A celebração do Dia Mundial do Ambiente (5 de junho) é um apelo renovado à urgência e necessidade de reconciliação da espécie humana com a natureza, da qual fazemos parte. Durante décadas o deslumbramento resultante do engenho humano, da inteligência e capacidade transformativa que nos trouxe, num ápice, da pré-história até às viagens interplanetárias, não nos permitiu perceber que, pelo caminho, estivemos também a degradar recursos e capacidades que a natureza nos disponibiliza neste pequeno e fabuloso planeta.
O “desenvolvimento” foi tanto e a um ritmo tão alucinante que durante algum tempo não nos permitiu perceber a finitude do planeta e a necessidade de conformidade com os seus limites. E assim chegámos a este tempo crítico, da história humana, e do planeta que se caracteriza por uma vulnerabilidade extrema e uma complexidade imensurável de desafios globais associados às alterações climáticas, à crise da biodiversidade, à degradação ambiental geral, com resultados e impactos tremendos sobre a natureza, mas também sobre a economia e, consequentemente, as pessoas, sejam elas quem forem ou estejam elas onde estiverem.
A cada dia que passa consolida-se o conhecimento e a constatação da dependência entre a qualidade do ambiente e a qualidade de vida e progresso das pessoas. O desafio é enorme, vital e urgente, exigindo uma mudança de paradigma e ações concretas. Não existem fórmulas ou soluções imediatas a que se possa deitar a mão e suscitar essa transformação do modo como estamos e interagimos com o planeta e com a natureza e biodiversidade em particular. Precisamos de evidências, sinais de motivação, exemplos demonstradores de que é possível e viável o desenvolvimento sem que o mesmo aconteça à custa da degradação geral do ambiente. As reservas da Biosfera da UNESCO, por definição, constituem-se como laboratórios vivos de sustentabilidade, em territórios onde a natureza e as pessoas não se contradizem. Detentores de uma biodiversidade e ecossistemas que disponibilizam recursos tangíveis e intangíveis a populações com uma identidade, história, património e cultura própria à natureza, nas reservas da biosfera, procura-se quotidianamente formas de reforçar a conservação da natureza e de gestão sustentável dos recursos naturais e culturais. Não se trata apenas de iniciativas individualizadas de investigação ou de gestão. O diálogo e envolvimento dos diferentes atores locais, é a ferramenta mais importante das reservas da biosfera, na concertação permanente, procurando e partilhando soluções para os desafios da sustentabilidade natural e social nestes territórios.
Ao longo dos cinquenta anos do programa “O Homem e a Biosfera da UNESCO”, as reservas da biosfera têm demonstrado que a dicotomia ou antagonismo entre ambiente e desenvolvimento não só não existe como é uma aberração inaceitável. As reservas da biosfera celebram a vida, precisamente assumindo que a conservação da natureza e biodiversidade e a qualidade ambiental são um pilar fundamental para o desenvolvimento socioeconómico. Nas reservas da biosfera, celebra-se, todos os dias, o ambiente, a natureza, as pessoas, os problemas, as dificuldades e todos os desafios globais e locais. E essa celebração, não é uma garantia. É um compromisso com o futuro.
[blockquote style=”3″]Para assinalar o Dia Mundial do Ambiente, desafiamos António Abreu para partilhar o seu testemunho sobre a importância das Reservas da Biosfera. Para além de biólogo, António Abreu é investigador da Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Coimbra[/blockquote]