As perdas económicas resultantes dos desastres naturais ocorridos em todo o mundo voltaram a subir em 2020, tendo atingido 268 mil milhões de dólares (cerca de 220 mil milhões de euros) em prejuízos, mais 21 mil milhões de dólares (perto de 17 mil milhões de euros) que em 2019. Esta é a principal conclusão do Weather, Climate & Catastrophe Insight: 2020 Annual Report, o estudo desenvolvido pela Aon, empresa líder mundial de serviços profissionais nas áreas do risco, reforma e saúde.
De acordo com o documento, o último ano registou um total de 416 episódios de catástrofes naturais a nível global, que, no seu conjunto, representaram perdas económicas 8% acima dos 244 mil milhões de dólares de média anual de prejuízos obtidos neste século (cerca de 201 mil milhões de euros). Do total de perdas alcançadas – 268 mil milhões de dólares – 97 mil milhões estavam garantidos pelo setor segurador privado ou programas de seguro comparticipados pelo governo (perto de 79 mil milhões de euros), o que originou um protection gap – ou seja, a porção de perdas não cobertas pelas apólices de seguros – de 64%, a quarta percentagem mais baixa de sempre.
Para este resultado contribuíram, sobretudo, fenómenos como ciclones tropicais, que causaram perdas diretas de 78 mil milhões de dólares (cerca de 64 mil milhões de euros), seguidos por cheias e tempestades de massa de ar, que resultaram em prejuízos na ordem dos 76 mil milhões de dólares (cerca de 62 mil milhões de euros) e dos 63 mil milhões de dólares (cerca de 51 mil milhões de euros). Já na vertente humana, os diferentes tipos de risco naturais causaram mais de oito mil mortes.
Em relação aos episódios naturais com maior impacto económico, o destaque vai para as inundações sazonais ocorridas na China entre os meses de junho e setembro, e que acumularam um total de 35 mil milhões de dólares de prejuízos (perto de 28 mil milhões de euros). Atrás destas surgem o furacão Laura nos Estados Unidos e Caraíbas, com perdas de 18,2 mil milhões de dólares (cerca de 14 mil milhões de euros), e o ciclone Amphan, no sul da Ásia, que resultou em perdas de 15 mil milhões de dólares (cerca de 12 mil milhões de euros).
Do ponto de vista climático, 2020 ficou marcado por ser o ano em que se conseguiu atingir a maior temperatura de sempre acima do Círculo Polar Ártico: 38 graus Celsius registados em Verkhoyansk, na Rússia. Ao mesmo tempo, e segundo dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos da América, 2020 foi o segundo ano mais quente desde 1880, com a temperatura dos oceanos a aumentar mais 0,98 graus Celsius.
“A resposta global à volatilidade socioeconómica causada pela pandemia de Covid-19 gerou uma maior atenção sobre alguns riscos sistémicos – especialmente as mudanças climáticas – facto que está a causar uma importante reorganização das prioridades dos negócios. Este relatório destaca, assim, a probabilidade crescente de ocorrerem fenómenos extremos conectados entre si, e reforça que as organizações líderes do futuro serão definidas pela sua capacidade de gerir as implicações globais causadas por eventos catastróficos consecutivos”. E acrescenta: “2020 veio realçar que num mundo altamente volátil, o risco está sempre presente, mais conectado e, como resultado disso, torna-se mais grave. Ao mesmo tempo, o último ano enfatizou a necessidade de haver uma maior colaboração entre os setores público e privado, cenário essencial para reduzir os níveis de protection gap e construir a resiliência contra catástrofes naturais”, refere Greg Case, CEO da Aon.
Portugal com perdas económicos causadas pela tempestade Bárbara e chuvas na Madeira
Também em Portugal se registaram alguns acontecimentos climatéricos com forte impacto económico local, nomeadamente a tempestade Bárbara, que originou um prejuízo de mais de 70 milhões de dólares para Portugal, Espanha e França (cerca de 57 milhões de euros), bem como a chuva forte ocorrida no passado dia 25 de dezembro na Madeira, e que totalizou perdas acima dos 36 milhões de dólares (cerca de 29 milhões de euros). Já a nível europeu, o principal contributo para as perdas económicas deveu-se à tempestade Ciara, em fevereiro, que resultou em prejuízos de dois mil milhões de dólares (perto de 1,6 mil milhões de euros).
Sobre os prejuízos alcançados em Portugal, Anabela Araújo, Chief Broking Officer e Claims Director da Aon Portugal, destaca: “O ano de 2020 foi mais uma prova das consequências das alterações climáticas e do impacto que os diferentes fenómenos naturais têm ao nível dos prejuízos económicos que, na maioria dos casos, não estão totalmente cobertos pelas apólices de seguro. Apesar do setor segurador estar mais robusto e preparado para responder a este cenário, ainda continua a ser necessário reconhecer a crescente recorrência deste tipo de catástrofes, e, nesse sentido, refletir sobre um maior acesso a produtos de seguro mais completos, e, ao mesmo tempo, sobre a importância de desenvolver soluções que permitam garantir áreas até agora não incluídas em programas de seguro”.