A APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis participou ontem num Webcast, organizado pelo The K Advisors, dedicado ao tema “Covid-19: Transição Energética, o que mudou?”. Apesar da pandemia ter reduzido os consumos de energia e deixado em stand-by vários projetos energéticos, além da recessão económica prevista, Pedro Amaral Jorge, presidente da associação, acredita que a transição energética seguirá o caminho já iniciado, através do Green Deal e do PNEC, e que o setor da energia poderá até ser um “porto seguro” para o investimento.
O presidente da APREN dá conta que, segundo a Direção-Geral da Energia (DGE), o consumo de energia elétrica variou 0,2%, entre março de 2019 e 2020, o que significa que “o consumo das empresas nos serviços reduziu o mesmo que o consumo doméstico aumentou” pelo que “a variação na indústria é pouco significativa”. Além disso, com a redução substancial das emissões de CO2 o preço das mesmas diminuiu cerca de 24%.
Do ponto de vista das renováveis, Pedro Amaral Jorge afirma que se registou uma “paragem” no “desenvolvimento quer de projetos que estavam em pré-leilão, quer de projetos atribuídos pelo leilão”. Ainda assim, os produtores associados da APREN “mantiveram a sua produção normal essencial à economia”.
Para o responsável, é “óbvio” que a economia vai sofrer danos causados pela pandemia e, consequentemente, o consumo elétrico que estará sempre relacionado com o desenvolvimento das atividades económicas. No entanto, apesar de alguma “perturbação” a curto prazo, Pedro Amaral Jorge admite que “a médio prazo as medidas de instalação da potência renovável prevista no PNEC [Plano Nacional de Energia e Clima] é perfeitamente exequível e alcançável”. “Acho que não vai haver retrocesso”, adianta.
Uma nota positivo é que “o espaço europeu e o espaço americano estão a olhar para isto da mesma forma”, embora com “filosofias e intensidades diferentes”, ou seja, criando “mecanismos de suporte para o financiamento e o crescimento da retoma económica de forma a dinamizar a economia”, reflete o presidente da APREN.
Mercado da energia, um porto seguro para o investimento
Pedro Amaral Jorge confia que face ao European Green Deal, ao pacote de incentivos ao desenvolvimento económico que será hoje conhecido e à nova política de industrialização europeia, que considera “uma ferramenta excecional”, “a transição energética vai acontecer da mesma forma”, pós Covid-19. Além disso, o presidente da APREN recorda que, segundo o PNEC, a eletricidade renovável tem o objetivo de “substituir a produção de eletricidade de fonte fóssil” assim como “contribuir para a descarbonização da utilização de gases através da produção de hidrogénio verde”.
Na sua opinião, o “desenho” do mercado da eletricidade tem de ser feito com “os incentivos adequados e as ferramentas de financiamento apropriadas” e, caso essas seja “suficientemente estimulantes”, as metas do PNEC podem até ser ultrapassadas. Com o “contexto regulatório estabilizado” em Portugal, Ibéria e Europa, “a transição energética seguirá o seu caminho”, assegura.
O presidente da APREN conta que Warren Buffett, CEO da Berkshire Hathaway, vendeu 6 mil milhões de ativos de empresas de transporte aéreo face ao impacto do Covid-19 e, assumindo que “esse montante vai ser canalizado para outro tipo de investimentos” no momento da recuperação económica, “os investidores tendem a procurar o chamado porto seguro” que poderá muito bem ser o setor energético.