#Opinião: “Temos mesmo de mudar de hábitos? A adaptação necessária para um consumo sustentável de energia”

Por: João Amaral, Chief Technology Officer & Country Manager Portugal Voltalia

A questão das alterações climáticas e a necessidade de uma transição energética sustentável têm levado a discussões importantes sobre como podemos, enquanto sociedade, reduzir a nossa pegada ambiental. Uma parte decisiva dessa transição envolve não apenas a mudança na produção de energia, com um maior foco em fontes renováveis, mas também uma adaptação nos hábitos de consumo das famílias. Surge então a pergunta: temos mesmo de mudar de hábitos? A resposta é, necessariamente, sim. E, para isso, é fundamental perceber como e qual a razão dessa mudança ser tão necessária.

As fontes de energia renovável, como a solar, a hídrica ou a eólica, são fundamentais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. No entanto, estas fontes são sazonais, o que significa que, em vez de termos uma produção constante e previsível de energia, estamos a lidar com uma produção que pode (e vai) variar ao longo do dia e das estações do ano. É normal que assim seja, tal como é normal ter dias mais quentes no verão e mais frios no inverno e vamo-nos preparando para tal, a começar no que vestimos.

Para maximizar o uso deste tipo de energia e minimizar a dependência de fontes fósseis, é fundamental que os consumidores ajustem os seus hábitos para coincidir com os períodos de maior disponibilidade de energia renovável. Isso requer uma mudança de mentalidade e uma adaptação no modo como utilizamos a eletricidade na nossa vida quotidiana.

Um exemplo de como podemos facilitar esta adaptação é o papel dos comercializadores de energia que podem enviar sugestões de consumo para o dia seguinte. A utilização de dados meteorológicos e de produção de energia para prever quando haverá uma maior disponibilidade de renováveis é uma forma de sensibilizar os clientes sobre os melhores horários para consumir eletricidade. Estamos habituados a olhar para a previsão do tempo para saber o que vamos vestir e podemos fazer o mesmo para o nosso consumo de eletricidade.

Estas sugestões podem indicar quais os melhores horários para carregar os veículos elétricos, para o funcionamento dos eletrodomésticos de elevado consumo, como máquinas de lavar e secar, e até mesmo ajustar sistemas de aquecimento e refrigeração. Ao seguir essas recomendações, o consumidor estará a poupar nas suas contas de eletricidade, aproveitando tarifas mais baixas durante períodos de alta disponibilidade de renováveis, além de contribuir para um sistema energético mais equilibrado e sustentável.

Adotar novos hábitos de consumo de energia pode parecer um desafio, mas é uma necessidade para fazermos face às alterações climáticas. Além de seguir as sugestões de consumo, há várias outras formas de adaptarmos os nossos comportamentos, tais como o investimento em dispositivos inteligentes que podem ser programados para operar em horários específicos ou comandados à distância. Termostatos inteligentes, tomadas programáveis e sistemas de gestão de energia doméstica são exemplos de tecnologias que podem ajudar, e é possível comprar várias opções por menos de 10 euros.

Além disso, os Governos podem apoiar as famílias nesta transição, criando incentivos financeiros para a adoção de tecnologias inteligentes, bem como implementando políticas que promovam o uso de energia renovável e a eficiência energética.

A transição para um consumo energético mais sustentável é uma necessidade urgente e inevitável. A variabilidade das fontes de energia renovável exige que adaptemos os nossos hábitos de consumo para maximizar sua utilização.

Ao alterarmos os nossos hábitos de consumo de energia estamos a contribuir para uma economia mais rica, assegurando um futuro sustentável. Ao alinhar esforços entre consumidores, empresas e governos, podemos fazer esta transição de forma tranquila e eficaz, contribuindo para o alívio das alterações climáticas e para a preservação do meio ambiente para as gerações futuras.