Porto vai ter “laboratório vivo” para descarbonizar a cidade
Vai ser criado, no Porto, um “laboratório vivo” (espaço para o teste de serviços e tecnologias inovadoras) destinado a auxiliar a cidade a mitigar as alterações climáticas e a alcançar a neutralidade carbónica. O projeto, desenvolvido pela Agência Energia do Porto (AdEPorto) chama-se “Asprela + Sustentável” e foi aprovado, com a classificação mais elevada das iniciativas a concurso, no âmbito do programa “Ambiente, Alterações Climáticas e Economia de Baixo Carbono”, promovido pelo EEA Grants.
Este “living lab”, instalado na zona da Asprela (freguesia de Paranhos), vai permitir criar, de forma disruptiva, a primeira Comunidade Energética Renovável (CER) do Porto, em torno da energia solar. Esta CER, segundo o comunicado da AdEPorto, vai ser desenvolvida entre as habitações das 181 famílias do Bairro de Agra do Amial e a Escola Básica (EB) da Agra e vai contar com a instalação de dois sistemas fotovoltaicos distintos: um no Bairro de Agra do Amial e outro na EB da Agra. Os sistemas destinam-se a fornecer energia elétrica aos edifícios que os albergam num modelo de autoconsumo. Entre os objetivos a atingir, contam-se, também, a “promoção da mobilidade elétrica sustentável”, o “combate à pobreza energética”, o “incentivo ao consumo de energias limpas” e a “transição para um modelo de economia circular”, precisa o comunicado.
De acordo com a Agência, o “Asprela + Sustentável” incorpora também outras vertentes, como o ciclo da água, através da monitorização e controlo da água das ribeiras do Parque Central da Asprela. Numa vertente mais recreativa, vai ser disseminada a “instalação de bebedouros nos Circuitos de Atividade Físicas e Recreativas da zona, promovendo a adoção de hábitos saudáveis de boa hidratação e a prática de atividade física”, lê-se no comunicado. Enriquecendo as medidas de circularidade da economia deste projeto, vai ser desenvolvido o “REBOOT”: um programa de reciclagem e partilha de computadores, que vai permitir “criar momentos de reparação de equipamentos eletrónicos”, ao mesmo tempo que “promove a formação dos participantes nesta área”. Estes equipamentos serão doados a crianças de famílias em condições socioeconómicas vulneráveis.
Financiado no valor de um milhão de euros, o programa vem complementar os compromissos já assumidos pelo Porto para combater as alterações climáticas. A cidade tem já implementadas diversas medidas no sentido da sustentabilidade energética, nomeadamente o consumo de energia 100% renovável pelo município, a existência de uma frota municipal com cerca de 70% de veículos elétricos e híbridos plug in, ou a intervenção de reabilitação na habitação social. Em 2020, foi, igualmente, assinado um protocolo entre a Câmara Municipal do Porto, a AdEPorto e a EDP Distribuição para a criação de um acelerador para a transição energética na região.
De acordo com Filipe Araújo, vice-Presidente da Câmara Municipal do Porto, “este é um projeto criativo, inovador e abrangente, que demonstra bem a ambição do Porto em participar ativamente na transição energética e na descarbonização da Cidade e da região, contribuindo para objetivos globais de sustentabilidade, procurando e disseminando as boas práticas, num momento em que os Municípios não poderão mais adiar a sua participação ativa na transição energética.”
Para avaliar os avanços alcançados durante a execução deste projeto de três anos, vai ser criada uma plataforma integradora – o Hub Virtual “Asprela +++”. O sistema vai permitir, por exemplo, recolher dados sobre a redução de emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE) – nomeadamente nos setores dos transportes e edifícios – ou sobre a qualidade do ar e da água. Segundo a AdEPorto, está ainda previsto, a partilha de toda a informação gerada junto dos decisores políticos, bem como com a população, de forma transparente e acessível, alimentando modelos de decisão e replicação que permitam escalar o projeto e boas práticas de sustentabilidade.
O consórcio do “Asprela + Sustentável” é liderado pela Coopérnico – Cooperativa de Desenvolvimento Sustentável C.R.L. A coordenação técnica cabe à Agência de Energia do Porto, em estreita colaboração com o Município do Porto e restantes parceiros, a saber, Associação Porto Digital, Porto Ambiente (EM), Águas e Energia do Porto (EM), INEGI, EFACEC Electric Mobility, EFACEC Energia, INESCTEC, VPS, EVIO, a Federação Académica do Porto e International Development Norway.
Porquê a Asprela?
A Asprela representa a área com a maior concentração de conhecimento produzido no Porto e, por isso, reúne o potencial humano, e tecnológico, para o desenvolvimento do “Asprela + Sustentável”. Na zona, produz-se 90% do conhecimento gerado na cidade e 20% do originado ao nível nacional. No espaço delimitado pelo ‘living lab’, situam-se ainda:
- 7 das 14 faculdades da Universidade do Porto;
- 3 escolas do Instituto Politécnico do Porto;
- A Universidade Portucalense;
- 2 Pólos do Parque de Ciência e Tecnologia da U. Porto (UPTEC), que acolhem 82 empresas (Asprela I e II); • O PORTIC – Porto Research, Technology & Innovation Center do Politécnico do Porto;
- 53 Centros de Investigação nacionais e internacionais que reúnem 5.000 investigadores;
- O Centro Hospitalar de São João e o Instituto Português de Oncologia (IPO);
- 121 empresas da área da Tecnologia e centros de inovação;
- 4 museus de ciência.
Entre estudantes, investigadores, docentes universitários, médicos, enfermeiros e profissionais ligados à Tecnologia e Inovação, utilizam a zona da Asprela cerca de 60 mil pessoas por dia.