Por Marta Jordão, Diretora comercial na Helexia Portugal
Sou apaixonada pela indústria – sempre fui. A minha jornada profissional começou com a realização de auditorias energéticas, o que me proporcionou um contato muito próximo com diversas indústrias e uma visão aprofundada da realidade, desde a indústria terrestre como a indústria naval.
O que sempre me fascinou foi o processo de transformação da matéria-prima em produtos acabados. Hoje, ao visitar uma fábrica – privilégio que tenho com frequência – gosto de testemunhar a interação entre pessoas, robótica e digitalização, elementos que permitem a automação de processos repetitivos e a otimização da produção.
Ser industrial em Portugal é um desafio. Temos um mercado interno pequeno e periférico, o que significa que a competitividade é essencial. Os produtos têm de ter qualidade e ser capazes de disputar mercado com os melhores. E felizmente, há muitos bons exemplos por todo o país, da cerâmica à metalomecânica, passando pelo têxtil e tantas outras indústrias.
Além dos desafios habituais, há um outro, global e inadiável: a construção de um novo modelo económico. O crescimento dos últimos 50 anos foi impulsionado por combustíveis fósseis, mas essa realidade tem de mudar. Em paralelo, questões sociais, éticas e de governance ganham cada vez mais relevância e tornaram-se critérios obrigatórios para aceder a capital financeiro.
Mas estes desafios são também uma grande oportunidade. Hoje, os industriais dispõem de ferramentas que lhes permitem descarbonizar as suas operações e reduzir o impacto ambiental. A produção local de energia renovável, como o autoconsumo solar, é uma possibilidade que outras gerações de industriais não tiveram. A digitalização, por sua vez, permite gerir melhor o consumo energético, identificar desperdícios e implementar medidas de eficiência que reduzem custos e aumentam a produtividade.
Esta transformação não deve ser vista como um custo concorrente com a atividade core da empresa. Pelo contrário, há modelos de financiamento que eliminam a necessidade de investimento inicial por parte das empresas. As empresas de serviços energéticos não só desenvolvem os projetos, como os financiam e operam, garantindo rácios de produção elevados para recuperar o investimento.
Ao seguir este caminho, a indústria portuguesa não só se adapta às exigências do futuro, como constrói uma nova cultura: uma cultura voltada para os desafios do presente e as oportunidades de um amanhã mais sustentável.