Perda de biodiversidade está entre os riscos globais que mais rapidamente se deteriorará durante a próxima década
Crises como o abastecimento de energia e de alimentos devem persistir nos próximos dois anos, bem como fortes aumentos do custo de vidas e o de serviço da dívida. Esta é uma das conclusões do Global Risks Report 2023 do Fórum Económico Mundial, que confirma que os conflitos e os confrontos geoeconómicos desencadearam um conjunto de riscos globais profundamente interligados.
Este relatório, divulgado esta quarta-feira, 11 de janeiro, pelo Fórum Económico Mundial, defende que a janela de ação sobre as ameaças mais graves a longo prazo está a fechar-se rápida e concertadamente, sendo necessária uma “ação coletiva” antes que os riscos atinjam um ponto de rutura.
O relatório, realizado em parceria com a Marsh McLennan e o Zurich Insurance Group, tem por base as opiniões de mais de 1.200 especialistas globais em riscos, decisores políticos e líderes empresariais. Ao longo de três períodos de tempo, o relatório apresenta um “quadro do panorama global de riscos que é simultaneamente novo e assustadoramente familiar”, uma vez que “o mundo enfrenta muitos riscos pré-existentes que anteriormente pareciam estar a diminuir”.
Atualmente, a pandemia e a guerra na Europa trouxeram de volta crises energéticas, inflacionistas, alimentares e de segurança. Estas crises, de acordo com o relatório, criam riscos subsequentes que irão dominar os próximos dois anos: “risco de recessão; crescente sobre-endividamento; crise do custo de vida; sociedades polarizadas devido à desinformação e à má-informação; um hiato na rápida ação climática; e uma guerra geoeconómica de tudo ou nada”.
A menos que o mundo comece a “cooperar mais eficazmente na mitigação e adaptação das alterações climáticas”, nos próximos 10 anos vai assistir-se ao “aquecimento global contínuo” e à “degradação ambiental”. Segundo a análise, a “falha na mitigação e adaptação das alterações climáticas”, as “catástrofes naturais”, a “perda de biodiversidade” e a “degradação ambiental” representam “cinco dos dez maiores riscos” – sendo a “perda de biodiversidade vista como um dos riscos globais que mais rapidamente se deteriorará durante a próxima década”.
O relatório prevê que os próximos anos irão apresentar “duras contrapartidas para os governos” quando enfrentarem interesses conflituantes para a sociedade, o ambiente e a segurança. Por exemplo, “os riscos geoeconómicos a curto prazo já estão a pôr à prova os compromissos net-zero e expuseram um fosso entre o que é cientificamente necessário e o que é politicamente aceitável”. Assim, “é necessária uma ação coletiva dramaticamente acelerada sobre a crise climática para limitar as consequências de um mundo em aquecimento”, recomenda o estudo. Entretanto, as considerações de segurança e as crescentes despesas militares podem deixar “menos margem fiscal” para amortecer os impactos de uma crise prolongada do custo de vida: “Sem uma mudança de trajetória, os países vulneráveis podem atingir um estado de crise perpétuo e ser incapazes de investir no crescimento futuro, no desenvolvimento humano e nas tecnologias verdes”.
O relatório deixa um apelo aos líderes para “agirem coletiva e decisivamente, equilibrando visões a curto e longo prazo”. Para além da necessidade de uma “ação climática urgente e coordenada”, o estudo recomenda que “exista um esforço conjunto entre países”, bem como uma “cooperação público-privada para reforçar a estabilidade financeira, a governação tecnológica, o desenvolvimento económico e o investimento na investigação, ciência, educação e saúde”.
Saadia Zahidi, Managing Director do Fórum Económico Mundial, defende que “o desenvolvimento climático e humano esteja no centro das preocupações dos líderes globais, mesmo quando lutam contra as crises atuais. A cooperação é o único caminho a seguir”.
Já John Scott, Head of Sustainability Risk do Zurich Insurance Group, considera que “sem mudanças políticas ou investimentos significativos, esta mistura acelerará o colapso dos ecossistemas, ameaçará o abastecimento alimentar, amplificará os impactos das catástrofes naturais e limitará mais progressos na mitigação das alterações climáticas. Se acelerarmos a ação, existe ainda uma oportunidade até ao final da década de atingir uma trajetória de 1.5ºC de temperatura e fazer face à emergência da natureza”.
Da mesma forma, Carolina Klint, Risk Management Leader da Marsh Europe, defende que “as empresas se foquem só nas preocupações a curto prazo, mas também no desenvolvimento de estratégias que as posicionem devidamente para os riscos a longo prazo e mudanças estruturais”.
O Global Risks Report é um pilar da Global Risks Initiative do Fórum Económico Mundial que trabalha para promover uma maior compreensão comum dos riscos globais a curto, médio e longo prazo, a fim de permitir a aprendizagem sobre a preparação e a resiliência ao risco.
O relatório deste ano também analisa como os riscos presentes e futuros podem interagir uns com os outros para criar uma “poli-crise” – um cluster de riscos globais relacionados, com impactos compostos e consequências imprevisíveis. O relatório explora a “Rivalidade dos recursos”, um cluster potencial de riscos ambientais, geopolíticos e socioeconómicos interligados, relacionados com a oferta e procura de recursos naturais, incluindo alimentos, água e energia.
Riscos a 2 anos (Top 10):
- Crise do custo de vida
- Catástrofes naturais e eventos climáticos extremos
- Confronto geoeconómico
- Falha na mitigação das alterações climáticas
- Erosão da coesão social e polarização da sociedade
- Incidentes com danos ambientais em larga escala
- Fracasso na adaptação às alterações climáticas
- Cibercrime generalizado e insegurança cibernética
- Crises de recursos naturais
- Migração involuntária em larga escala
Riscos a 10 anos (Top 10)
- Falha na mitigação das alterações climáticas
- Fracasso na adaptação às alterações climáticas
- Catástrofes naturais e eventos climáticos extremos
- Perda de biodiversidade e colapso dos ecossistemas
- Migração involuntária em larga escala
- Crises de recursos naturais
- Erosão da coesão social e polarização da sociedade
- Cibercrime generalizado e insegurança cibernética
- Confronto geoeconómico
- Incidentes com danos ambientais em larga escala