“O Governo Português nada fará na promoção dos biocombustíveis que seja entendido, de alguma maneira, como pondo em risco a eletrificação dos transportes de passageiros e pesados, seja por bateria, seja por hidrogénio”. A declaração pertence a João Galamba, secretário de Estado Adjunto e da Energia, que deixou bem clara a posição do Estado no que ao futuro dos biocombustíveis diz respeito: “A única forma como olho para os biocombustíveis para o setor dos transportes é como um combustível de transição”. Tal significa que: “Todos os investimentos feitos nesta área devem, desde logo, contemplar a flexibilidade suficiente para migrarem para áreas onde os biocombustíveis tenham um futuro mais risonho do que no transporte rodoviário, como o transporte marítimo e aéreo”, sublinha.
O governante que falou, esta quinta-feira, 28 de abril, na “Conferência – O Setor dos Biocombustíveis em Portugal”, promovida pela Associação Portuguesa de Produtores de Biocombustíveis (APPB), reiterou aquela que é a prioridade do Governo que passa pela mobilidade elétrica e pela mobilidade elétrica indireta através do hidrogénio: “Nunca equipararemos os biocombustíveis em nenhuma dessas duas fontes”. Aliás, “os biocombustíveis só têm espaço porque não conseguimos descarbonizar mais cedo”, precisa.
E se há área do debate onde o Governo não se encontra é sobre as dúvidas que ainda possam surgir sobre qual será a mobilidade no futuro: “Não entendo que ainda possam haver dúvidas sobre a mobilidade elétrica ser ou não no futuro: a mobilidade elétrica direta ou indireta é em todos os níveis superior aos bicombustíveis”. Para o secretário de Estado da Energia, não podem restar dúvidas entre (os benefícios) da mobilidade elétrica direta e indireta e as alternativas: “A mobilidade elétrica é superior a todos os níveis: é mais barata produzir e é mais eficiente”. Com isto, João Galamba é perentório: “Os biocombustíveis e os combustíveis líquidos perderam o debate”. E “nada faremos em prol dos biocombustíveis que possamos entender que pode dificultar, atrasar ou perturbar a eletrificação direta ou indireta dos transportes”, sustenta.
Não descurando a importância dos biorresíduos, Galamba acredita que “há uma futuro mais duradouro e compatível” que passa pelo transporte marítimo e aéreo, mas não deixa de alertar para o papel secundário do setor: “Concordo que serão importantes durante o tempo tão curto quanto possível: e se conseguíssemos eletrificar a mobilidade direta ou indiretamente amanhã, seria mais taxativo e dizia, aqui, para desistirem, imediatamente, dos biocombustíveis para o transporte rodoviário e para colocarem as fichas todas no marítimo ou no aéreo”.
Tratando-se de um período transitório e sabendo que a descarbonização não acontece de um dia para o outro, o secretário de Estado da Energia assegura que o Governo não vai ser uma “pedra no caminho” do setor, mas não deixa de partilhar aquela que é a lógica do Estado: “Tenho o dever de deixar essa posição bem clara para que não restam dúvidas: os bicombustíveis são necessários mas, exclusivamente, de forma transitória”.
Relativamente a um “possível plano alternativo” para os resíduos que poderiam ser direcionados para os biocombustíveis, o governante referiu que a grande aposta do Governo na área dos resíduos é a “valorização energética” que passa pela incineração: “Mas, temos uma preferência pela gaseificação e produção de hidrogénio a partir de resíduos do que biocombustíveis avançados”, remata.