O Pacto Climático Europeu quer uma maior integração das bicicletas no sistema de transportes intermodal da Área Metropolitana de Lisboa, através de duas medidas: maior comunicação entre as diferentes ciclovias dentro das cidades, com mais ligações às ciclovias dos concelhos vizinhos; e mais ligações aos comboios, metro e autocarros com parques de estacionamento específicos para velocípedes.
O Pacto afirma que os entraves ao crescimento da mobilidade ativa na AML são consequência da falta de investimento das câmaras em infraestruturas para a mobilidade suave. “Na Área Metropolitana de Lisboa não há infraestruturas para a bicicleta enquanto meio de transporte”, afirma António Gonçalves Pereira, embaixador para a mobilidade em Portugal do Pacto Climático Europeu e coordenador da Ecomood Portugal. “A razão para uma das principais ciclovias ser à beira do Tejo prende-se, precisamente, com a visão das bicicletas enquanto meio de lazer, e não enquanto meio de deslocação preferencial para as pendulações casa-trabalho e casa-escola ou universidade”.
Apesar de a Câmara Municipal de Lisboa ter anunciado um novo investimento de 13 milhões de euros em ciclovias, o Pacto Climático Europeu considera que esse investimento, só por si, não garante a boa ligação entre os troços cicláveis, nem a segurança dos ciclistas face ao automóvel, nem da integração efetiva da bicicleta no sistema de transportes que liga os 18 concelhos da Área Metropolitana de Lisboa.
“Era fundamental que o plano anunciado para Lisboa contivesse uma visão intermunicipal e intermodal”, afirma António Gonçalves Pereira. Segundo o embaixador para mobilidade do Pacto Ecológico Europeu, esta é uma atribuição que cabe ao Conselho Metropolitano de Lisboa, em particular à sua presidente, Carla Tavares, presidente da Câmara Municipal da Amadora. “Só com a articulação entre os investimentos que vão ser realizados em Lisboa e os que têm de ser realizados noutros municípios, poderá ser incentivada a utilização da bicicleta como meio de transporte preferencial para centenas de milhar de movimentos pendulares diários entre os concelhos onde residem os habitantes da Área Metropolitana de Lisboa”.
O Pacto Climático Europeu lança o seu apelo ao Conselho Metropolitano de Lisboa no próximo sábado, dia 1 de junho, pelas 09:30h, na Estação Fluvial de Belém. Em antecipação do Dia Mundial da Bicicleta, o Pacto organiza a “Bicicletada pelo Tejo”, evento durante o qual os participantes farão um trajeto intermunicipal de bicicleta, de Belém até ao Ecoparque de São João da Talha, aproveitando para, pelo caminho, recolher resíduos e fazer algo artístico com eles. No final do percurso, haverá um piquenique e um momento de conversa sobre mobilidade ativa e comunitária, no evento de Recriação Histórica do 25 de abril da Junta de Freguesia de Santa Iria de Azóia, São João de Talha e Bobadela. Esta é uma iniciativa da coordenação portuguesa dos embaixadores do Pacto Climático Europeu, a cargo da ZERO, da Ecomood Portugal , da BGI / hub português do EIT Urban Mobility e da Happy Trails.
“São necessárias importantes transformações no espaço urbano existente para melhorar a qualidade de vida das populações: é fundamental criar cidades mais sustentáveis e mais resilientes aos efeitos das alterações climáticas”, afirma Rita Prates, da ZERO. “Em Oslo, por exemplo, mais de 700 vagas de estacionamento foram transformadas em ciclovias, parques e áreas de convívio – e Paris planeia remover 70 mil lugares de estacionamento para criar novas faixas de transporte ativo”, exemplifica a ambientalista. “Portugal tem de ir ao encontro dos avanços que estão a ser obtidos no centro da Europa”.
Para tal, António Gonçalves Pereira defende que é preciso vencer muitas resistências e falta de visão de alguns autarcas e dos próprios cidadãos. “As cidades foram reformuladas no século XX em função do automóvel e as pessoas estão habituadas à tradicional utilização do carro para as deslocações diárias de curta distância”, afirma o embaixador para a mobilidade. “A questão é que as cidades já não aguentam tantos carros, o ambiente já não suporta o agravamento das alterações climáticas, as pessoas já não resistem a tantas horas de vida fechadas dentro de veículos”. Segundo António Gonçalves Pereira, “os autarcas têm de liderar a mudança através de investimentos públicos que promovam o uso das bicicletas”.