Os abelhões, polinizadores vitais para a agricultura e para muitas espécies vegetais silvestres, estão a desaparecer muito mais rapidamente do que outros insectos, fazia alusão, hoje, o jornal Público. Uma equipa internacional de cientistas acaba de descobrir que o principal factor responsável pelo abrupto declínio das suas populações são, “de longe”, as alterações climáticas. Esta é, assim, a principal conclusão de um estudo, realizado a escalas temporal e espacial sem precedentes, da distribuição geográfica de dezenas de espécies de abelhões ao longo de décadas.
O trabalho mostra que, ao contrário de muitos outros insectos terrestres da Europa e da América do Norte, que, para compensar o aumento das temperaturas, têm conseguido aproximar-se do Pólo Norte à medida que se afastam das zonas mais próximas da linha do equador – e portanto mais quentes –, isso não tem acontecido com os abelhões. A investigação, mostra, ainda, que os habitats naturais dos abelhões situados mais a Sul têm encolhido, com os insectos a perderem uma faixa de cerca de 300 quilómetros de terreno desse lado.“Imaginem um torno e imaginem o habitat dos abelhões preso nesse torno”, disse o líder do estudo Jeremy Kerr, da Universidade de Calgary (Canadá), em comunicado daquela instituição. “À medida que o clima aquece, as diferentes espécies de abelhões são esmagadas por esse ‘torno do clima’, que comprime as zonas geográficas onde habitam”, acrescentou.
“Ficámos surpreendidos com os resultados”, referiu o co-autor Leif Richardson, especialista de abelhas da Universidade de Vermont (EUA), citado noutro comunicado. “Os abelhões estão a perder terreno na sua fronteira sul e não estão a conseguir ganhar terreno na fronteira norte – portanto, o seu habitat está a encolher”. A sul, os insectos estão a colonizar terrenos mais elevados, mas isso não resolve o seu problema de sobrevivência, uma vez que a vegetação se torna escassa com a altitude.Os resultados foram publicados esta quinta-feira na revista Science.O declínio, verifica-se à escala continental e a uma maior velocidade do que noutras espécies de insectos, como o mostra a evolução dos últimos 50 anos: “No que respeita às espécies de abelhões da América do Norte com as quais trabalho”, diz Sheila Colla, co-autora da Universidade de York (Canadá), em respectivo comunicado, “sabemos que cerca de um terço tem declinado, nalguns casos em proporções gigantescas, superiores a 90%”. “O caso de uma espécie de abelhões que nos anos 1970 e início dos anos 1980 era comum no Ontário do Sul, mas da qual só avistou dois espécimes nos últimos 10 anos! E não por falta de os ter procurado, tanto no Canadá como nos EUA”, mencionou, ainda.
Uma solução radical que a equipa sugere para tentar lidar com este problema consistiria em operar uma “migração assistida”, deslocando artificialmente populações de abelhões para novas áreas onde poderiam persistir. Esta ideia, que tem vindo a ser proposta por especialistas da conservação ao longo da última década, ainda é controversa. Mas poderá vir a ganhar apoio, lê-se num dos comunicados. “Os polinizadores são vitais para a alimentação e a economia”, diz ainda Kerr. “Por isso, precisamos de encontrar maneiras de melhorar o futuro destes insectos à escala continental. Mas a coisa mais importante que podemos fazer é começar a tomar medidas sérias para reduzir o ritmo das alterações climáticas”.