O relatório “O fim da sobrepesca na UE pode mitigar os impactos das alterações climáticas”, da autoria de Rashid Sumaila e Travis Tai da Universidade da Colúmbia Britânica, conclui que “a sobrepesca e as alterações climáticas não são problemas mutuamente exclusivos que devem ser tratados separadamente”, uma vez que ambos estão a ter impactos severos na saúde dos oceanos e a colocar em risco os ecossistemas marinhos e os bens e serviços que estes fornecem às comunidades. Acabar com a sobrepesca iria aliviar os oceanos da pressão humana, tornando-os mais resistentes aos efeitos da crise climática, além de ajudar a restaurar ecossistemas marinhos criticamente valiosos, diz o relatório.
“É mais provável que uma pessoa saudável sobreviva a uma epidemia do que uma pessoa menos saudável e, devido à sobrepesca, enfraquecemos severamente o sistema imunitário dos oceanos”, refere Sumaila. “Acabar com a sobrepesca agora fortaleceria os oceanos, tornando-os mais capazes de suportar as alterações climáticas e restaurar os ecossistemas marinhos”. Rashid Sumaila está em Bruxelas esta semana para esclarecer os decisores políticos da UE sobre como o fim da sobrepesca nas águas da UE se compatibiliza com os compromissos da UE de tomar medidas para combater a crise climática.
O relatório conclui que:
– A sobrepesca e as alterações climáticas são dois dos maiores fatores de pressão para os oceanos, os ecossistemas marinhos, a biodiversidade e as pescarias;
– Estimativas recentes dizem que pelo menos 40% dos stocks no Atlântico Nordeste e 87% dos stocks do Mar Mediterrâneo e do Mar Negro estão atualmente sujeitos a práticas de pesca insustentáveis, incluindo stocks que são sobrepescados ou explorados a um ritmo insustentável;
– O início de rápidas alterações relacionadas com o clima nos ecossistemas marinhos aumentará a pressão sobre as populações de peixes, tendo até potencial de extinção para algumas espécies;
– Ações decisivas são cruciais para garantir a sustentabilidade a longo prazo dos ecossistemas marinhos e da pesca;
– Devido a atuais ineficiências que resultam na captura de mais peixes do que o ambiente pode gerar, colocando os stocks abaixo do Rendimento Máximo Sustentável (RMS ou MSY, na sigla em inglês), melhorias nas medidas de gestão da pesca para atingir o MSY iriam não apenas aumentar as capturas a longo prazo, como compensariam os efeitos negativos das alterações climáticas nas capturas;
– A implementação de estratégias para aumentar a resiliência é comprovadamente uma vantagem na recuperação após fenómenos climáticos extremos; a sobrepesca e as mudanças climáticas não são problemas mutuamente exclusivos a serem tratados separadamente, e soluções abrangentes e holísticas devem ser encontradas para enfrentar os dois desafios globais.
“À luz daquilo que têm sido as declarações públicas da UE e dos Estados-Membros para combater a crise climática, este documento deixa claro que a primeira coisa que os decisores políticos devem fazer é acabar com a sobrepesca já este ano. A meta de acabar com a sobrepesca em 2020 é não só uma obrigação legal da Política Comum das Pescas, como é imperativa para o futuro das pescas europeias e os 250 000 empregos que dependem delas, alem de reforçar o oceano no que toca às alterações climáticas”, disse Rebecca Hubbard, diretora de programas da campanha Our Fish, que promoveu o relatório.
“Os oceanos fornecem mais de metade do oxigénio que respiramos e protegem-nos contra os piores impactos das alterações climáticas, mas a sobrepesca diminui a sua capacidade de desempenhar estas importantes funções. A UE pode dar aos cidadãos europeus o tão falado “acordo verde” mais forte tornando-o mais azul e tomando medidas decisivas para acabar com toda a sobrepesca em resposta à emergência climática”.