Por Nuno Inácio, diretor Regional de Ride-hailing da Bolt para a Europa do Sul
Há praticamente uma década que outubro é celebrado, por declaração das Nações Unidas, enquanto mês “urbano”. O dia 31 coincide também com o Dia Mundial das Cidades e, para celebrar esta data, o observatório global desta iniciativa irá debruçar-se sobre o tema “Financiar um futuro urbano sustentável para todos”. Quanto vale mesmo esta aposta?
O World Wide Fund for Nature (WWF) reportava já em 2015 que as grandes cidades perfazem “50% da população mundial, geram cerca de 80% da produção económica mundial e são responsáveis por 70% dos gases com efeito de estufa”; os prognósticos até 2050 também não estão deixados para depois do jogo: a estimativa é que a população que reside nas metrópoles perfaça três quartos da espécie humana. Aquando de abril deste ano, de acordo com o World Bank, somos já mais de 4.4 mil milhões de urbanitas.
Assim, se o nosso futuro passa pelas cidades e se faz sentido planearmos o nosso futuro, fica exposta a importância vital de planear o modo como organizamos as nossas cidades a médio e longo prazo. Sobretudo ao nível de infraestruturas, podemos olhar para uma cidade enquanto um corpo humano – que, sem um sistema circulatório eficiente e otimizado, não consegue distribuir adequadamente o que o organismo necessita.
Acho que há aqui um paralelismo interessante a considerar com as infraestruturas de transportes e, sobretudo, as que priorizam transportes públicos e formas de mobilidade partilhada. Enquanto esperamos a adoção massificada de veículos elétricos podemos começar por apelar ao gradual abandono do veículo próprio: é inevitável a necessidade de apoios aos cidadãos para adotar meios de transporte partilhados; é necessário um enfoque na melhoria – em quantidade e qualidade – dos transportes públicos; que seja dada prioridade à instauração de faixas próprias para que transportes privados de passageiros consigam coabitar, ao mesmo tempo que se requalificam as nossas estradas; e, por fim, expandamos as ciclovias para lugares mais remotos e isolados dentro das urbes, para que, numa visão utilitarista, consigam realmente servir a população que nela habita e que recorre ao carro próprio para se deslocar diariamente. Sem opções, a opção é devolvida ao que nos é mais cómodo.
Por outro lado, um corpo saudável precisa de respirar; no meio de paisagens comumente acinzentadas, para complementar o combate à redução de tráfego rodoviário e de altas emissões por particulares, nada mais oportuno do que apostar em jardins e espaços verdes para o combate à poluição, podendo ser aproveitados também para uma instauração mais generalizada de parques adequados para números crescentes de veículos de micromobilidade, que tanta falta fazem. Não seria um bom ponto de partida pegar nos parques de estacionamento massivos que tanto espaço ocupam, para começar esta evolução verde?
São metas e desejos ambiciosos, não contesto isso. No entanto, com o tempo a escassear no caminho rumo aos objetivos de sustentabilidade definidos no Acordo de Paris, o mote a adotar tem que ser planear e atuar. Um grande escopo que, a meu ver, tem que ser repartido em partes mil por todo e cada município – este tem que ser um esforço local para cortarmos uma meta global. Equipados com esta mentalidade, poderemos então desbloquear a verdadeira importância e necessidade deste investimento nas nossas cidades.