A REN21, o Think Tank de energias renováveis com sede em Paris, publicou o primeiro Relatório Global sobre Energias Renováveis nas Cidades 2019 (REC-GSR), uma avaliação anual da transição das cidades do mundo para as energias renováveis.
A cidade do Porto enfrentou a pobreza energética diretamente, reformando edifícios públicos para torná-los mais eficientes em termos energéticos e instalando instalações renováveis de aquecimento e refrigeração e sistemas solares de água quente, resultando em economia anual de energia de 286 quilowatt-hora (kWh) por metro quadrado.
Por seu lado, Évora lançou o projecto Inovcity em 2010 para desenvolver uma rede elétrica inteligente para moradores, empresas e edifícios públicos da cidade. O projeto incentiva indivíduos e empresas a investir em tecnologias de geração distribuída, como sistemas fotovoltaicos solares no telhado e pequenas turbinas eólicas, bem como em iluminação de alta eficiência. A iniciativa resultou em economia agregada nos custos de eletricidade de cerca de 60% até o momento, indica o relatório.
Em geral, o documento indica que as cidades ocupam apenas 2% da massa terrestre do mundo, mas consomem mais de dois terços da energia do mundo e representam mais de 75% das emissões globais de CO2. O recém-lançado Relatório de Emissões 2019 do PNUMA documenta que mais de 65% de todas as emissões de CO2 são provenientes do uso de energia baseada em combustíveis fósseis.
Até novembro de 2019, quase 1.200 jurisdições e governos locais em 23 países declararam estado de emergência climática.
Muitos países ainda esperam que a implementação de sistemas 100% de energia renovável leve várias décadas. No entanto, existem muitas cidades no mundo que já fornecem 100% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis. Muitas cidades nos países em desenvolvimento são líderes em expansão renovável e algumas se comprometeram com 100% de energia renovável até 2020.
Uma das motivações mais poderosas é a poluição do ar e sua presença acima do céu urbano é responsável por milhões de mortes prematuras e custa biliões. As doenças atribuíveis ao ar são mais pesadas nos países de rendimentos baixos e médios, onde o amplo uso de combustíveis e tecnologias poluentes para as necessidades diárias básicas, como cozinhar, aquecer e iluminar, tem o mais alto nível de poluição do ar doméstico.
“Pode ser uma surpresa para alguns, mas é um padrão que hoje encontramos em todo o mundo: as cidades estão a liderar a transição para a energia renovável. Elas compreendem que renováveis significa menos doenças cardíacas e pulmonares, mais empregos locais e um desagravamento do orçamento municipal”, afirma Rana Adib, secretária executiva da REN21. “Se as cidades pudessem decidir, as atuais políticas climáticas e energéticas seriam totalmente diferentes”, acrescentou.
E diz mais: “As economias centradas nos combustíveis fósseis dificultam o trabalho dos governos nacionais colocarem as preocupações climáticas no topo e no centro, com o resultado de que globalmente não estamos em vias de cumprir o Acordo de Paris. Esta verdade é difícil de encarar. O Relatório das Emissões 2019 que o PNUA divulgou mostra a dura realidade: países que falham coletivamente em travar o crescimento das emissões de gases com efeito de estufa. O espaço entre as metas e a realidade apenas está a aumentar. São exigidos agora cortes mais profundos e rápidos, e as cidades podem assumir a ação climática nas suas próprias mãos”, refere.
O relatório revela que cada vez mais cidades europeias assumem a questão do fornecimento energértico remunicipalizando companhias de energia ou formando novas. A Barcelona Energía, recentemente formado para abastecer energia renovável produzida localmente para os habitantes da cidade e as instalações municipais, é apenas um exemplo. Em 2000, a Barcelona era também uma das primeiras cidades europeias a pedir que edifícios novos e renovados usassem energia solar para abastecer pelo menos 60% das necessidades de água quente corrente de um edifício. O próximo projeto na calha é uma rede de arrefecimento solar que deverá estar operacional no final deste ano.
Barcelona, Berlim, Copenhaga, Heidelberg, Lisboa, Madrid, Paris, Roterdão, Estocolmo e Varsóvia comprometeram-se em estabelecer novos padrões de qualidade do ar que vão de encontro ou superem as metas nacionais exitentes nos próximos dois anos. Ao assinar a declaração, em outubro, O presidente da Câmara de Copenhaga, Frank Jensen, comentou: “A poluição do ar é um problema global, mas tem uma solução local. Copenhaga quer ser a primeira capital mundial de neutralidade climática até 2025. Este ano, colocámos nas ruas 400 autocarros elétricos e no próximo ano também os ferries deverão ser elétricos. Queremos que os nossos cidadãos possam respirar fundo em qualquer altura do ano sem recearem pela sua saúde”.