérias críticas, como o lítio, há ainda um longo caminho a percorrer, afirma a responsável, defendendo a necessidade de se pensar em ações enquanto consumidor e enquanto produtor: “Vemos que, do lado da energia, é intrínseco substituir fontes de energia fóssil por renovável, algo que as empresas mais abordam, mas o impacto que esta energia vai ter na transição energética e descarbonização em termos de emissões de CO2 representa apenas 55%, significando que os outros 45% estão intrinsecamente ligados ao fabrico de produtos (produção/extração das matérias-primas/transporte)”. A grande questão que se coloca é “Como é que vamos controlar essas emissões que estão associados ao fabrico do produto?”. Tal como indica Viviana Pinto, a economia circular é a melhor solução para se controlar o fabrico dos produtos: “Precisamos de perceber que se trata de uma mudança de paradigma cultural e que, se não o fizermos, não vamos contribuir para esta transição, não vamos ser competitivos e não vamos conseguir alcançar metas”. Portanto, “vivemos num sistema que não nos permite fazer esta recirculação de materiais e tratamos tudo como se fosse descartável”, sendo vital “olhar para a economia de outra forma”. Por outro lado, é uma economia que só vai funcionar se se começar a implementar ações em aglomerados locais, no sentido de se conseguir uma escalabilidade global: “Falamos das mercearias da esquina e de apoiar os produtores locais do nosso país e não irmos comprar frutas ao outro lado do mundo”. Mas esta economia só funcionará se assentar no modelo colaborativo: “Não adianta, enquanto produtor, estar a pensar em mim, mas perceber que estou dependente dos meus fornecedores, transportadores e clientes: a ideia é tentar perceber que precisamos de colaborar de uma forma ao longo de toda a cadeia de valor por indústria e setores de indústria e adotar medidas que facilitem esta transição energética”, atenta.
“Estratégias técnicas com desenho técnico que nos permitam preparar o nosso produto para que seja circular”
Nesta sessão, Viviana Pinto abordou ainda alguns dos princípios básicos de economia circular, destacando a importância de estratégias de ecodesign, de incorporar recicláveis dentro do produtos, da modulação, de tornar as componentes do produtos passíveis de serem reaproveitadas e reutilizadas ou da utilização de fontes renováveis, numa tentativa de regeneração dos sistemas.
Além disso, a responsável chamou a atenção para a realidade atual dos equipamentos, cuja duração é muito reduzida: “É assustador ver a quantidade de equipamentos em perfeito estado e peças que podem ser alteradas e que estão ali para serem destruídas”. Face a esta realidade, a Comissão também já lançou um plano com várias medidas, como o “direito à reparação” ou a aposta no “carregador comum”, exemplificou.
A economia circular é assim vista como uma solução para os resíduos elétricos e eletrónicos no sentido de apostar na incorporação ao máximo de materiais e de, no momento, de idealizar o produto, olhar para o ecodesign seja ele “o design de modularidade, o design de excelência, o design de sustentabilidade” ou “o design de circularidade”. Em suma, são essenciais as “estratégias técnicas com desenho técnico que nos permitam preparar o nosso produto para que seja circular”, remata.
A “Jornada PROJETO ESTRAEE” decorreu no Auditório da Central de Valorização Orgânica da Lipor.