Pacto Climático propõe soluções à UE que evitem crises de refugiados ambientais

Os embaixadores do Pacto Climático Europeu em Portugal defendem mecanismos para a União Europeia ter um papel decisivo no apoio aos países em desenvolvimento mais afetados pelas alterações climáticas e, assim, evitar a fuga de cérebros e perdas demográficas essenciais em resultado de eventos climáticos extremos mais frequentes e impactantes.

Um Relatório do Banco Mundial de 2021 calcula que 216 milhões de pessoas sejam obrigadas a migrar nos próximos anos por razões climáticas e a Organização Internacional das Migrações (OIM) das Nações Unidas estima que, até 2050, haverá 200 milhões de refugiados ambientais em todo o mundo.

“A União Europeia deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que essas populações se mantenham, de uma forma integrada e produtiva, nos seus territórios de origem, única forma de estes países se poderem desenvolver e fazer face aos riscos atuais e futuros que resultam dos impactos das alterações climáticas”, sustenta Duarte Costa, embaixador do Pacto Climático Europeu, que será um dos oradores do painel “Fronteiras Invisíveis: Migrações Traçadas pelo Clima” do Festival TODOS, o qual terá lugar no dia 14 de setembro, em Lisboa.

“Para além do seu próprio esforço na redução de emissões, a União Europeia tem de criar mecanismos para facilitar a sua articulação com as economias destes países, gerando negócios baseados na sustentabilidade e na transição climática que criem riqueza, tanto na Europa como nestes países parceiros”, afirma Duarte Costa, especialista em ação climática. “Se a Europa tiver disponibilidade para antecipar estes apoios antes do agravamento da emergência climática, não só evitará vagas de imigração acima da capacidade europeia de regularização e processamento de migrantes, como será um fator chave para o desenvolvimento e para a adaptação climática nesses países”.

Cecília Delgado, embaixadora do Pacto Climático Europeu, considera, por seu lado que, “se não houver uma estratégia imediata de coerência entre os valores defendidos pela União Europeia e as práticas relativamente aos países pobres que enfrentam alterações climáticas, a fome irá provocar uma migração massiva para países onde a abundância alimentar e a expectativa de um futuro melhor oferece uma segunda oportunidade aos refugiados climáticos”.

A mesma recorda que as alterações climáticas se materializam em eventos climáticos extremos, desde secas a inundações, de escassez de água a temperaturas elevadas. “Neste contexto de crise climática agudizam-se as desigualdades, a pobreza extrema e a insegurança alimentar”, afirma a investigadora da Universidade Nova. “Por outro lado, criam-se desequilíbrios nos ecossistemas, que exacerbam a disputa pelos recursos naturais, como a água ou o acesso a terra fértil e irrigada”. Nestas condições, “aumentam os custos dos produtos alimentares, a escassez de produtos frescos e nutritivos e a fome”.

Ainda segundo Duarte Costa, para além de beneficiar as comunidades de outros continentes, a própria Europa ganhará com o apoio à ação climática noutras geografias. “A transição energética e a nova economia verde nos países em desenvolvimento têm um enorme potencial económico do qual a União Europeia poderá beneficiar”, afirma Duarte Costa. Esta economia irá gerar oportunidades de investimento e de mercado para empresas europeias onde as diásporas destes países na Europa desempenham um papel chave.

Investir na descarbonização da União Europeia, na sua adaptação climática e na de países que são seus parceiros geopolíticos, é criar novas oportunidades de desenvolvimento económicos que geram postos de trabalhos qualificados, rendimentos e a internacionalização de muitos setores importantes para a classe média. Este investimento irá “alargar a base de influência geoestratégica da União Europeia, criando uma alternativa real e apelativa à influência predadora de potências como a China ou a Rússia, beneficiando com isso a democratização dos sistemas políticos nessas zonas do globo”, conclui o embaixador do Pacto Climático Europeu.