“Quero acreditar que os grandes projetos nascem muito da necessidade e da vontade que os decisores têm a dado momento em fazer história, com a certeza de que esses projetos têm mesmo uma marca relevante naquilo que é o limite do planeta”.
A declaração é de João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Ação Climática, que falou, esta quarta-feira, durante uma mesa-redonda “As cidades em Portugal: entre a EXPO’98 e o Plano de Recuperação para a Europa”, que abriu a conferência online “Projects, Urban Legacies of the late 20th century”, organizada pelo Dinâmia’Cet- Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território do ISCTE, Instituto Universitário de Lisboa.
À escala europeia, os grandes projetos vão ser “projetos de renovação”, afirma o ministro, reconhecendo que, por essa via, será muito mais difícil de fazer história: “Temos que procurar a imortalidade por forma diversa do que é a construção das grandes infraestruturas e dos grandes projetos urbanos”. E quem constrói grandes infraestruturas – “um aeroporto, um porto ou via rápida” – tem mesmo que “perceber que tem que reinventar a cada passo essas mesmas novas infraestruturas” de modo a “fortalecer a relação” das mesmas com o território: “Qualquer grande infraestrutura ou qualquer grande projeto por mais bem planeado ou menos planeado marca mesmo o território muito mais do que qualquer plano”, atenta. Além disso, precisa Matos Fernandes, os grandes projetos são aqueles que “carecem ainda de uma perspetiva de integração” que o território e as entidades territoriais vão ser capazes de lhe dar: “É mesmo preciso proceder a essa mesma integração porque é fundamental territorializar todas as políticas económicas que vão ser patrocinadas pelo PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), por dinheiros que não são do PRR e por todos os investimentos que virão a ser feitos no nosso país”.
Olhando para o território, o ministro do Ambiente considera que caberá às cidades “um papel essencial” na transformação. Mas o tempo é, “muito mais do que andarmos a explorar novos projetos urbanos de grande dimensão”, o de renovar e “reconstruir”: “Temos de deixar de pensar em demolir”, defende. E na atividade da construção, aquela em que é “preciso pôr mais quilos de matéria-prima para extrair um euro de valor” é essencial mudar essa lógica: “Temos que construir sem introduzir na construção produtos e materiais que não saibamos fazer quando eles deixarem de ser utilizáveis e não podemos continuar a projetar espaço que não não sejam multifuncionais”.
Matos Fernandes defende que os grandes projetos de que Portugal precisa são de restauro de ecossistemas e de refazer a paisagem: “É manifestamente a esta escala que temos de intervir em grande, de maneira a reconstruir o velho mosaico que era o da atividade agro-silvo-pastoril num tempo em que os fogos rurais não existiam ou existiam mas tinham muito menos impacto e muito menor dimensão”.
Na ótica do ministro, “os grandes projetos do território e o Plano de Recuperação e Resiliência contempla-os com a política para a paisagem são cada vez mais no espaço rural e no restauro dos ecossistemas”, considerando esse o “tema mainstream” que virá a seguir àquilo que é o “tema da mitigação e redução das emissões”.
A mesa-redonda contou também com a participação do presidente da Ordem dos Arquitetos, Gonçalo Byrne e do professor de economia política do ISCTE, Ricardo Paes Mamede.