Opinião: “Valorizar a Água para um futuro ambientalmente responsável: O papel da Educação Ambiental e do diálogo”

Por Sara Duarte, Águas do Tejo Atlântico e Rafael Correia, Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA)*

No Dia Mundial da Água, celebrado anualmente a 22 de março, é crucial refletirmos sobre o valor deste bem essencial à vida e a necessidade urgente da implementação de uma correta gestão dos recursos hídricos. Em 2024 este dia adquire um significado especial, centrando-se nos benefícios da gestão da água como um instrumento para a prosperidade e paz.

A Água é um bem vital que se torna cada vez mais escasso, o que apresenta desafios para a paz dentro de uma nação e também entre países. Fortalecer a cooperação entre comunidades e países, prevenindo conflitos, torna-se por isso fundamental para a construção de um futuro ambientalmente responsável e socialmente justo. Com as consequências da globalização a serem cada vez mais colocadas em causa, o diálogo entre todos mantém-se peça fundamental para garantir a continuidade de recursos que não têm fronteiras.

A preservação do recurso água e a sua gestão é um dos grandes desafios da atualidade, de forma a salvaguardar a equidade entre gerações. Tal deve estar assente num modelo de desenvolvimento humano capaz de responder aos desafios das sociedades atuais. É aqui, que a Educação Ambiental tem um papel fundamental para que o planeta seja capaz de suportar os impactos ambientais e climáticos, pois exige uma visão abrangente, transversal e participativa. Mas não só… permite, ainda, a construção de um diálogo informado, um debate de ideias assente em factos e a construção de um consenso que poderá proteger a água de uma forma mais eficaz.

Se o Planeta é só um e a água é um bem de todos nós, faz sentido promover sinergias entre as organizações com objetivos pedagógicos que são comuns e transversais a todas as entidades com preocupações ambientais: sensibilizar para um ambiente saudável, para uma maior eficiência hídrica e respetivos recursos despoluídos. Só com transmissão e partilha de conhecimento, é possível criar ações que tenham consequências reais e de melhoria. A ação desprovida de diálogo limita o campo de ação e o seu impacto, ao mesmo tempo que não
permite a disseminação das boas práticas.

As entidades gestoras de água e saneamento, como é o caso da Águas do Tejo Atlântico, assumem um papel na gestão ambientalmente responsável do ciclo urbano da água, na redução da poluição e consequentemente na melhoria da qualidade da água e na preservação dos recursos hídricos. Promovendo a circularidade da água, estas têm também um papel preponderante no apoio e reconhecimento de projetos de Educação Ambiental e de iniciativas socioambientais, no âmbito das suas políticas comprometidas com a responsabilidade social e
ambiental.

Através de parcerias e da cooperação com Organizações Não Governamentais de Ambiente (ONGA) e instituições que desenvolvem Projetos de Educação Ambiental, alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e a Estratégia Nacional para a Educação Ambiental (ENEA 2020), tem sido possível o desenvolvimento de projetos com um maior alcance e qualidade, otimizando os recursos disponíveis e a partilha de informação. Projetos de ciência cidadã, como o Projeto Rios ou o Coastwatch, que envolvem a participação
ativa dos cidadãos na recolha de dados e na monitorização da qualidade da água, seja ela de rios e ribeiras, ou costeira, são excelentes exemplos de como é possível aumentar o conhecimento sobre os recursos hídricos e promover ações eficazes ao nível da sua conservação.

No caso do Projeto Rios, cuja campanha de monitorização de Primavera inicia-se a 25 de março, já foi possível envolver mais de 50 mil pessoas em atividades, assim como adotar mais de 500 troços de rio/ribeira em mais de 140 municípios.

Através da criação de redes de voluntários e grupos locais em várias regiões que este tipo de projetos envolve, a partilha de conhecimentos e experiências é facilitada, bem como a implementação de práticas de gestão ambientalmente responsável dos recursos hídricos em diferentes áreas.

São inúmeras as iniciativas como esta, que através da promoção a integração dos princípios da Educação Ambiental, participação pública ou voluntariado ambiental, contribuem para uma correta gestão dos recursos hídricos e para uma sociedade resiliente e um planeta ecologicamente saudável.

É, por isso, fundamental continuar a desenvolver um trabalho conjunto ao nível da educação e sensibilização, promovendo valores e mudança de atitudes, para a adoção de comportamentos que reflitam uma valorização e utilização racional deste recurso tão escasso e essencial à vida.

Estes projetos, também com uma componente de ciência cidadã, podem promover a conscientização, a mobilização da sociedade civil e a implementação de ações eficazes para proteger e conservar a água.

O papel da educação nas escolas não deve ser menosprezado. O sistema educativo continua a ser um espaço privilegiado para promover uma Educação Ambiental crítica e inclusiva. Atividades que associações como a ASPEA desenvolvem sobre ecossistemas ribeirinhos ou sobre o oceano possibilitam despoletar a curiosidade, assim como educar sobre o que pode ser feito por cada um de forma a promover a proteção destes ecossistemas.

Numa era em que a ansiedade ambiental afeta cada vez mais crianças e jovens, importa dar ferramentas aos mais novos para conseguirem alterar o futuro, de forma a tornarmo-nos numa sociedade comprometida com a vida no planeta.

Educar para a valorização da água desde cedo é essencial para formar cidadãos conscientes e responsáveis por este bem essencial à vida. É hora de compromissos individuais e de ação coletiva para garantir um futuro onde a água seja valorizada e acessível a todos!

*Artigo de Opinião escrito numa parceria entre a Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA) e a Águas do Tejo Atlântico