Por: Nelson Lage, Presidente da ADENE – Agência para a Energia
A sustentabilidade, a descarbonização e a eficiência energética, assentes nos critérios Environmental, Social e Governance (ESG) já fazem parte do universo da construção e do imobiliário. Hoje, investidores, construtores e proprietários, reconhecem as vantagens e benefícios da construção sustentável, que é uma cada vez maior exigência dos cidadãos. Investir verde é garantir o futuro do planeta e o bem estar dos consumidores.
A ADENE, ao realizar a 1ª Conferência “Pensar a energia”, intitulada “Os Edifícios do Futuro na Transição Energética e Ação Climática”, pretendeu lançar uma discussão sobre o futuro dos edifícios e os desafios e exigências da nova legislação, reunindo os principais atores do setor da construção e do imobiliário.
A União Europeia tem vindo a apresentar importantes instrumentos legislativos que visam a melhoria da eficiência energética nos edifícios, e no contexto do Fit for 55, um dos objetivos da Comissão Europeia foi a revisão da Diretiva para o Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD), em que propõe transitar do conceito NZEB (Nearly Zero Energy Building) para o conceito dos edifícios ZEB (Zero Energy Building) ou seja, de quase zero, a zero e mudando o foco da energia para a descarbonização.
No imediato, o futuro passa, pelos edifícios NZEB, mas a médio prazo a União Europeia quer ir ainda mais longe e passar dos edifícios NZEB para os ZEB, o que marca uma mudança de foco da energia para as emissões de CO2. Como facilmente se percebe, a nova Diretiva sobre o Desempenho Energético de Edifícios representa um ponto de viragem na sustentabilidade e apresenta novas medidas que contemplam, além da eficiência energética, a eficiência hídrica dos edifícios, trazendo para a discussão a importância do Nexus água-energia.
Outra das medidas prioritária na nova EPBD é o incremento da Economia Circular, um conceito que assenta na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia. A ADENE, com o objetivo de ajudar o setor da construção, desenvolveu uma classificação em Economia Circular, que deverá ser conhecida publicamente muito em breve, em que através de um certificado irá confirmar o nível de empenho das empresas e dos seus projetos na Economia Circular.
A Europa vive um período de transição energética em que o setor da construção é determinante nesta mudança, já que é responsável por cerca de 30% do consumo global de energia e das emissões associadas. No espaço geográfico da União Europeia, o consumo energético dos edifícios é uma das principais preocupações ambientais, sendo responsáveis por cerca de 40% do consumo de energia e 35% das emissões de GEE. Deste total, mais de 50% da energia é consumida nos sistemas de aquecimento/arrefecimento.
Assim, e de modo a cumprir com as obrigações do Acordo de Paris, é necessária uma mudança radical para que em 2030 todos os novos edifícios possuam neutralidade carbónica, e em 2050 a totalidade dos edifícios seja neutro em carbono.
Este é um desafio gigantesco para o setor da construção que terá de saber responder às imposições legislativas, mas também às reivindicações dos cidadãos que exigem que os edifícios novos e os edifícios reabilitados cumpram todos os requisitos de desempenho energético.
Muitos dizem que a construção verde encare o valor dos edifícios, mas a verdade, é que há retornos a médio e longo prazo, que desmentem este pessimismo. Uma casa sustentável atrai cidadãos ambientalmente conscientes e que estão dispostos a pagar, no imediato, soluções mais amigas do ambiente.
Também a nível do emprego a construção verde traz enormes benefícios. Estudos efetuados na União Europeia sobre o impacto social relacionado com a eficiência energética, indicam que atualmente cerca de 90 mil pessoas já trabalham no sector e, até 2025, deverão entrar mais 50 mil pessoas.
*Este artigo foi incluído na edição 99 da Ambiente Magazine