A Porto Business School anunciou, a 4 de abril, durante o seminário “Diálogo África-Europa – Sinergias para um Futuro Sustentável”, a intenção de criar um projeto de transição energética em África em dois anos.
Cândida Santos, diretora do Africa Futures Center do Innovation X Hub da Porto Business School, considerou “ambicioso, mas exequível” ter no terreno “num prazo de dois anos”, em parceria, um projeto de transição para energias renováveis num país africano. Para tal, o impact center quer convencer “empresas, mas também governos, todos os que interferem, todos os que têm uma palavra a dizer”. Como foco principal do projeto, a responsável apontou os países membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), “por ser mais fácil agilizar todos os diálogos” e revelou já haver “contactos com Cabo Verde e com Moçambique”, sendo certo que a aposta passa pela “transição para energias renováveis” num continente “que até 2050 vai duplicar a população”.
Cândida Santos assegurou, também, que a entidade está alinhada com os alertas da União Africana de que “a transição energética tem de ser justa, tem de ser inclusiva, tem de ser equitativa, garantindo que ninguém fica para trás”. “Esta é a nossa mensagem. Não é só desenvolvimento económico ou produção de energia a qualquer preço. Nunca. Não seríamos nós a estar nesses projetos”, garantiu.
Ministra do Ambiente debateu sinergias entre África e Europa
O seminário foi ainda palco de um debate sobre a importância da cooperação energética entre os dois continentes – como forma de garantir o crescimento económico e a transição sustentável.
Entre os diversos painéis da conferência, destacou-se a intervenção da ministra do Ambiente e Energia, Maria de Graça Carvalho, que apresentou o modelo de conversão da dívida portuguesa em investimento climático, iniciado em parceria com Cabo Verde. Este acordo pioneiro já mobilizou, entre 2022 e 2025, 12 milhões de euros por Portugal e 2 milhões de euros em fundos caboverdianos, com investimentos focados em projetos sustentáveis.
Das iniciativas financiadas, destacam-se o repowering e a ampliação da capacidade da central fotovoltaica de Palmarejo, na ilha de Santiago, e o projeto Nexus água e energia, que incluiu a instalação de sistemas fotovoltaicos, estações elevatórias e duas unidades de dessalinização. A ministra revelou ainda que este acordo foi prorrogado até 2030, com um orçamento previsto de 42,5 milhões de euros, reafirmando o compromisso de ambos os países em promover soluções sustentáveis e inovadoras para enfrentar os desafios climáticos.
Maria de Graça Carvalho identificou ainda a criação de novos projetos, como uma intervenção que combine energia e gestão da água, bem como uma parceria com São Tomé e Príncipe que garanta a qualidade da água naquele país. Para finalizar, assegurou que Portugal está disposto a trabalhar com outros países africanos não apenas no plano financeiro, mas também ao nível da capacitação técnica e da articulação no setor privado, com o objetivo de promover a solidariedade entre os povos na luta contra as alterações climáticas.
Já o secretário de Estado da Energia, Jean Barroca, identificou a transição energética como um desígnio comum entre África e Europa, com benefícios mútuos, chamando a atenção para as necessidades urgentes de desenvolvimento do continente africano nesta área. Sublinhou o papel da política energética europeia como referencial, baseada na descarbonização, na eletrificação e no uso de energias renováveis, e apresentou os três pilares da estratégia portuguesa: sustentabilidade, competitividade e soberania energética.
Jean Barroca reforçou ainda que África é atualmente o continente com maior potencial de crescimento energético, mas também o que apresenta menor consumo, com necessidades de investimento urgentes. Face à insuficiência de mecanismos como a transformação de dívida em projetos climáticos, defendeu a criação de plataformas de financiamento e partilha de risco que facilitem o investimento privado e promovam a capacitação local, com especial enfoque na juventude africana. O secretário de Estado afirmou, por fim, que a energia será um fator determinante de competitividade global, especialmente com a crescente procura energética impulsionada por tecnologias como a inteligência artificial e os centros de dados, sendo essencial envolver o meio académico e garantir uma transição justa, equitativa e socialmente inclusiva.