O PAN, Pessoas – Animais – Natureza, acaba de apresentar num comunicado à imprensa uma iniciativa legislativa que pretende que o tratamento de dados estatísticos referentes à atividade tauromáquica volte a ser atribuído ao Instituto Nacional de Estatística.
À Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC) cabe, atualmente, entre outras funções, “a elaboração de um Relatório Anual da Atividade Tauromáquica”. Um dos elementos constantes deste Relatório diz respeito ao número de espectadores presentes nos espetáculos realizados. No entanto, “os dados relativos ao público que assiste a touradas são contabilizados através de uma estimativa por observação, ou seja, pelo “palpite” dos Delegados Técnicos Tauromáquicos, que em cada espetáculo tauromáquico indicam sem contabilização alguma o número de espectadores presentes na praça de touros”, lê-se no comunicado. Tal como assume a IGAC nos Relatórios Anuais da Atividade Tauromáquica: “o número de espectadores é apurado por estimativa de ocupação através da verificação efetuada pelos Delegados Técnicos Tauromáquicos e com base na lotação definida pela IGAC”.
Até 2010 a estatística do número de espectadores que assistia aos Espetáculos Tauromáquicos era feita por duas entidades, o Instituto Nacional de Estatística (INE) e a IGAC, que utilizavam métodos diferentes de contabilização e registo. O INE fazia a contabilização através do número de bilhetes vendidos e oferecidos, o que aliás continua a fazer para os museus, para os espetáculos ao vivo e para o cinema ou para o teatro. A partir de 2011 a IGAC passou a ser a única entidade a realizar as estatísticas da atividade tauromáquica em Portugal, não tendo por base o número de bilhetes vendidos e oferecidos, mas mera estimativa, método de uma total aleatoriedade e suscetível a erros vários.
A comparação entre os dados do INE e da IGAC entre 2000 e 2010 revela “a falta de rigor e de credibilidade com que estes dados têm sido apresentados aos portugueses. Verifica-se uma diferença abissal entre o número de espectadores identificados pelo INE, com base nos bilhetes vendidos e oferecidos, e pela IGAC, demonstrando duas realidades completamente diferentes”. As estimativas “a olho” efetuadas pela IGAC revelam sempre números de espectadores duas a quatro vezes superiores relativamente aos contabilizados pelo INE, através da bilhética. Fica assim demonstrado para o PAN que “as estimativas realizadas pela IGAC apresentam resultados muitíssimos empolados face à realidade”.
A título de exemplo, no ano de 2005, o INE registou 120.864 bilhetes vendidos e oferecidos, já as estimativas da IGAC indicaram que 503.542 espectadores tinham assistido aos espetáculos, uma gritante diferença de público extrapolado de 417%. Não deixa também de ser assinalável que, por exemplo, no ano de 2008, a relação entre bilhetes oferecidos e vendidos é de 70%, informação que se deixou de obter devido ao fato de a IGAC não a apurar.
De acordo com a nota, a Plataforma Basta alerta ainda de que, “além da falta de rigor na obtenção dos números é necessário considerar que os Delegados Técnicos Tauromáquicos são habitualmente pessoas fortemente ligadas ao meio tauromáquico, podendo não estar aptos por falta de isenção a esta função, uma vez que existe uma preocupação assumida no meio em esconder o crescente desinteresse dos portugueses pelas touradas”.
Esta análise permite concluir que a contabilização feita pela IGAC “não produz resultados fidedignos, uma vez que é feita “a olho”, não se compreendendo qual o motivo para o INE ter deixado de realizar as estatísticas da tauromaquia, como o fazia até 2010, tendo sido esta a única atividade cujos dados deixaram de constar das suas publicações”. Para além disso, “existe uma clara diferença de tratamento entre a atividade tauromáquica e as restantes no que diz respeito a esta matéria, parecendo que se quer ocultar informação relativa ao crescente desinteresse dos portugueses por este espetáculo”, refere o comunicado.