Por Antonio Flores, CEO da Loop New Business Models
A transição ecológica é um dos grandes desafios que enfrentamos nesta primeira metade do século XXI. Em Espanha, a criação de um ministério com este nome foi a última prova de que a sociedade, o governo e a empresa devem incorporar no seu dia-a-dia a sustentabilidade ambiental, não somente entendida desde um ponto de vista verde mas adaptada à situação de maturidade dos mercados bidirecionais. Como desenvolver modelos de negócio que impulsionem a transição ecológica? De que forma a transição ecológica está a desenvolver novos modelos de negócio?
Hoje, a sustentabilidade e a ecologia estão cada vez mais presentes na mente dos consumidores. Claro que existe uma diferença entre um consumidor altamente mobilizado social e politicamente por todos os aspetos da sustentabilidade, mas esta já impactou também os consumidores de hábitos convencionais, que vêem na sustentabilidade e na ecologia bons hábitos de consumo e uma melhor qualidade a preços cada vez mais próximos ao convencional.
É a evolução desta barreira sobre “o convencional do ecológico” (inclusivo) e não “o extraordinário do ecológico” (exclusivo), o que permite cada vez mais novos modelos de negócio e especialmente a entrada de novas categorias no consumo sustentável e ecológico: Alguém se deu conta de que o primeiro produto bio é a água engarrafada? Alguém compraria para os seus filhos um leite “convencional” se o ecológico estiver muito próximo em preço? E fatias de fiambre cozido? É o deslocar desta fronteira o que “levanta” um manto de novas oportunidades de negócio (acabámos de ver no verão de 2018 o boom dos leites frescos e ecológicos que introduziram os retalhistas, apanhando de surpresa todo o sector lácteo).
Neste aspeto, Espanha e o seu grande consumo está muito bem posicionado, encontrando-se perante uma oportunidade enorme; os produtores de frutas e verduras assim o entenderam, liderando o setor a nível europeu. Sobre o desenvolvimento de modelos de negócio que impulsionem a transição ecológica, há que ser muito mais pragmático, já que os consumidores convencionais não estão dispostos a fazer algo que seja incómodo ou lhes pareça que dão um passo atrás pelo facto de ser sustentável ou ecológico. A dificuldade está em introduzir modelos de negócio com vantagens sobre os atuais, que contemplem os aspetos sustentáveis e eco (exceto que se legisle penalizando os hábitos sustentáveis). Aspetos como potenciar o consumo de proximidade, o super fresco, sem conservar/pasteurizar, os granéis, ou os modelos de subscrição, são âncoras ou ganchos de mercado que podem permiti-lo.
Há que recordar que na maioria dos mercados, e mesmo em Portugal, quando os preços de aquisição se aproximam, os consumidores costumam adiantar-se à indústria: que o digam os fabricantes de automóveis de motor de combustão que perante o eléctrico, pese as suas muitas previsões de introdução, viram-se surpreendidos pelo aumento substancial das vendas da concorrência.