Por: Filipa Oliveira, Sandrina Tralhão e Vanessa Biel, LEAP Consulting
Coordenadas ESG precisam-se!
“Alice perguntou: Gato Cheshire… pode dizer-me qual o caminho que eu devo tomar?
Isso depende muito do lugar para onde quer ir – disse o Gato.
Eu não sei para onde ir! – disse Alice.
Se não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.” (Alice no País das Maravilhas)
No cenário global, onde as questões ambientais, sociais e de governança (ESG) ganham progressivamente mais pertinência e relevância, sai reforçada a importância de as empresas, antes de porem os pés ao caminho, rumo à sustentabilidade, saberem para onde querem ir.
Materialidade para “totós”
Não esquecendo que o caminho se faz caminhando, caminho, este, tantas vezes sentido como uma maratona, logo na linha de partida encontramos a Dupla Materialidade.
Neste momento, auscultam-se todos os stakeholders, de forma a perceber quais as questões ESG que estes identificam como mais relevantes para si e para o negócio.
Este olhar para “dentro” pelos vários agentes de atuação, contempla a análise integrada dos impactos financeiros e não financeiros, decorrentes da atividade da empresa, e de forma subjacente, a avaliação de riscos e oportunidades.
Se, tradicionalmente, o conceito de materialidade está associado à relevância de determinados assuntos para as demonstrações financeiras de uma empresa, ou seja, aquilo que pode impactar diretamente o seu resultado financeiro, a Dupla Materialidade, no contexto ESG, amplia essa visão ao considerar, também, os impactos que a empresa exerce sobre o meio ambiente e a sociedade.
No final deste processo, conseguiremos, de forma segura, sustentar a reflexão sobre qual o caminho que a empresa pretende seguir.
Tudo vale a pena…
O processo de Dupla Materialidade não deve, então, ser feito apenas como resposta a requisitos legais, como a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD), deve ser visto e assumido como um ponto de viragem na cultura organizacional da empresa que vai permitir aos decisores de topo (re)colher múltiplos benefícios. Vejamos:
- Convidar os stakeholders para o diálogo e para o processo de decisão, fortalece as relações e troca de sinergias, gerando confiança e fidelidade.
- Avaliar riscos e oportunidades, identifica, por um lado, os principais impactos que poderão afetar o desempenho financeiro, reputação e sustentabilidade a longo prazo da empresa, bem como, por outro, novas formas de Estar e Fazer que resultem quer na melhoria de desempenho, quer no crescimento financeiro.
- Definir as linhas de atuação guia para o futuro da empresa, permite a melhor alocação de recursos e a priorização de ações nas áreas mais críticas da empresa e partes interessadas, tornando-a mais sustentável e diferenciada face aos concorrentes.
To be or not to be Sustentável…
Muito embora os benefícios para as empresas sejam claros, implementar um processo de Dupla Materialidade é uma tarefa manifestamente desafiante. Envolve o mapeamento de stakeholders, a recolha e análise de dados complexos, definição de indicadores relevantes, capacitação e, por fim, mas não menos importante, a integração da estratégia de sustentabilidade na cultura da organização.
A Dupla Materialidade não é, apenas, uma tendência; é uma necessidade que deságua na assunção deste novo paradigma de as expectativas sobre o papel das empresas irem muito além do lucro.
Ao considerar tanto os impactos financeiros, quanto os não financeiros nas suas operações, as empresas posicionam-se como agentes de transformação, em prol de um futuro mais sustentável e inclusivo.
Alavancar a Gestão ESG é estar na vanguarda do desenvolvimento de uma comunidade sustentável e justa, também, para as gerações vindouras.
Tic Tac! O futuro é já hoje!
Resumo: Urge explicar às empresas que estão sujeitas a obrigações em matéria de sustentabilidade e descomplicar o respetivo processo de implementação.
[Este é o 1.º artigo de um roadmap rumo à sustentabilidade]